Forbidden Love (Amor Proibido)
Naquela noite mal consegui pregar os olhos, não consegui ficar um minuto sem pensar em Josh Rourke, e quando finalmente adormeci, já estava na hora de ir ao colégio. Os poucos minutos que dediquei ao sono depois do horário habitual, me renderam um atraso nunca cometido antes.
Por que não consigo tirar este garoto da minha cabeça? Por que ele insiste em invadir meus pensamentos?
Correndo por entre os corredores da escola, mal prestava atenção ao que me cercava, estava totalmente alheio à realidade, só pensava nele. Por que ele tinha de ser tão perfeito? Não sabia o que estava acontecendo comigo, queria acreditar que aquele sentimento era algo errado, mas algo dentro de mim insistia em dizer que aquele sentimento era o melhor que alguém pode sentir.
Estava perdido em meus pensamentos, quando colidi com algo que imediatamente me4 levou ao chão.
Lá estava ele, Josh Rourke parado diante de mim. Naquela manhã, ele estava muito mais lindo do que de costume, não sei se era a camiseta branca que ele usava que realçava nitidamente seu abdômen definido, ou se eram meus olhos apaixonados que sequer piscavam contemplando todo aquele corpo.
- Me desculpe, você está bem? – Perguntou ele, me ajudando com os livros que caíram no chão.
- Sim – Foi tudo o que consegui dizer, minha voz havia desaparecido.
Ajudando-me a me levantar, ele perguntou rindo:
- Então... Pietro, não é? Aonde ia com tanta pressa?
Fiquei abismado quando o ouvir dizer meu nome quis gritar que o amava ali mesmo, mas, no entanto respondi:
- Estou atrasado para a aula de biologia.
Rindo ele me aconselhou:
- Relaxa, não leve tudo tão a sério. Isso...
Ele foi interrompido por Keibih que gritava irritada:
- Josh por onde você esteve? Estive procurando por você! – E o arrastando pelo braço disse – Vamos rápido, não podemos nos atrasar novamente. Você se lembra do que o senhor Ashford disse?
Ela o pegou pelo braço e saiu o arrastando. Eu por minha vez estava tão hipnotizado com aquele momento que nem ao menos sai do lugar.
Estava muito constrangido por chegar atrasado à aula do Sr. Willis, que me chamou à atenção pelo mesmo. Diante dos risos de meus colegas, sentei-me rapidamente e abri o livro.
Enquanto o Sr. Willis explicava a matéria, eu pensava nos poucos momentos que tive com Josh, ainda não conseguia acreditar que aquele momento realmente havia acontecido, nada parecia ser real.
Voltei rapidamente para o mundo real, quando o Sr. Willis repetiu:
- Pietro Bale, você está dormindo? – Todos na sala riram.
- Desculpe Sr. Willis! – Disse eu.
- Responda-me: Quais foram as idéias de Lamarck?
Todos olhavam para mim, mergulhados no mais profundo dos silêncios, anseiando pela resposta, que eu sabia por ser o melhor daquela turma, mas que naquele momento não me vinha à mente.
- Vamos, responda-me! – Insistiu ele.
Sem nada dizer, fechei o livro, peguei a mochila e sai da sala.
Estava confuso, era incrível o poder que Josh exercia sobre mim. Tinha o poder de mudar meus pensamentos, de me fazer perder o equilíbrio, de me revoltar comigo mesmo.
Nunca fui a pessoa mais alto-confiante do mundo, muito pelo contrario sempre fui a pessoa menos confiante que já habitou este planeta.
Muitas vezes quando tinha uma injeção de ânimo ou amor próprio, acertado em cheio por um tiro disparado por meu pai, que imediatamente matava minha auto-estima. Nem sei, mas acho que foi por isso que me tranquei para o mundo, criando em mim um mundo só meu, onde tudo e todos viviam em torno de mim. Acredito que todos meus amigos imaginários tinham a função de suprir minha carência emocional. Muitas vezes levava esses tais amigos imaginários tão a serio que os transportava da minha cabeça para a vida real, chegando há pensar que eles realmente existiam, mas eram apenas fruto da minha cabeça confusa e solitária.
Minha mãe morreu quando eu ainda era uma criança. Não me lembro muito dela, a única lembrança que tenho é a de um dia em que passamos no parque, poucas semanas antes dela ser vitima de um assalto. Não tinha irmãos, vivia com meu pai que me ofendia e humilhava constantemente, eu por minha vez, já nem lhe dava a atenção que ele queria, mal lhe falava o trivial, e quando conversavamo0s era por meio de gritos e discussões, que sempre eram concluídas com algumas semanas de silêncio mórbido que assombravam aquela casa triste e fria.
