UM VULCÃO PRESTES A EXPLODIR. (LICIA FALCÃO)

Naquela manhã, acordara diferente. Estava lépida, inquieta e meio incontida. Antes de languescer, resolvi não me deter naquele casarão, que me parecia ínfimo para tantas emoções. Trajei-me corretamente para quem ia enfrentar um sol a pino e parti para a praia que ficava a duas quadras da casa.

Sinto um pavor indizível, ao entrar na água, mas queria apenas deslizar por sobre aquele estrado movediço de areia quente, à procura de algo misterioso.

Até então não sabia o que sentia. Meus olhos,não tinham sossego. Passavam por revista todo o cenário que a eles fosse possível.

Investigava aquele sentimento, nada óbvio e totalmente inescrutável. O quê eu estava prevendo?

Há alguns meses atrás, na casa do meu amigo, numa dessas festinhas enfadonhas de aniversário de crianças, havia conhecido um homem. Cumprimentei-o formalmente, mas algo nele me chamou a atenção: seus olhos. Negros e dos mais comuns, eles eram fortes e gritavam seus anseios, seus desejos, sua determinação, sua ternura infinda.

O tempo passou e nunca mais o tinha visto. Esporadicamente, ao deitar, perdia o sono pensando naqueles olhos. O quê realmente queriam dizer?

Na praia, eu andava na areia fofa e cada pegada que via me sugeria uma marca por onde iria voltar, de modo diferente.

Parei. Quis sentir o vento bater no meu rosto, desalinhar meus cabelos e quase arrancar minhas vestes. Sentei-me, após forrar cuidadosamente a canga, na intenção de descansar um pouco.

A sombra do coqueiro, a brisa serena e o barulho das ondas batendo na praia, me fizeram cochilar.

Quando acordei, o sol já dourava o céu e saudoso escondia-se por detrás da montanha. Resolvi voltar para casa.

Foi então que tudo começou.

Após recolher meus pertences para retornar à casa, ao levantar minha cabeça, vi que alguém estava em pé à minha frente. Estremeci por inteiro. Minhas pernas mal conseguiam firmar meu corpo, mas eu não sentia medo, mas sim um frenesi onde meus hormônios fervilhavam descontroladamente e minhas vísceras tinham convulsões.

Mas, ... o quê é isso?........

Meus olhos foram subindo vagarosamente pelo corpo do homem, até que chegaram aos seus olhos.

Que olhar incrível! Ele não precisou me falar nada. Sabia tudo o que ele desejava de mim.

Ia ficando desconcertada, mas aquele olhar era tão forte, que me mantinha estática, "agarrada" aos olhos dele.

Adorava ler o que me dizia. Há tanto tempo esperava ouvir essa canção!

Esforçava-me para desvencilhar-me , mas era tudo em vão. Comecei então a devanear e a balbuciar palavras aos seus ouvidos, porém os olhos dele me falavam: Calma querida,! Ainda não chegou o momento! Ele chegará! Aguarde o tempo certo! Passaram-se alguns minutos em que ficamos naquele estado divagante.

De súbito, lancei-me em seus braços. Aconcheguei-me ao seu corpo. Trocamos carícias. Então, provei seus lábios, saboreei seus beijos e senti seu corpo como um vulcão derramando suas lavas. Subi às nuvens, voei pelo universo e acordei agarrada a ele, na praia, quando o sol voltou e nos despertou.

Licia Falcão Rodrigues da Silva.

Licia Falcão
Enviado por Licia Falcão em 13/12/2009
Código do texto: T1975200
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