COMO POSSO ENTENDER DEUS?




Um dia eu perguntei a mim mesmo: “Como posso entender Deus?”
E Deus me respondeu: “O dia em que você entender a minha criação, você me entenderá!”
Caminhando pelo campo perguntei ao lírio, que se balançava ao sabor do vento: “Lírio, como posso entender Deus?”
E o lírio, calmamente, me respondeu: “Olha para mim; não trabalho, não fio; vivo calmamente no campo, sendo embalado pela brisa suave, e nem o rei Salomão em toda a sua glória, se vestiu como eu. O dia em que você aprender a depender somente de Deus para se vestir da simplicidade, você entenderá o cuidado que Ele tem pela sua criação.”
Caminhei pelo bosque e perguntei ao pássaro que estava cantando em um galho: “Pássaro, como posso entender Deus?”
E o alegre pássaro cantante me respondeu: “Eu não planto árvores e nem pomares, entretanto, tenho gravetos e palha para construir o ninho para os meus filhotes, e frutas e sementes para alimentar-nos. O dia em que você aprender a depender somente de Deus para construir e se alimentar da verdade e da justiça, você entenderá o cuidado que Ele tem pelas suas criaturas.”
Indo pelo sombreado caminho encontrei uma jumenta e seu jumentinho, pastando a vicejante grama que crescia à beira do atalho, e perguntei à jumenta: “Como posso entender Deus?”
E a jumenta me respondeu: “Somos considerados animais irracionais pelos homens, mas o próprio Deus nos usou para levá-Lo em direção à cidade de Jerusalém, onde foi recebido com hosanas e palmas. O dia em que você aprender, com paciência, a levar a sua carga e depender de Deus para ajudá-lo nessa tarefa, você vai entender como Deus é benigno e compassivo com aquele que O busca de todo coração.”
Continuando o meu caminho encontrei uma alta e viçosa palmeira e indaguei: “Palmeira, como posso entender Deus?”
E a palmeira, do alto da sua exuberância, me respondeu: “Na minha altura, e aparente inutilidade e inexpressão, as minhas folhas foram usadas para forrar o caminho do Salvador da humanidade, Jesus de Nazaré, quando caminhava em direção a Jerusalém, onde mais tarde seria crucificado por amor a toda a humanidade. O dia em que você entender o amor que Deus tem pelos humildes de espírito, você aprenderá como entender Deus.”
Ao chegar próximo de uma casinha cercada de um lindo e florido jardim encontrei uma criança e perguntei: “Criança, como posso entender Deus?”
Então a criança me respondeu: “Somos pequenos, indefesos e inocentes, mas Jesus Cristo nos defendeu quando os seus próprios discípulos queriam afastar-nos Dele, dizendo a eles que não nos estorvassem por que o reino dos céus é nosso. O dia que você entender que o amor de Deus está naqueles que se convertem de suas más consciências e se fazem pequeninos diante da grandeza e majestade Dele, você aprenderá como entender Deus.”
Diante da casinha cercada pelo jardim estava um velho homem, com o rosto vincado de rugas, cuja expressão transbordava bondade, e então lhe perguntei: “Velho homem, como posso entender Deus?”
E o velho homem encarando-me profundamente, olhou bem nos meus olhos, e respondeu: “Sou um velho e humilde trabalhador do campo e numa sexta-feira, à tarde, eu voltava do meu campo onde trabalhara, e ao chegar à cidade vi uma multidão gritando e batendo palmas na estrada que levava ao monte Gólgota. Apesar de cansado da azáfama do dia, fiz questão de me aproximar o mais perto possível para descobrir do que se tratava, e tive a maior surpresa da minha vida! Ali no meio daquela multidão furiosa, bem no centro da estrada pedregosa, estava caído um homem quase nu. Um tronco pregado em forma de cruz estava sobre ele e quase o encobria, e ambos formavam uma só pasta de sangue...! Aquilo me arrepiou e nem senti o empurrão que alguém da multidão me deu quase me jogando sobre o homem e a sua cruz. Um dos soldados que escoltavam aquele homem me obrigou a abaixar e levantar a cruz que quase esmagava o homem com seu peso. Em seguida o soldado mandou que eu pusesse a cruz sobre os meus ombros, e depois de levantarem o homem caído, fizeram-no andar, mesmo cambaleante, em direção ao monte. E eu o segui com a pesada cruz nos ombros...!
Já no monte o centurião que comandava a escolta mandou que eu arriasse aquela cruz ensangüentada, e sem dó ou qualquer piedade deitaram o homem sobre a cruz, pregando as suas mãos e os seus pés no tronco, com enormes cravos de ferro.
Quando levantaram a cruz e o homem ali pregado, pude ver a fisionomia desfigurada daquele ser...! Tinha um dos olhos vazados e o rosto coberto de feridas e sangue, mas mesmo assim ele não gemia ou maldizia os seus algozes. E nesse momento ele abriu um dos olhos e fitou-me com tanto amor, tanto amor, que eu não resisti e caí de joelhos diante daquele homem cheio de dores. Enterrei o meu rosto no pedregulho áspero daquele morro e ali permaneci sem poder me mover, não sei por quanto tempo...! Somente me lembro de um momento em que ouvi a voz torturada do homem crucificado, dizendo: “Pai, perdoa-lhes por que não sabem o que fazem.”
Mesmo com as lágrimas dificultando a minha visão levantei-me e desci aquele monte, sem coragem de olhar para trás. Compreendi que naquela cruz as criaturas estavam matando o próprio Criador que, mesmo mostrando quanto as amava, não fora compreendido por elas.
Então, filho, o dia que você compreender o que o Deus Criador foi capaz de fazer para salvar a sua alma, sacrificando-se numa cruz, onde o merecedor do castigo era você, então poderá entender Deus!
Emocionado pelas palavras daquele velho homem, abracei-o e perguntei pelo seu nome para sempre me lembrar da história que me contara com tanto sentimento.
O velho homem apenas respondeu: “Lembre-se de Simão, o cireneu.”