Nunca me importei com a solidão, é claro que sempre quis ter amigos em que pudesse confiar pedir conselhos e compartilhar todas as coisas boas que poderiam acontecer em minha vida, mas a essa altura da vida já não acreditava em sonhos impossíveis, podia não ter amigos, mas tinha a mim mesmo e aos meus pensamentos, acho que era por isso que as vezes falava sozinho. Minhas lagrimas já não existiam, meu choro já não se fazia tão presente como antes, ao longo do tempo creio que fui ficando mais frio e amargurado comigo mesmo.
Minha próxima aula seria de francês, e Josh era da minha turma. Estava pensativo, como ele reagiria depois da colisão que tivemos um pouco mais cedo? Ainda apreensivo fui à aula de Mme. Labrunie.
Mme. Labrunie devia ter pouco mais de 50 anos, no passado fora grande atriz de teatro na França, agora com mais idade, contentava-se as dar aulas de francês.
- Bonjour chers étudiants! J'ai une surprise pour vous tous. – Disse ela - Aujourd'hui nous allons commencer un emploi différent. Très bientôt vous faire une présentation, des conférences avec de bons arguments, les avantages et les inconvénients d'un élément particulier de la fiction française. Ce n'est pas grand?
Percebendo que poucas foram as pessoas que entenderam, ela traduziu gesticulando como só uma atriz sabe fazer:
- Bom dia queridos alunos! Tenho uma surpresa para todos vocês. Hoje iniciaremos um trabalho diferente. Muito em breve vocês farão uma apresentação, dissertando com bons argumentos, os pontos positivos e negativos de uma determinada peça de teatro francesa. Isso não é fantástico?
Ela esperou até que todos parassem de reclamar e continuou:
- E como sou muito boazinha, permitirei que façam em dupla!
Todos proferiram exclamações de contentamento. Mme. Labrunie interveio:
- Bien sûr, je forme le double! – Ela repetiu para que todos entendessem – Eu quem formarei as duplas!
Ela começou a formar as duplas:
- Keibih e Ananda.
- Mas Mme. Labrunie – Contestou Keibih – Eu quero que meu par seja meu namorado!
- Non, non, non, ma chérie. - Disse Mme. Labrunie – Vejamos com quem Josh pode se sentar... Já sei: Josh e Pietro Bale!
Quase tive uma síncope. Imóvel estava, e imóvel fiquei, mal prestava atenção aos chiliques de Keibih.
- Mas Mme. Labrunie, Josh e eu...
- Non, non! - Disse Mme. Labrunie – Keibih mon bien, não seja inconveniente! Faça o que mandei, Quick, le temps c'est de l'argent! (Tempo é dinheiro!)
Ainda muito irritada, Keibih sentou-se ao lado de Ananda Hopking, eu por minha vez estava entorpecido diante daquela circunstância.
- Ora, ora – Disse ele se sentando ao meu lado – Vejamos se não é o garoto das colisões!
Enrubeci imediatamente. Ele continuou enquanto Mme. Labrunie formava outras duplas:
- Cara, meu francês é muito ruim, espero que você fale melhor do que eu.
- Mon français est très bon, je suppose! (O meu francês é muito bom, eu acho!) – Disse eu.
- Você acha? – Disse ele irônico – Você fala muito bem!
- Son français n'est pas mauvaise, avez-vous compris ce que je dis! (O seu francês não é ruim, Você está entendendo o que eu falo!).
Com certa dificuldade ele disse:
- Je peux comprendre, tout ne peut pas parler à droite. (Eu consigo entender, só não consigo falar direito).
- Isso é só uma questão de prática.
- Não, eu sou uma verdadeira negação!
- Já tentou se dedicar mais? – Perguntei olhando em seus olhos, que olhavam para alguém sentado mais à frente.
- Acho que preciso de aulas particulares. Alias... já que iremos trabalhar juntos você poderia me dar algumas aulas.
Fiquei surpreso com a proposta, e após alguns segundos respondi:
- Não sei se é uma boa idéia.
- Está certo, só pensei que já que teremos que apresentar este trabalho em francês, eu poderia aprimorar mais o meu.
Ficamos em silêncio por algum tempo. Eu fui o primeiro a dizer:
- Tudo bem, eu te dou algumas aulas de francês. Mas com uma condição.
- Qual? – Ele quis saber.
- Não vamos nos ver mais do que o necessário!
Sem entender ele concordou.
Voltamos mais uma vez para o silêncio. Mme. Labrunie disse:
- Vamos agora sortear as peças.
