Rosas Vermelhas

Não acreditava no que seus olhos viam. Era impossível. Recebera um bilhete e uma rosa vermelha. Coisa melodramática, onde já se viu mandar rosa, símbolo da paixão para uma senhora meia idade. Com certeza era brincadeira de algum colega. Só por curiosidade antes de jogar no lixo, abriu, dentro uma frase “Olhe pela janela” é claro que não ia olhar, mas no fim do da frase estava escrito uma única palavra, que a fez levantar e olhar pela janela da sala da repartição, vazia agora, Graças a Deus, pois todos já tinham ido embora. Lá fora, parado na calçada estava aquele louco, aquele doido, lunático, olhando pra ela. Sentiu uma raiva tão grande, uma vontade louca de bater nele, de falar mal de tudo que era palavrão possível e o fez, bem baixinho: Filho da Puta, Viado, Desgraçado. E agora vou lá não vou? Tenho que fazer alguma coisa. Até quando ele vai ficar aí? E se meu marido resolve vir me buscar. Ai, ai, ai.

Pega suas coisas as chaves do carro e vai lá. Será que irão vê-los conversando? Quando sai não o vê mais. Intrigada procura com o olhar. Nada vê. Sumiu, será que imaginou? È deve ser isso mesmo, ficou tão nervosa que pensou tê-lo visto, é a menopausa. Tudo bem, melhor ir embora. Abre o carro. Coloca suas coisas dentro. Entra. Ajeita-se. Dá a partida. Engata a marcha, manobra e vai embora. Para. Sempre neste maldito farol, nunca consegue passar por ele. Pronto lá vêm os camelôs.

-Bom dia, senhora! Vai levar uma flor hoje?

- Não obrigada, fica para outro dia.

-Tome leve esta de presente, pela sua educação em nos atender. Pegou a rosa vermelha, sem notar um bilhete colado ao caule. Ao chegar a sua casa, saiu do carro dando a volta, para pegar suas coisas pela outra porta, como sempre fazia. Viu a rosa, colocou em cima dos livros, intrigada com o papelzinho colado ao caule, que só agora notara. Na sala, colocou tudo em cima da mesa, pegou a rosa, tirou o bilhete, onde estava escrito: "Camila, estou esperando no Bistrô!" Só uma pessoa a chamava por este nome, na verdade duas, mas uma delas sua Vó, já tinha morrido a outra, somente ele. Pegou sua bolsa as chaves do carro, deu meia volta, desceu a garagem. Entrou no carro e sem pensar foi o seu encontro. A Raiva crescendo dentro dela. Filho da Puta, quem pensa que é que direito tem de vir atrapalhar minha vida. Amo meu marido, meus filhos, desgraçado. Viado. A raiva era tanta que estava chorando e nem percebia. Chorava e falava palavrões. Quando chegou, estava mais aliviada. Como aquilo tinha começado? Essa merda de site de relacionamentos. Sua irmã insistira, se cadastrou em um. Um belo dia navegando, deu com a foto dele num desses sites, na página de um amigo de seu marido. Fizera a besteira de clicar, e a foto que apareceu balançou suas pernas, de tal maneira que teve que sentar. Reconhecera-o após trinta anos. Como era possível? Ela estava emocionada. Confusa. Mandara um recado, na esperança de que ele nem respondesse, que não a adicionaria. Algo que só os dois tinham passado juntos. Com certeza tinha esquecido. Vira nas fotos tanta felicidade, esposa, filhos, até netos. Mas para sua surpresa ele não só lembrava como recordava de coisas a muito, muito esquecidas. Começaram a se corresponder, a trocar fotos, de repente, o mundo começou a girar em volta de seus bate-papos, trocas de idéias, de coisas do cotidiano, do trabalho, da família, dos filhos, até dos netos. Sem que percebessem a distância, um sentimento único, forte, devagar mais consistente foi atraindo como num laço, cada vez mais apertado, até que quando deram conta, estavam dando tchau com beijinhos, beijos e apaixonados beijos de namorados. Sem nunca terem se tocados ou vistos pessoalmente. A coisa foi crescendo de tal maneira que ela teve medo do que sentia, da situação, de acontecer algo com sua família, com a sua vida enfim. Já era uma senhora tinha consciência não poderia agir feito uma adolescente tresloucada. Não tinha mais direito a paixão e ao amor. Coisa mais ridícula ficar apaixonada aos cinqüenta e poucos anos, o véia doida. Mas tomara uma decisão, não esperou nunca que ele fizesse isto sair do virtual para o real. Há quanto tempo relacionavam-se pela web? Acho que a uns três meses se tanto, A vida com seu marido até ficou melhor depois que começou este relacionamento doidivanos, inclusive no sexo. Terminava ali algo que nunca deveria ter se iniciado. Desceu do carro, não sem antes maquiar-se, ajeitou a roupa. Diacho deveria ter me arrumado melhor. Eitcha! Pensamento mais besta, Fechou o carro e foi a seu encontro. Entrou no pequeno restaurante, já viera antes com seu marido. Procurou nas mesas sem lograr avistá-lo. Perguntou ao garçom uma pessoa que estaria esperando, dando uma desculpa qualquer. Imediatamente acompanhou-o a uma mesa, num canto mais reservado nos fundos. Estava de costas. Virou e quando o fez, esqueceu completamente por que viera ali. Ao olhar em seus olhos, que foram tão dela. Sentiu a voz sumir, emitiu um: Oi! Ele nada disse. Pegou em suas mãos, ficou admirando por momentos, levou-as aos lábios. Beijou cada uma delas delicadamente, com respeito.

-Oi! Como você esta linda, Camila. Sente-se.

Sentou. Sentaram-se. Parecia não saber o que dizer. Disseram tanto pela internet. Conversaram tanto por e-mail, que não tinham muito que falar. Conheciam-se, sabiam disso. A vontade era se tocarem, sentirem suas mãos, o calor de cada um.

-Desculpe por vir até você, mas não pude mais resistir, tinha que vê-la.

-Entendo, ela falou. Entendo perfeitamente, mas, isso não lhe dá o direito de perturbar minha vida, colocar em risco tudo o que tenho e o que você também tem. Será que não pensou nisto? Será que ainda vive no passado e não percebeu que estamos vivendo um presente diferente do que já vivemos. Você está louco? Tenho vontade de chamá-lo de tudo quanto é nome e você vai ficar ai calado, não vai falar nada? Fala, fala alguma coisa! Páre de me olhar!

-Por que não queres que te olhe? Queres me xingar? À vontade. Não vim aqui perturbar a sua vida. Vim correr atrás da minha. E a minha vida é você. E não tenho jeito de suicida, vou lutar e correr pela minha vida, Camila. Também não vim mexer com o seu modo de vida, mas desde que nos correspondemos quer queiramos, quer não, mexeu com a minha, mexeu com a sua. Tenho o direito, temos o direito ao amor ou o nome que quiser dar a este sentimento, que também é teu senão não estaria aqui.

-Vamos fazer o seguinte: Jantaremos, Brindaremos, Conversaremos muito, aconteça o que acontecer de uma coisa temos certeza, melhores amigos não encontraremos. Topa?

-Sim, Camila, aceito. O tempo que para nós é curto dirá. Um brinde ao amor! Ao amor! Que como disse o Poeta: Seja eterno enquanto dure!

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 08/11/2009
Reeditado em 02/03/2010
Código do texto: T1912634
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