DOCE REENCONTRO EM LISBOA
Corria o ano de 1996 e Émerson acabara de desembarcar no Aeroporto de Lisboa.
"Enfim, pisando em solo português!!!" - pensou Émerson, exultante, pois estava próximo de realizar uma fantasia baseada num papel puído onde estava escrito "Restaurante Península dos Sonhos, em Lisboa ... 25 de Junho" . Ele desenvolvera a fixação de passar uma noite em Lisboa para ouvir fados, saborear uma bacalhoada e degustar os deliciosos vinhos do Porto, após namorar Augusta, uma portuguesa nascida em Angola (na época ainda colônia de Portugal) e radicada com a família no Brasil desde 1974. Porém o destino quis que Augusta retornasse a Portugal para atender o desejo do pai que, padecendo de uma grave enfermidade degenerativa, queria morrer em sua terra natal. Desolados, Émerson e Augusta se renderam à dura realidade, apesar de se amarem loucamente... Ela partiu com a família e, antes de completarem uma semana em Portugal, o pai vem a falecer, deixando Augusta e a mãe desnorteadas. Elas, então, decidiram emigrar para Angola, onde a família tinha uma propriedade. Com isso, Émerson perdeu contato com Augusta e nunca mais se viram e nem se comunicaram.
Da relação apaixonada restou apenas aquele pedaço de papel onde Émerson anotara as últimas palavras que ouviu de Augusta, no momento da despedida no aeroporto.
Tendo se hospedado na região central de Lisboa, Émerson estava próximo da estação do bonde que ligava a cidade baixa à alta, onde se localizava o Restaurante Península dos Sonhos, motivo de sua viagem até a Europa.
Bonde que liga a cidade baixa à alta
Fazia uma noite quente de verão naquele 25 de junho e Émerson foi andando vagarosamente pelo canteiro central da principal avenida da cidade, até o ponto inicial do bonde. No trajeto olhava para os casais que andavam felizes de mãos dadas, e imaginava-se também de mãos dadas com Augusta...
-Será que ela não está por aqui, misturada à multidão? - pensava Émerson com saudades.
Chegando ao restaurante, Émerson escolheu uma mesa pequena para duas pessoas e fingiu estar acompanhado por Augusta. Conforme o tempo passava, grupo de turistas alemães, franceses, americanos, japoneses, espanhóis, italianos e outras nacionalidades chegavam, criando um burburinho intenso... A alegria reinava absoluta naquele ambiente festivo. Após saborear uma bacalhoada, Émerson resolveu degustar vinho do Porto e fez questão de pedir duas taças ao garçon, instruindo-o para servir também na taça dedicada a Augusta.
Estava compenetrado ouvindo uma cantora de fado quando sentiu uma mão pousar delicadamente em seu ombro. Ao se virar, vê Augusta, em pé, sorrindo com candura e com os olhos brilhando. Émerson olha-a demoradamente e, só após ter certeza de que não estava delirando, levanta-se.
-Feliz em lhe rever Émerson... Ah, eu estou naquela mesa ali, com um grupo de amigos. Vi você sozinho e então contei a nossa história para Aldo, o meu marido. E ele, então, pediu que eu lhe convidasse para sentar-se conosco. Sabe Émerson, eu estive aqui sózinha no dia 25 de junho do ano passado e, também, no do ano retrasado. E fiquei, nas duas vezes, assim como você está hoje: sózinha na mesa mas com duas taças cheias de vinho... Uma para mim e outra para você... No início deste ano, achando que você já tivesse esquecido de mim e do nosso pacto, casei-me com o Aldo. Mas, mesmo assim, quis estar aqui nesta noite... - diz Augusta com voz embargada e lágrimas rolando pelo seu rosto angelical.
O destino fora cruel para ambos. Quando se despediram no aeroporto de São Paulo 3 anos antes, Augusta, desesperadamente apaixonada, disse para Émerson antes de entrar no salão de embarque:
"Se você me ama verdadeiramente, Émerson, vá até o "Restaurante Península dos Sonhos", em Lisboa, no dia 25 de Junho do ano que vem. Eu estarei lá te esperando, amor..."
Mas o som do serviço de alto-falante do aeroporto abafou suas palavras e Émerson só conseguiu ouvir "... Restaurante Península dos Sonhos, em Lisboa ...dia 25 de Junho ..." ; palavras que memorizou e anotou depois num papel.
Durante três anos, Émerson pensou que Augusta citara o nome do restaurante lisboeta e a data da despedida apenas como símbolos da dolorosa ruptura imposta aos dois pelo destino...
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