Ela foi passando de mesa em mesa, e a cada peça sorteada ela exclamava expressões de felicidade, como se conhecesse cada trecho daquelas obras, e de certya forma ela conhecia.
Chegando a nossa vez, foi Josh quem retirou o papel.
- Cyrano de Bergerac – Disse Mme. Labrunie - Oh mon amour, c'est mon morceau préféré, un amour impossible! (Oh meus amores, essa é a minha peça favorita, um amor impossível!).
A aula foi passando, e durante ela ficamos num silêncio profundo, lendo o roteiro da peça. Quando o relógio indicou que a aula havia chegado ao fim, Josh disse:
- Nos vemos na terça.
- Então, até terça – Disse eu.
Durante a semana não pude pensar em mais nada que não fosse Josh Rourke e na proposta que lhe fiz. Será que foi certo o fazer prometer que não ficaríamos juntos mais do que o necessário?
Embora quisesse muito desfrutar de sua companhia, não queria sofrer mais do que o necessário me entregando a um amor não correspondido. Quanto antes acabasse tudo aquilo, seria melhor para ambos. Por que temos que sofrer por amor e levar uma vida melancólica e frustrada?
Embora soubesse que seria difícil (ou impossível), estava disposto a esquecê-lo, mas quando o vi na terça-feira, não consegui levar tais sentimentos adiante, a única coisa que senti foi amor.
Durante toda a aula de francês, enquanto Mme. Labrunie comentava as peças, Josh e eu treinávamos seu francês.
- Diga – Dizia eu – Meu nome é Josh Rourke.
- Mon nom est Josh Rourke. – Dizia ele gaguejando.
- Mas do que você tem medo? Por que gagueja tanto se compreende tão bem?
- Não sei, não consigo entender minha dificuldade.
- Não sei, mas acho que essas aulas que não são suficientes. Será preciso aulas extras – Sugeri.
Rindo ele disse:
- Mais c'est vous qui avez dit que nous ne pouvions pas rester ensemble plus que nécessaire? (Mas não foi você quem disse que não poderíamos ficar juntos mais do que o necessário?).
- Mais ce sera nécessaire (Mas isso é necessário) – Rebati - Bien nécessaire. (Bem necessário).
Combinamos que no dia seguinte nos encontraríamos em um parque perto de minha casa, para darmos inicio as aulas extras.
Passamos anos encontrar ali todos os dias no final da tarde. Aperfeiçoávamos o francês de Josh, analisávamos a peça e assistíamos ao pôr-do-sol, isso virara uma certa rotina.
Duas semanas já haviam se passado, e naquela sexta-feira o parque estava deserto, exceto por algumas pessoas que passavam por ali de vez em quando.
- Leia este texto – Pedi.
- “Les choses n'ont pas été les mêmes
Puisque vous êtes entré dans ma vie
Vous avez trouvé un moyen de toucher mon âme
Et je n'ai jamais, jamais, Never Let You Go”
(“As coisas não têm sido as mesmas
Desde que você entrou na minha vida
Você descobriu o jeito de tocar minha alma
E eu nunca, nunca, nunca vou te deixar ir
[Trecho da música Secret da Madonna]”)
Ele deu uma pausa, eu estava concentrado no texto, quando o olhei pude ver que seus olhos estavam voltados para mim.
- Pietro... Nós somos amigos? – Perguntou ele ainda me olhando.
Surpreso com a pergunta, não soube o que responder:
- Não sei – Disse gaguejando – Acho que sim!
Após um pequeno silêncio ele perguntou:
- Os amigos contam coisas à seus amigos, não é?
- Acho que sim – Respondi.
Após mais alguns segundos de silêncio, ele voltou a leitura:
- “Le bonheur est dans le creux de nos mains
Il m'a fallu du temps pour comprendre
Comment pourrait -
Jusqu'à ce que vous avez partagé votre secret avec moi Quelque chose se passe quelque chose se passe pour moi
Mon amour a un secret "
(“A felicidade está na palma de nossas mãos
Levei muito tempo para compreender
Como poderia ser
Até que você dividiu seu segredo comigo
Algo está acontecendo algo está acontecendo comigo
Meu amor tem um segredo
[Trecho da música Secret da Madonna]”)
Após mais uma pausa na leitura, Josh disse:
- Pietro.
- Oi – Disse eu sem desgrudar os olhos do texto.
- Você já... gostou de alguém de verdade?
Abismado com a pergunta, fitei-o. Estávamos lendo o texto na mesma folha, consequentemente estávamos muito próximos um do outro, nossos rostos estavam a centímetros de distancia. Nossa voz era baixa e quase sussurrávamos.
- O porquê da pergunta? – Questionei.
- Curiosidade.
