Reconciliação

Reconciliação

A bagunça era tanta que Maria, empregada da casa, quase teve um chilique quanto entrou no quarto de Alfredo.

- Esse moleque não vai aprender nunca.

Dezenas de discos de vinil estavam espalhados pelo cômodo. Parecia que um furacão havia passado pelo lugar, obrigando a empregada a trabalhar dobrado, principalmente na hora de colocar os discos nas suas respectivas capas.

A confusão era total, pois ela, semi-analfabeta colocava João Gilberto na capa do Vinícius de Moraes, Tom Jobim virou Menescal, Toquinho virou Peri Ribeiro e assim por diante.

Alfredo era um “moleque” de pouco mais de 30 anos, fã incondicional da Bossa Nova e de toda boa música brasileira. Sempre marcava presença em reuniões de amigos, demonstrando ser um profundo conhecedor de música, dos sucessos da época e por ser amigo de muitos desses artistas.

Talvez por ser sempre alegre, descontraído e vitorioso profissionalmente, ele acreditava num grande amor que certamente “pintaria” na sua vida.

Excelente pianista ele sempre dava a nota certa onde se apresentava. Era adorado por amigos, fãs e como sempre dizia: não desafinava.

Faltava o amor. Este sim estava duro de ser encontrado, pois Alfredo, dotado de sensibilidade acentuada, estava sempre à procura de uma alma gêmea.

Numa dessas idas e vindas ele encontrou Juliana, e foi aí que sua vida mudou.

Ela de uma beleza rara, sensual, chamava a atenção de todos por onde passava, o que aos poucos foi perturbando e modificando a vida de Alfredo que passou estar sempre com cara fechada, de poucos amigos e com um ciúme doentio.

Mesmo percebendo a mudança, Juliana se esforçava para trazer o namorado para realidade, já que o amor sentido por ele superava tudo. Será?

Como tudo tem limites, Juliana acabou abandonando Alfredo que inconformado passou a mergulhar na bebida onde afogava suas mágoas e suas alucinações que já começavam a rondar seus passos.

O inevitável aconteceu e numa destas noites de grande bebedeira, Alfredo procurou Juliana para uma conversa definitiva, em busca de reconciliação.

Amanheceu e como fazia todos os dias, lá estava a velha Maria para arrumar o quarto de Alfredo. Para sua surpresa, o quarto estava todo arrumado, tudo no seu devido lugar, inclusive Alfredo que dormia abraçado a Juliana.

- Este moleque não vai aprender nunca.

Mas ao deixar o quarto, a empregada percebendo que algo estava errado se aproximou do casal e para seu espanto constatou que ambos estavam mortos e numa das mãos de Alfredo estava uma carta para Juliana.

- Teria sido suicídio, homicídio duplo?

Não! Na verdade Alfredo após envenenar Juliana tomou do seu próprio veneno, mas antes escreveu um bilhete para a mulher amada; “Meu amor, esta foi a única forma de mantê-la eternamente ao meu lado e a letra desta música de Jobim retrata minha vida sem você. Um trecho da letra que estava grifado em vermelho, retratou de forma trágica, o amor que ele sentia por ela... Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim...que nada nesse mundo levará você de mim...”

Escritor Paulista
Enviado por Escritor Paulista em 26/11/2009
Reeditado em 26/11/2009
Código do texto: T1945279