Celine e Mark, Mark e.
(para Julia)
Na madrugada de Lyon, além dos postes e raríssimos carros, havia apenas dois pontos iluminados em Rue d'Amis; com alguma audácia, apoiando-se no gesso que orna o Hotel Savant em toda sua volta, e por fim tomando impulso nas grades da quarta sacada da esquerda para a direita, se chegaria à janela que denunciava um dos pontos iluminados da rua: o quarto alugado por Mark McAroy. Desafiando ética e pudor, com mais dois passos curtos à frente, espreitando pelas cortinas finíssimas que farfalhavam janela afora, seriam revelados Celine e o sr. McAroy dentro do quarto, na cama.
Transavam ferozmente. Nem o amor das mulheres de sua vida proporcionaram a Mark o que Celine mostrou ser capaz de fazer. Preocupava-se em ser boa, mais que as outras, pois não todos os dias ela encontrava homens como Mark McAroy; belos como ele, de corpos bonitos e habilidade em usar aquilo que têm. Celine aproveitaria, tornaria bom para si. Fizera de Mark michê e pagaria com o corpo. Justo. Desenrolava-se ali um Mark, Celine, Celine, Mark fascinante.
Celine agora estava presa, e Mark mostrou ter ritmo. Por vezes fazia devagar e com firmeza, olhando-a fixamente nos olhinhos franceses, fitando sua pintinha preta no buço liso, segurando sua cintura, puxando-a pra si pelas coxas brancas, alisando fortemente sua pele. Com as mãos unidas, dedão com dedão, massageava a barriga de Celine até os seios. Dedicação aos mamilos. Celine, arqueada, expunha o queixo perfeito. Apoiado no colchão, Mark deixava a cabeça de Celine entre seus braços rijos; aproximou-se, queria aventurar-se num beijo. Quantos homens teriam passado por aquela boca miúda e promíscua? Dava o que pensar. Excitava Mark.
Empurrando-a com firmeza, respirava nela com a boca semi cerrada, mordiscava o lábio inferior soltando interjeições anasaladas que Celine imitava. A velocidade aumentaria num segundo, aos poucos; Mark provocaria a sua mulher, testaria sua sensibilidade. Mais rápido agora. Agora mais. Ainda aceleraria. Celine empurrava as paredes do mundo, derrubando-as, no alívio infinito, no vazio perfeito; duas, três, êne vezes. E continuaram.
Mark e Celine foram perfeitos, por mais de uma hora, servindo um ao outro. Cada um pagaria com o seu melhor e esta dívida Celine quitara. Pediu que McAroy a deixasse fumar na sacada; queria saber o que se via de Lyon do andar mais alto do grande Hotel Savant. Nua, constatou que não se via nada demais daquele ponto da cidade. Terminado o cigarro, voltou. Encontoru Mark com sua carteira de couro à mão.
Celine vestiu-se e agradeceu. Mark respondeu à despedida em francês perfeito e estendeu para a prostituta o pagamento combinado. Despreocupada, sobrancelhas erguidas, ela fez que não e rumou para fora do quarto.
- Don't mention, for today i'ts paid. Bye McAroy¹ – falou no inglês carregado do sensual sotaque dos franceses enquanto andava para a porta.
¹: Sem problema, por hoje está pago. Até, McAroy!