- Não se esqueça da promessa – Alertei-o.
- Tecnicamente... Não a descumpri. Estamos aqui para estudar.
- Tecnicamente não estamos estudando.
- Techniquement, nous sommes maintenant, techniquement, vous ne répondez pas à ma question.( Tecnicamente agora estamos e tecnicamente você não respondeu minha pergunta).
- Techniquement, je pense que la réponse est oui. (Tecnicamente acho que a resposta é sim).
Respondi sem desgrudar os olhos dele.
- Mais la question s'applique au passé ou présent? (Mas a pergunta se aplica no passado ou no presente?) – Insistiu ele.
- Présent – Respondi - Et vous jamais à quelqu'un dans la vie réelle? (E você, já gostou de alguém de verdade?)
Se aproximando mais ele respondeu:
- Je crois que oui. (Acho que sim).
- Keibih aimerez connaître cela. (Keibih vai gostar de saber disso) – Eu disse.
- Je ne dis pas que c'était Keibih. (Eu não disse que era Keibih).
Não sei o que me deu naquele momento, e não resistindo a todo encanto daquela situação, o beijei. Ele retribuiu por alguns , segundos, mas logo em seguida me empurrou, fiquei muito constrangido e ,ais do que imediatamente me levantei e sai correndo.
Correndo, tentando fugir de toda aquela situação, não sei se minhas lágrimas eram de alegria ou de tristeza. Alegria por que finalmente tive o tão esperado beijo de Josh Rourke. Tristeza por que agora ele me odiaria.
Cheguei em casa com o rosto lavado em lagrimas, estava perturbado, não sabia se devia rir ou chorar, para piorar, logo que entrei em casa meu pai começou a questionar-me:
- Onde e com quem você estava? Isso são horas? O que é isso? Você está chorando? Homens não choram. Quer saber... Eu não dou a mínima para você. Faça o que quiser!
Ignorando-o, fui para meu quarto, e afim de me livrar da voz de meu pai, liguei o rádio no volume máximo. Estava tocando a música Never Gonna Be Alone do Nickelback, que dizia;
“O tempo está passando muito mais rápido do que eu
E eu estou começando a me arrempeder de não gastar tudo isso com você
Agora estou, Querendo saber porque eu tenho mantido isso engarrafado aqui dentro
Então eu estou começando a me arrepender de não vender tudo isto para você
Então se eu não o fiz ainda, quero que você saiba
Você nunca vai estar sozinho
Deste momento em diante
Sempre que você sentir que está partindo
Não vou deixar você cair
Porque sempre acredito que não há mais nada que eu precise além de você
Você nunca vai estar sozinho
Vou te segurar até a dor passar”
[...]
Isso me fez chorar ainda mais, fiquei três dias sem ir ao colégio, num misto de dor e duvida.
Os dias que se seguiram foram tristes, Josh não ia mais às aulas extras no final da tarde, nas aulas da Mme. Labrunie não se sentava ao meu lado, e o pior, sempre que tentava me desculpar ele me ignorava dizendo que aquilo não havia sido certo. Ficamos assim por cerca de duas semanas.
Em um dia de sexta-feira, estava sozinho no laboratório de biologia, as aulas já haviam terminado, mas fiquei ali relendo alguns conteúdos. Estava com toda atenção voltada para a matéria, quando de repente me assustei quando Josh entrou na sala bruscamente. Quando me viu, se virou indo embora da mesma forma que entrou.
- Josh! – Chamei.
Ele se virou lentamente, não parecia estar bem.
- Onde o Sr. Willis está? – Perguntou ele.
- Não sei, é algo que eu possa ajudar?
- Não – Respondeu se voltando novamente para a porta. Ele pretendia sair, mas uma vertigem quase o levou ao chão.
Fiquei assustado, e rapidamente o ajudei a se sentar no chão, agachei ao seu lado.
- O que está acontecendo? Você não parece estar nada bem! – Perguntei preocupado.
- Não foi nada de mais, só uma tontura. Eu estou bem – Disse ele se levantando. Eu o interrompi:
- Fique aí você não parece estar bem!
Ficamos em silêncio por alguns instantes, foi ele quem rompeu o mesmo perguntando:
- Por que me beijou?
Corando, respondi constrangido;
- Não sei, acho que me descontrolei e acabei agindo impulsivamente. Desculpe!
O silêncio se fez novamente, desta vez quebrado por mim.
- Josh, por que me fez todas aquelas perguntas?
- Para confirmar meus pensamentos.
- E... Eles se confirmaram? – Eu quis saber.
- Sim.
- E quais eram esses pensamentos? – Eu perguntei olhando em seus olhos.
