DOCE SEDUÇÃO
Naquela noite a Iara emergiu das águas profundas do rio Tapajós.
Tinha a pele branca como o crepúsculo matutino, os olhos , duas esmeraldas e os cabelos luminosos desciam em longas cascatas de ouro .
O céu salpicado de estrelas com a lua no seu estágio crescente iluminava as águas dando uma tonalidade prateada completava aquela noite mística.
Avistou ao longe um navio . Foi ao encontro. Aproximando-se ficou a uma certa distância e começou a segui-lo.
Havia se passado alguns minutos ela parou e começou a cantar. Entoava um cantar triste e falava da sua solidão , da procura pelo seu amado.
O farol do navio acendia às vezes para verificar se estava na rota certa, comprovada a certeza apagava- se.
Um vento forte denunciou o encontro do rio Tapajós com o rio Amazonas tornando as águas mais agitadas.
Envolvida em cantar sua tristeza, percebera tarde demais que os faróis a iluminaram descobrindo-a em toda a sua formosura.
No navio dentre tantos passageiros havia um jovem. Ele que no último instante em que o navio já tirava as amarras para partir chegou, correndo e com um salto subiu no convés.
Era branco, estatura mediana de corpo atlético, trajava roupas simples.
Ficou a estibordo olhando a maresia e as espumas que as águas faziam enquanto o navio cortava o leito do rio.
Num dado momento ouviu o som de uma canção melodiosa e tão triste.
Ficou atento a música pois, devido o vento tornava-se ora nítida ora distante.
Naquele instante em que os faróis a iluminaram ele a avistou e teve certeza de que a melodia que ouvira e que o trouxera a amurada do navio vinha do lugar em que ela se encontrava.
Apartir daquele instante não mais a perdeu de vista.
Por um momento ela mergulhou ,ele apreensivo olhava em todas as direções procurando-a pensou que a tinha perdido, porém logo ela ressurgiu com toda a sua beleza.
Seu coração palpitou mais forte quando apareceu mais perto dele.
Olharam-se , embevecidos por aquele encanto .
A noite cada vez mais cobria com o seu véu .Os passageiros já dormiam a sono solto apenas ele continuava ali .O tempo ia passando e ela o seguindo .
Ele estava enfeitiçado envolvido pelo canto melodioso que ela cantava.
Então começou a chama-la para que viesse até ele. Implorava que subisse no navio .Porém ela apenas mergulhava e emergia num bailado.
Num dado momento ela desaparece ele a procura desesperadamente ficando a olhar por todos os lados e não a encontra . Tomado por uma grande tristeza anda pelas amuradas verificando se ela não teria ido para o outro lado constata desiludido que não está.
Volta ao lugar onde a viu pela última vez e fica a olhar as espumas das águas deixadas pelo navio na esperança de vê- la emergir.
Depois de muito tempo seus olhos já cansados de tanto fitar as águas se fecham enquanto algumas lágrimas deslizam suavemente pelo seu rosto.
Alguém toca suas mãos e abrindo os olhos para ver quem é , fica estupefacto. Diante dele está uma linda mulher de cabelos dourados brilhando á luz da lua seus olhos como esmeraldas. Pensou . Quem será?
_Você chamou-me estou aqui .
_ Mas ,é inacreditável tu és mais linda aqui perto de mim. Eu não acredito que saíste das águas.
Então ela cantou e ele teve a certeza .
_Pensei que nunca mais iria vê-la. A apertava em seus braços e a beijava.
_Vamos ao meu camarote- disse pegando sua mão e a levando com medo de que alguém a visse.
Fechando o camarote a olhou tão apaixonadamente falou _ tu me enfeitiçaste minha Iara e eu vou aonde quiseres, meu coração te quer intensamente.
Ela olhou-o sorrindo e o abraçou .
Seus corpos foram tomados por volúpias de paixão e desejo ,suas bocas ávidas de beijos possuídos pelo êxtase total.
Ele a viu adormecer ao seu lado tão candidamente inteiramente sua .
Adormece abraçando-a .
Acorda quando um dos tripulantes toca seu ombro e diz
_ Chegamos em Oriximiná o senhor não vai desembarcar?
Abre os olhos está na amurada do navio.
Ficou totalmente desesperado, confuso sem saber o que fazer como poderia estar ali?
Procurou em todos os lugares se encontrava a moça que estivera com ele mas, ninguém sabia dela. nem a viram.
Completamente desnorteado não se conformava , ficava dizendo para si que tudo tinha sido real ele não estava doido.
_Ele deve Ter sonhado porque o encontrei dormindo lá na amurada , falou o tripulante que o acordara.
_Vai ver que ele foi enfeitiçado pela Iara – comentou um senhor de meia idade .
Ele cabisbaixo foi ao camarote pegar sua mochila , a cama estava impecável, sentou –se e deixou as lágrimas fluírem.
_Não! eu não estou maluco - pensava.
Depois de Ter se recomposto . pegou a mochila quando viu em cima do travesseiro um brilho era uma pedra de esmeralda.
Ele a tomou nas mãos apertando fortemente não fora um sonho lembrava bem que ela tinha um colar e que essa pedra estava nele.
Desceu do navio sem falar nada.
Passou o tempo e os amigos sempre o encontravam no cais com o olhar fixo no nada.
O tempo veio e as lembranças daquele encontro ficaram perdidas na memória.
As visitas na beira do cais foram espaçando e ele retornando a sua vida normal.
Encontrou outras garotas e arranjou uma namorada
Chegou um dia em que tinha que viajar para Santarém depois de tanto tempo.
Viajaria no navio das 18:00 o mesmo que viera há muito tempo atrás.
A sua namorada viera despedir- se beijaram- se carinhosamente no cais .
Havia mais alguém no porto estava entre os passageiros e observara a cena em seguida desaparecera entre os passageiros.
No mesmo instante ouviu- se um baque surdo nas águas e de repente elas tonaram - se violentamente revoltas batendo no cais, os barcos que estavam atracados batiam- se as pessoas agarravam- se nas amuradas dos barcos para não cair e o trapiche balançava .
Aos poucos foi diminuindo apenas quando olharam para a água afim de ver o que realmente havia acontecido viram um redemoinho que havia se formado distanciando.
Enquanto acontecia o tumulto o jovem subira no navio indo para o mesmo lugar onde estivera ha muito tempo atrás. Veio na memória dele como se um filme estivesse rodando tudo o que acontecera . Naquele exato instante , a Iara apareceu como uma miragem as mãos estendidas veio na sua direcáo flutuava , pegou a esmeralda que ele tinha colocado no cordão e desfez - se misteriosamente. E a partir desse momento foi apagado da mente tudo o que ele vivenciara naquela noite , assim como tambem aquele instante.
A Iara retomou o mimo que deixara naquela noite encantada.
Ainda hoje, canta suas canções melodiosas procurando um amor.
Santarém, 03/09/99 - 17:35