Enquanto o céu for o nosso limite - Primeiro Capítulo
Mal o dia havia amanhecido e lá estava ela, de olhos vermelhos e coração aos saltos. Ainda não conseguia entender o telefonema perturbador que havia recebido na noite passada. Em meio a palavras rudes, um adeus marcava o fim de um relacionamento duradouro, porém conturbado. Era sempre assim: Carlos vivia em inconstâncias de humor em sua vida pessoal e no trabalho. Mas, apesar disso refletir no relacionamento, nunca havia marcado de uma forma tão brutal. Agora era o fim. Um adeus definitivo. E ela ainda não conseguia entender o que o levara a dizer palavras tão cruéis.
Ficava relembrando todos os momentos vividos, as risadas, os choros... Tudo compartilhado. E em meio ao sorriso da lembrança, lágrimas desciam-lhe abundantemente pelo rosto ouvindo novamente tudo aquilo que ele lhe dissera.
De início, parecia-lhe que o mundo iria ruir. Um buraco parecia ter se aberto à sua frente e nada mais ouvia, nada mais sentia. A sensação de torpor que a acometeu foi tamanha, que sua vista escureceu e ela não pôde sequer defender-se daquelas acusações horrorosas e descabidas. Ela pensava. E quanto mais tentava achar uma resposta, mais se entristecia por não entender.
O dia cinza passou-lhe dessa vez, despercebido. Parecia-lhe que era mero retrato de seu interior. Nem mesmo o cheiro de sua flor preferida a tirou do estado de torpor que havia entrado.
Não havia onde procurar respostas. Era apenas 'engolir' e seguir sem a presença constante que se fizera essencial em sua vida, mas ainda assim, era preciso seguir.
Tomou um banho, arrumou-se e a muito custo foi para o trabalho.
Parecia-lhe que somente conseguia fazer as obrigações de modo 'automático'.
Sentia-se meio anestesiada. Seu sorriso havia empalidecido e as olheiras apareciam após algumas noites sem dormir.
Os amigos próximos notaram. Questionaram. Mas a resposta negativa seguida de um sorriso ainda mais pálido, fazia com que se calassem.
Não restava dúvidas de que Rosa estava diferente... indiferente.