O Primeiro Beijo
Isidoro Machado
Andava pra lá e pra cá.
Sempre com uma menina na garupa. Não sabíamos se a mesma, pois, estavam sempre de capacetes.
Uma vez ao passarmos em frente à casa dele, lavava a moto. Foi quando o vimos sem capacete.
Moreno, alto, bonito, gostoso, charmoso, descrição de minha irmã mais nova que apesar disso, é bem mais desinibida que eu.
Mas, eis que um belo dia, sentadas em frente ao portão de casa, surge apenas ele e sua moto. Ninguém na garupa. Minha irmã,cara de pau, chama, assobia, faz gestos. Ele diminui a velocidade, manobra, faz a volta e pára.
- Oi!
- Oi! Responde minha irmã, que pede a ele para nos levar a dar uma volta. Logo minha outra irmã, aparece pedindo para levá-la também. Não se fez de rogado. Dá um capacete que estava preso à moto, para minha irmã, cara de pau.
Sobem na moto e lá se foram os dois. Ela toda contente eu preocupada. Logo voltam.
Dá o capacete a outra, ela sobe na moto e vão. Enquanto a cara de pau fica falando do quanto gostou, eu não sabia por que, mas estava apreensiva, parecia que demoravam muito. Mas, passados apenas alguns minutos, voltaram.
-E aí! Vamos?
Não entendi o porquê, mas senti uma alegria enorme. Coloquei o capacete, subi na moto, e nem falei tchau.
Demos umas voltas pelas ruas próximas, para pegar o balanço, o jeito da moto, adaptar meu peso ao dela, meu corpo ao dele. Pegou minhas mãos e puxou-as mais à frente, dizendo:
-Cole em mim!
-Colei!
Fomos em direção ao Parque Ibirapuera, na época o principal da cidade. Rodamos pelas ruas próximas, até entrarmos. Ruas e alamedas arborizadas. Fomos a uma espécie de estacionamento, onde demos varias voltas, fazendo “oitos”, “zerinhos”, “círculos”, mostrando habilidade conjunta, ele pilotando, e eu na garupa.
Paramos. Tiramos os capacetes, descemos da moto e caminhamos até uma pequena ponte encurvada sobre a água, bem no estilo Oriental. Num repente, ele me beijou. Beijei-o também. Passeando, paramos próximos a uns bancos, aonde nos sentamos e namoramos, gostosamente. Sentia uma atração, um prazer imenso. Quanto mais me beijava, mais beijá-lo eu queria. Quase não conversamos. Falar pra que?
Na volta vim agarradinha, apertadinha, bem juntinho dele. Quando chegamos, vieram correndo e logo entenderam. Desci. Tirei o capacete. Dei-lhe um beijinho.
Disse ele: - Guarde o capacete, pego amanhã.
Sorrindo, beijei-o novamente e me despedi.
Ninguém mais andaria naquela garupa, só eu.