Ele hesitou um pouco, mas disse:
- Eu pensava que você gostava de mim... Não como amigo, mas, de outra forma. Aquelas perguntas me mostraram que eu estava certo.
Desviando o olhar, perguntei:
- E o que você acha disso?
- Não sei – Respondeu ele.
Após alguns segundos de silêncio, ele perguntou:
- E você, o que acha se eu disser que... Também gosto de você de uma forma... Diferente? – Ele colocou sua mão sobre a minha.
Fiquei sem reação, a única coisa que pude fazer foi olhar fixamente em seus olhos. Foiçamos assim por alguns segundos, e desta vez foi ele quem tomou a iniciativa e me beijou, eu por minha vez retribui, deixando que ele me guiasse.
Ficamos ali, sentados no chão do laboratório de biologia, nos beijando por um bom tempo. Após alguns minutos nos beijando, Josh tirou a camisa, passando para um nível mais elevado de uma relação à dois.
- Tem certeza de que quer fazer isso? – Sussurrei em seu ouvido.
Beijando minha orelha, o que fez todo o meu corpo se arrepiar, ele respondeu também em sussurros:
- Hoje eu não tenho certeza de mais nada.
E assim demos continuidade àquela loucura, naquele dia não fizemos sexo, fizemos amor. Fora algo indescritível, doce, romântico. Eu já havia transado com pessoas do mesmo sexo que eu, mas nunca fora algo tão mágico como os momentos que Josh me proporcionou. Foi incrível, surreal.
Na manhã seguinte o dia estava esplendorosamente lindo, não sei se era o Sol que brilhava contrastando com o lindo azul do céu, ou se era eu que vivenciava o melhor dia da minha vida. Fui andando até o parque, onde Josh me esperava, a fim de desfrutar de toda aquela paisagem urbana.
Quase que a tarde inteira, pensando no que faríamos a partir dali.
- Tenho medo – Disse Josh.
- Medo de quê?
- Sei lá, tenho medo de como as pessoas vão reagir, e se ninguém nos aceitar? E se todos se afastarem?
Pegando em sua mão, respondi;
- As pessoas reagiram como sempre reagiram: Com preconceito. Desde que o mundo é mundo, ele sempre existiu, cabe a nós sabermos lidar com ele, as pessoas não precisam nos aceitar, nós precisamos, sendo nós mesmos sem deixar que a sociedade nos mascare nos obrigando a levar uma vida frustrada. E quando todos se afastarem, teremos um ao outro, teremos o mundo, o nosso mundo!
Mais animado, ele disse:
- Tem razão, é por pensar no que os outros irão pensar, que deixamos de viver nossas próprias vidas, e muitas vezes vamos contra nossas idéias e pensamentos, sendo alguém que não somos só por que temos medo de ser quem realmente somos.
- Isso se chama hipocrisia – Disse eu – Muitas pessoas, deturpam determinada idéia, atitude ou ação, mas no fundo gostariam de agir da mesma forma, mas esse sentimento de sempre esperar para o que os outros vão pensar, nos impede de tal coisa.
Após uma breve pausa continuei:
- Eu já passei por muita coisa e ainda passo, e cada vez mais percebo que nós gays temos uma dificuldade muito grande em nos aceitarmos, aceitas nossos desejos, e quando isso acontece, temos dificuldade de nos assumirmos perante a sociedade. E cada vez que uma etapa é completada, olhamos para trás e vemos que nossa atitude não tinha fundamento algum. A não ser um grande medo imaginário de que algo absurdamente terrível poderia acontecer.
Josh concluiu:
- Temos que ser nós mesmos e mostrar pro mundo o quanto somos iguais a qualquer outra pessoa. Apenas nos relacionamos com pessoas do mesmo sexo. Fora isso, nenhuma diferença, amamos na mesma proporção, odiamos da mesma forma, dos nossos olhos também saem lagrimas, também possuímos sentimentos. Não somos andróides, somos seres humanos!
A Lua já brilhava linda no céu, o tempo passara sem que pudéssemos perceber. Conversávamos de nós, quando Josh se queixou:
- Acho que vou para casa, não estou muito bem, estou num misto de dor de cabeça e náuseas.
Nada comentei, mas realmente Josh não parecia estar nada bem. Havia me dito que há alguns dias suas náuseas, tonturas e dores de cabeça eram constantes, alem das manchas rochas que apareceram em sua pele que estava branca como cera.
Após o final de semana, senti que Josh voltara para o colégio como se estivesse indo à uma batalha (E de certa forma não deixada de ser), sentia em seus olhos que ele não estava preparado para o confronto com Keibih, mas era necessário, e não poderia ser adiado, não seria justo nem com ela, nem conosco.
