Algo Inesquecível

Ana tinha seis anos quando seus pais morreram em um trágico acidente de carro. Eles saíram de São Paulo e deixaram Ana e sua criada Maria em seu luxuoso apartamento. Horas depois veio a trágica notícia de que tinham falecido na rodovia mais movimentada do país.

Por ser uma criança tão pequena, Ana não podia ficar com a empregada. Ela foi morar com a tia Ângela, no Paraná, que, na opinião da mãe, era muito chata. Chegando à nova casa, a tia logo estabeleceu ordens: ela não poderia fazer nada divertido enquanto não fizesse seus deveres da casa e da escola, dormir às oito horas e acordar às seis horas para realizar suas atividades.

A pequena garota vivia exausta e desanimada. Quando completou nove anos, ela e a tia se mudaram para o interior, onde as tarefas eram mais pesadas ainda.

Ana se mudou para uma nova escola. Tudo era novo e diferente novamente. Não fez amigas. Apenas conheceu um garoto, chamado Eduardo, que por sinal era muito legal. Ele morava ao lado de sua casa e iam no mesmo ônibus. Mas, mesmo estando ao lado da casa de Eduardo, a tia não a deixava visitá-lo.

Ana cresceu. Fez dezoito anos. Tornou-se uma linda moça. Tinha lindos olhos verdes luminosos e longos cabelos castanhos e cacheados. Enquanto a tia ainda continuava a mesma carrancuda de sempre. Ana ainda chorava e sofria pela morte dos pais.

Eduardo também cresceu. Já estava com dezenove anos. Ele era ruivo e muito bonito. Estava sempre do lado de Ana, ou quase, quando a tia não estava perto. Era ele quem consolava Ana pela morte dos pais e dizia para ela não ficar se lamentando.

Tia Ângela já estava com noventa e um anos e estava prestes a vender a casa. Disse a Ana para arrumar logo uma nova casa, pois aquela já iria pertencer à outra pessoa e que em um mês ela já a teria vendido.

Ana foi morar com a família de Eduardo e lá foi muito bem recebida. Tia Ângela foi para o asilo e Ana fazia questão de visitá-la mensalmente, mesmo depois de tantos anos de sofrimento.

No final de ano, a família de Eduardo fez uma grande festa. A sós, Eduardo e Ana se beijaram pela primeira vez. Ana inicialmente recusou, mas depois percebeu que em todos esses anos ela estivera apaixonada por ele, embora não tivesse tempo para isso.

Quando Ana fez vinte e cinco anos, recebeu uma proposta de emprego muito boa e que não poderia recusar. Ela não queria deixar Eduardo e sua família, mas percebeu que teria de deixá-los. Despediu-se chorando deles. Abraçou Eduardo longamente e depois entrou no táxi.

Pegou o avião para Goiás, e passo a passo foi se lembrando de sua infância, de como sua tia era rude, do seu primeiro beijo com Eduardo, da morte dos pais, da escola, dos trabalhos forçados na casa de tia Ângela e de sua ex-criada Maria.

Logo percebeu que era hora de esquecer o passado e tentar viver o futuro. Esquecer as lembranças, a sua infância, a sua adolescência e muito mais. Era hora de enfrentar um mundo totalmente novo, um futuro bem diferente do que ela havia imaginado. Era a hora de ser uma outra pessoa, em um outro mundo...

LLBulgarelli
Enviado por LLBulgarelli em 27/11/2009
Reeditado em 28/11/2009
Código do texto: T1948062