Enquanto o céu for o nosso limite - Segundo Capítulo
Sempre costumava arrastar olhares por onde passava. Era uma moça alta, com corpo bem desenhado, sua beleza irradiava e seu sorriso encantava a muitos. Mas sua simpatia e meiguice eram tamanhas que as pessoas olhavam-na com muito carinho e não somente com desejo que seria natural despertar nos homens.
Sua figura feminina, que por seu porte e sua voz marcante, porém sensual, passava a impressão de uma mulher decidida e segura, não deixava transparecer o que lhe ia na alma. Porém, quem perscrutasse mais além em seus olhos negros, conseguiria enxergar uma fragilidade escondida no medo de se expor.
Ela sentia e fazia-se sentir intensa. Mas temia, pois isso sempre acabava por prejudicá-la. E pensava... em toda a solidão que sentia dentro de seu peito, em todo o sentimento represado que guardava, em toda a força que deveria demonstrar...
E desejava...alguém que de fato pudesse compartilhar. Alguém que a visse com todos os seus acertos e erros e ainda assim, aceitasse-a.
Seus dias de palidez foram muitos. O céu cinza teimava em nascer, dia após dia. Sua indiferença crescia e uma apatia tomou conta de seu ser.
“Quem sabe assim, menos intensa, minha vida seja de paz”, pensava ela todos os dias ao acordar.
Nunca mais ouvira falar de Carlos, mas dentro de si, ainda guardava o carinho de outrora que nem mesmo as palavras rudes puderam apagar.
Apenas não entendia. E, na verdade, havia desistido de entender, pois o fato já havia deixado marcas em seu coração que eram irreversíveis.
E não apenas em seu coração, mas em sua vida, tudo se refletia de forma a tornar o mundo pálido, cinza. Ela não mais questionava o merecimento de tais palavras. Havia perdoado de coração brando.
Resolveu, então, por tirar finalmente as férias que há dois anos prorrogava.
Muniu-se de poucas coisas, algum dinheiro que havia guardado, escolheu uma pousada sossegada em um canto do Brasil e foi.