Preferi não estar junto dele, quando ele a revelasse toda a verdade, sentia que aquele momento devia ser um momento exclusivo dos dois. Não sei ao certo o que os dois conversaram, Josh preferiu não comentar aquela conversa. Compreendi seu silêncio, sei que ambos sofreram, ela muito mais do que ele (É claro!), mas ele sofreu por vê-la sofrer.
Keibih era a garota mais popular do colégio, jamais aceitaria perder o namorado perfeito, ainda mais para um garoto. Naquele mesmo dia, me surpreendi ao receber sua visita em minha casa. Ao abrir a porta Keibih já me fez diversas acusações:
- O que você fez com ele? Você deve ter feito algum feitiço ou maldição, mas alguma coisa você fez! Você mudou completamente a cabeça de Josh!
Rindo eu respondi:
- Sim eu enfeiticei Josh, e posso enfeitiçar você também se continuar aqui me dizendo desaforos!
A cena foi digna de riso, ela saiu correndo dizendo alguma coisa que não compreendi devido aos seus choros e gritos.
Os dias que se passaram foram de completa felicidade, me sentia como num sonho, e não queria acordar. Cada dia que se passava, deixavam em mim lembranças que tinha certeza que jamais poderia esquecer. Era incrível como Josh me surpreendia me mostrando um pouco de si a cada instante. Cada vez que o conhecia melhor, o amava mais e mais, e sabia que a recíproca era verdadeira.
Não demorou muito para que todos no colégio ficassem sabendo da nossa relação, que não tínhamos a menor intenção de esconder, éramos nós mesmos o tempo todo. Algumas pessoas faziam comentários maldosos, outras agiam com indiferença, outras se mostravam completamente indignadas, e para os mais inocentes éramos apenas bons amigos.
Certo dia enquanto cruzávamos um dos corredores, um garoto religioso nos parou e disse:
- Vocês são seres imundos! Filhos de Satanás! – Abrindo a Bíblia, ele leu – Levítico 18:22: “ Não se deite com um homem, com,o mulher. Isso é uma abominação.”
Ficamos chocados diante de tamanho preconceito, ele continuou lendo outra passagem da Bíblia:
- Gênesis 19:1-25 – Ele começou a narrar a destruição de Sodoma e Gomorra por Deus devido à prática do sexo entre os homens. Josh o interrompeu já bastante nervoso.
- Eu respeito religiões e religiosos desde que estes não interfiram na minha vida, impondo seus costumes e crenças de forma errada, com profundo fanatismo e violência contra o próximo. Como alguém pode acreditar nesse livro, escrito por homens e modificado por vários povos ao longo dos séculos, como se fosse o livro mais importante do universo?
Neste momento todo o corredor estava parado , pois todos os alunos estavam ali com os olhos atentos a àquele debate: Religião x Homossexuailidade. Eu continuei o raciocínio de Josh;
- Já que este livro é assim tão sagrado, vocês fanáticos deviam apredejar os adúlteros, escravizar suas filhas, defender a escravidão humana, matar todos os que trabalha de sábado e ainda expulsar de suas igrejas os deficientes físicos.
Impressionado, o garoto disse;
- Mas isso é uma blasfêmia!
- Pelo visto você não leu seu “Livro Sagrado” como deveria. – Disse Josh, enfatizando as palavras livro sagrado.
Eu prossegui:
- Sim tudo isso está escrito no Livro Sagrado. Já que estas “Leis de Deus” que você citou estão corretas e a homossexualidade é injustamente condenada, devemos então enfatizar outras leis que estão na Bíblia e que deveriam vigorar em nosso dia-a-dia.
“Em Êxodo 21, 7-8 por exemplo, são dadas orientações de como vender a própria filha como escrava. Em Levítico 25, 44, explica-se que os escravos devem ser comprado nas nações vizinhas. No mesmo Levítico 15, 19-24, diz-se que a menstruação feminina é uma imundice e tudo o que a mulher tocar neste período fica imundo, inclusive seu marido. No Êxodo 15, 2, diz-se que o sábado é para descansar e quem trabalhar neste dia DEVE SER MORTO!
Junto com minhas palavras veio o silencio, todos estavam atentos ao que dizíamos. Algumas pessoas concordando com o que Josh e eu dizíamos, outras indo de acordo com as idéias daquele garoto.
