Reencontro de Luz

Um antigo desejo estava para ser concretizado: Maria e sua família iriam, enfim, reformar a casa onde moravam. Iam precisar de um carpinteiro. Então, ela e o marido saíram à procura do profissional que lhes havia sido recomendado pelo bom trabalho.

Diante do endereço indicado, depararam com uma moradia simples, com aspecto de certo abandono, sem os ares do aconchego de uma família. A porta, bateram palmas. O próprio dono veio atender. Era um senhor de fisionomia séria, calma, com certa tristeza no olhar.

A conversa se deu ali mesmo. Falaram de detalhes do preço e do serviço. Depois de um consenso ficou acertado que “Seu Antônio” começaria já no dia seguinte. E foi assim que, logo de manhã, lá estava ele, pronto para o trabalho.

Maria o observava sempre que possível. Era pontual, não dispersava. Ela percebeu, o amor com que o carpinteiro se dedicava á tarefa . Tinham poucas conversas, mas sempre que seus olhos se encontravam, ela, sem saber por que, sentia por ele um profundo sentimento de compaixão.

A reforma não era grande. Em poucos dias, a obra já estava terminada. O casal, então, agradeceu os serviços de seu Antônio e o despediram.

O tempo passou. Sete anos mais tarde, Maria conversava com uma amiga, que lhe revelou o sofrimento de um senhor em função de um câncer. Contou-lhe ainda que, tomado talvez pela revolta e angústia, o doente se recusava

a falar sobre perdão reconhecimento dos próprios erros e fraquezas. Dai, sua dificuldade em recorrer a Deus, o que só concorria para que seu tormento fosse ainda maior.

Comovida por tanta dor, maria pediu-lhe que a levasse até aquele doente. No dia marcado, saíram para a visita. Pelo caminho, a mulher ia reconhecendo lugares por onde já havia passado. Ficou em silêncio. De repente, a companheira lhe disse:

_ É aqui, chegamos.

Entraram, atravessaram a cozinha e seguiram para a sala. Então a amiga disse:

_ Trouxe uma pessoa para conversar com o senhor.

Era realmente o seu Antônio carpinteiro. Estava deitado no chão, vendo televisão. Ao vê-las, levantou-se com dificuldade. Sentou-se no sofá e convidou Maria a se assentar também. Ficaram a sós. Ela pôde ver a dolorosa chaga que tomava conta de parte de seu pescoço. Fitou-o nos olhos e disse:

_ Não se lembra de mim?

Calmamente ela falou da reforma da casa, do marido, de suas filhas. Aos poucos, ele se recordou de tudo.

Maria, então, segurou sua mão com ternura. Falou-lhe do homem trabalhador que sempre fora, exaltou-lhe a honestidade e lhe disse, por fim, que Deus lhe tinha dado tanto! E aquilo era suficiente para que se sentisse um privilegiado na vida.

Ai foi a vez dele olhar com ternura.

Sentindo-se forte para animá-lo, ela continuou;

_ Nas provações por que passamos, precisamos ser fortes, ter fé, acreditar que o criador nos olha e que seu amor por nós é infinito...

Houve um silêncio. Então Maria lhe perguntou:

_ O senhor sente vontade de perdoar alguém?

Ele sinalizou que sim.

_ Então perdoe, falou ela.

Maria pegou a outra mão de seu Antônio e segurou-a firme. Fechou os olhos por alguns instantes e acrescentou:

_ Agora, peça perdão a Deus. Ele esta sempre pronto a nos perdoar.

Diante dela, seu Antônio estava cabisbaixo. Depois levantou o olhar, as lágrimas desceram pelo rosto cansado e desgastado pelo tempo. Maria, em silêncio, deixou que ele chorasse ... e chorou junto com ele.

Algum tempo depois, ela se despediu. Precisava ir.

Ele perguntou-lhe:

_ Você vem amanhã?

_ Amanhã o senhor vai viajar, ela respondeu. Quando voltar, promet0 que venho visitá-lo.

Realmente ele iria fazer uma viagem para tratamento.

Ela ficou em casa, sempre pensando nele.

Ao retornar á cidade, seu Antônio não passou bem e precisou ser atendido em emergência.

Maria foi vê-lo. Encontrou-o na sala de atendimento, cercado pelos familiares.

Ao ver Maria, seu Antônio a chamou com o olhar.

Ela parou á sua frente, pegou suas mãos e disse:

_ Fique com Deus!

Com o coração batendo forte, ela saiu, andou até a porta. Seu Antônio virou-se lentamente, olhou para ela, fez um aceno e deu um pequeno e lindo sorriso.

No dia seguinte, ela soube de seu falecimento e pensou: "era para ser assim."

A recordação que guardaria daquele amigo seria sempre aquela: um doce sorriso de despedida ... E, então, seu coração se alegrou e encheu-se de paz!!!

Essa história foi baseada em fatos reais.

Izabel Teodoro
Enviado por Izabel Teodoro em 17/11/2009
Reeditado em 11/01/2010
Código do texto: T1929239