É O DESEJO

Eu e Julio estávamos sempre juntos, não importava a ocasião, éramos um. Quando estava com ele não me importava com nada nem ninguém, ele bastava. E então eu conheci Lucas.

Seus cabelos eram negros e cacheados, seus olhos azuis escondiam sua timidez. Ele era tão lindo que olhar para ele me acalmava, era como descansar a alma, perdida naquele brilho.

Não demorou para eu notar quantas coisas tínhamos em comum. Desde a paixão por esportes até o bom gosto para musica.

Um dia eu ia caminhando apressada pela rua, quando ele buzinou oferecendo-me carona. O Sol já estava se pondo e eu não pude deixar de notar o quão maravilhoso eram aqueles olhos quando expostos á luz crepuscular. Passamos a primeira tarde juntos.

Nossos encontros estavam cada vez mais freqüentes.

Certa vez, chegando em casa, encontrei Julio segurando um buquê de rosas vermelhas. Abri um sorriso e o agradeci, mas quando pedi para ver o cartão ele não deixou. Apesar de achar aquela atitude estranha e um tanto imprevisível, achei melhor não questionar, seus motivos não me interessavam.

Fazia muito tempo que Julio não era mais o mesmo. Voltava tarde para casa e quase nunca jantávamos juntos. Para mim, isso não fazia diferença. Tinha meses que não conseguia encará-lo.

Na semana do aniversário de Julio, fui jantar com Lucas e perdi a hora da festa surpresa que seus amigos haviam planejado. Quando cheguei, todos já tinham ido embora e ele estava dormindo no sofá. Eu ia acordá-lo para me desculpar quando o celular dele tocou. Pensei em não atender, mas o celular tocou novamente. Era uma voz de mulher, que desligou ao ouvir minha voz.

Não consegui dormir aquela noite. Por que aquela mulher desligaria o telefone? Quem era ela?

Na manhã seguinte, quando acordei, vi Julio mexendo no celular, ele estava pálido. Me olhou fundo nos olhos e começou a chorar. Estremeci.

Colocando a mão em meu ombro, ele tentou falar, mas não conseguiu. Abaixou a cabeça e foi para o quarto.

Liguei para Lucas e cancelei nosso passeio. Não conseguia mais pensar em sair.

Talvez Julio estivesse fazendo comigo o mesmo que eu estava fazendo com ele, mas dentro do meu contexto, eu estava certa.

Estava chovendo e nada naquele dia fazia sentido.

Do espelho da sala eu conseguia enxergá-lo sentado na cama, Julio parecia atordoado. Eu nunca saberei o que ele estava pensando naquele momento. De repente ele se levantou, olhou em volta e saiu. Por algum motivo eu não conseguia me mover, as lágrimas caíam involuntariamente.

Então, caminhando até o quarto encontrei o buquê de rosas vermelhas que Julio havia me dado semanas atrás e lá estava o cartão. O cartão era de Lucas.

Fernanda Cheschini
Enviado por Fernanda Cheschini em 18/12/2009
Reeditado em 18/12/2009
Código do texto: T1983704