- E ainda não acabou – Josh continuou – Em Levítico 21, 20, ninguém pode se aproximar do altar de Deus se tiver alguma doença ou defeito, se for cego, coxo, corcunda ou anão. A lista de atrocidades e leis ultrapassadas continua e não é pequena. A Bíblia e a Igreja em si, graças a democracia da informação, está perdendo sua força com assuntos ultrapassados como estes. Recentemente, a condenação do Papa aos paises com tolerância a homossexualidade, é só uma das ações apelativas da Igreja que está indo contra sua própria homossexualidade, é fato comum à existência, cada vez maior, de praticas homossexuais entre seus fiéis e servidores.
- Homossexualidade é uma doença! – Disse o religioso – A homossexualidade é gerada por que as pessoas têm um pai ausente.
- Isso é ridículo – Protestei – Quantos heterossexuais têm pais ausentes e continuam sendo heterossexuais?
- Vocês são promíscuos e não conseguem ter um relacionamento fixo!
Josh rebateu:
- Posso citar inúmeros nomes aqui presentes, que são heterossexuais e que também não conseguem ficar muito tempo com alguém.
O religioso já estava sem argumentos quando disse:
- Os cientistas ao invés de procurarem o que já está encontrado, me refiro a origem do mundo, muito bem explicada pela Bíblia, deviam criar uma cura para a homossexualidade!
Totalmente indignado, sugeri:
- Por que eles não curam também a cura para a heterossexualidade? Ou para deixar de ser heterossexual? Isso é puro preconceito e ignorância. Não se cura algo que não é doença. Não se muda um desejo por vontade racional. As pessoas precisam entender, de uma vez por todas, que a homossexuailidade, é apenas uma expressão natural da sexualidade humana, e que não existe diferença entre os relacionamentos heterossexuais ou homossexuais.
Josh concluiu:
- Nós amamos, criamos família e contribuímos para uma sociedade melhor. Ignorância, hipocrisia religiosa tem limite. Estamos atentos para nos defender de tais atrocidades. Não ficaremos aqui discutindo com alguém ignorante, desinformado, sem argumentos e que mal sabe o que diz. Antes de pensar em criticar algo ou alguém, estude sobre o caso e crie uma opinião sensata.
Me pegando pela mão, Josh me levou à minha sala.
Em um ano de namoro já havíamos concluído o ensino médio, e nos preparávamos para entra na faculdade, Josh para Engenharia Mecânica, e eu para Psicologia. Morávamos juntos, tínhamos bons empregos, nos finais de semana saíamos para dançar com alguns amigos ou ficávamos em casa curtindo um filme num programa mais a dois.
Uma noite, em um desses programas a dois, estávamos assistindo a um filme, quando Josh me perguntou:
- Pietro você já pensou em ter filhos?
- Sim, já pense. Por quê?
- O que você acha de adotarmos uma criança? Eu sempre quis ter filhos!
Fiquei tão surpreso com a proposta que nada disse, apenas o olhei com uma cara de surpresa.
- O que foi? Não gostou da idéia? – Perguntou ele.
- Adorei a idéia, mas não sei se estamos preparados para receber uma criança. E apesar de raros, já existem algumas adoções por homossexuais, porem ainda individuais.
- Mas isso é um absurdo – Indignou-se Josh – A inadmissibilidade da adoção por homossexuais, só vem em prejuízo da criança, que deixa de receber amor, carinho, atenção, sem contar todas as coisas de que uma criança precisa.
- Acalme-se – Disse eu – Assim como a mulher precisou brigar por seu espaço, tanto no mundo profissional, quanto precisou mostrar de que era capaz tanto quanto o homem, em todas as áreas da vida humana, assim nós homossexuais acabaremos por mostras que nossa condição sexual não nos impede de viver da mesma forma que todos os outros seres humanos.
- Mas isso não é justo!
- Eu sei que não, as coisas nem sempre são como gostaríamos que fosse, são obstáculos que enfrentamos todos os dias.
Naquela noite fui dormir pensando naquela proposta, alem de ser um processo totalmente burocrático (Principalmente em nosso caso), não me sentia preparado o suficiente para adotar uma criança.
Dormindo tranquilamente, fui acordado durante a madrugada pelo chamado de Josh:
- Pietro não me sinto bem.
Ainda sonolento perguntei:
O que você tem?
Muita dor de cabeça.
- Vou pegar um comprimido.
Ao acender a luz, levei um susto, Josh estava com o nariz sangrando, com certeza aquilo não era uma simples dor de cabeça. Muito relutante, consegui convencer Josh a ir ao médico.
Após alguns breves exames, o médico disse:
- Só um exame mais especifico poderá dizer, mas lamento informar:
Creio que você esteja com leucemia.
Ambos ficamos atônitos.
- Leucemia? – Disse Josh sem acreditar.
O médico explicou:
- A leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos ou leucócitos de origem não conhecida. Ela tem como principal característica o acumulo de células jovens ou blásticas anormais na medula óssea que substituem as células saguineas normais. A medula é o local de formação das celuls sanguineas, ocupa a cavidade dos ossos, principalmente esterno e bacia, e é conhecido popilarmente pó tutano. Nela são encontrados as células mães ou precursoras que, originam os elementos figurados do sangue: Glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas.
- E como saberemos se isso realmente é leucemia? – Quis saber eu.
- Através de um mielograma. É um exame de grande importância para o diagnostico e para avaliação da resposta do tratamento, indicando se, morfologicamente, essas células leucêmicas forram erradiadas da medula óssea. Recomendo que faça este exame o mais rápido possível, pois se tratando de leucemia, não temos tempo a perder.
Naquela mesma semana, Josh fez o exame sugerido pelo médico, e recebemos a confirmação de que realmente se tratava de leucemia. Ficamos muito abatidos e após mais alguns exames, se iniciou o tratamento.
As transfusões de hemácias e de plaquetas eram quase que diárias, para a medula óssea recuperar a hemopeose (produção e maturação das células do sangue). Devido às inúmeras transfusões, os médicos recomendaram a implantação de um cateter de longa permanecia em uma veia profunda, para facilitar a aplicação de medicamentos e derivados sanguíneos alem das frequentes coletas de sangue para exames, evitando com isso punções venosas repetidas e dolorosas.
A vida de Josh já não era mais a mesma, consequentemente a minha também não. A doença caminhava lentamente, mais era fatal. Com as sessões de quimioterapia, que são uns remédios para eliminar as células do câncer, todas as células do corpo de Josh pararam de funcionar direito, com isso seus cabelos começaram a cair. Muito triste Josh preferiu raspar a cabeça, pois não queria ver seus cabelos caindo sem parar.
Me sentia tão ou mais triste do que ele, mas tinha que me manter forte, pois Josh precisava da força que eu lhe transmitia. Houve um determinado momento em que Josh praticamente passou a morar dentro do hospital, eu não saia de seu lado. Ela já estava magro, abatido, a tristeza era visível em seus olhos.
Era uma noite de sábado, eu estava em casa, havia acabado de chegar do hospital e já me preparava para voltar para o mesmo quando o telefone tocou. Era um médico, que me disse que Josh estava muito mal devido a uma infecção que pegara dias antes. Disse que os lecócitos normais (Responsáveis pela defesa do organismo) estavam em níveis baixíssimos, e isso era alarmante.
Segui para o hospital as pressas, estava assustado. Ao chegar lá, vi Josh num estado deplorável, tentei conter o choro, mas foi algo difícil de se fazer.
- Pietro – Chamou ele. A voz fraca quase não era ouvida.
- Sim Josh, estou aqui – Eu peguei em sua mão.
- Pietro... Quero que saiba que você foi a única pessoa que amei em toda minha vida.
- Você também, é e sempre será a única pessoa que eu amei em minha vida.
Minhas lagrimas eram inevitáveis.
- Quero que me prometa uma coisa, assim como me fez prometer um dia – Disse ele, rindo – Sei que não tenho muito tempo...
- Não diga isso – Interrompi.
- Sei que não viverei por muito tempo,... Quero que me prometa que será feliz sem mim, que não ficará preso em lembranças.
- Isso é impossível! Não sei viver sem você, você é a minha vida!
Nos abraçamos, em meio as lagrimas.
- Prometa, por mim – Pediu ele – Por tudo que passamos juntos, pelo nosso amor!
Em meio ao choro, eu prometi. Ficamos abraçados por um longo tempo, rodeados pelo silencio.
- Eu te amo – Disse ele por fim.
- Eu também te amo! – Repeti
Naquela mesma noite, Josh dormiu e não acordou mais. Chorei por dias, pois com ele foi parte de meu coração. Em casa tudo lembrava ele, durante meses dormi abraçado ao seu travesseiro, a fim de sentir seu cheiro. Oito meses depois de sua morte, decidi viajar e conhecer as cidades que conheceríamos juntos: Roma, Petra, Paris, Athenas, Berna, Cairo, entre outras.
Voltando de viagem, dentro do avião, eu lia uma revista, e me emocionei quando li uma matéria relativa a adoção
Naquela mesma semana fui visitar alguns orfanatos e em um, uma criança se destacou. Tinha pouco menos de um ano, era negro e tinha olhos verdes como esmeraldas. Rocco era seu nome.
Nove meses depois, consegui finalmente a guarda legal de Rocco. Ele me fazia tão feliz com sua doçura e inocência, e sempre que eu olhava para os olhas daquela criança fantástica, via os olhos do grande amos da minha vida.
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