OS COLARES DE MARAVILHAS

O noivado teve a duração de dois anos, pouco mais talvez, constituindo-se em dias que prolongaram o período do namoro, a fase em que ela literalmente
sentiu-se no céu. E então veio o casamento.

Brigar com ele era impossível. Resistir à sua amabilidade era uma prova diária e ela sempre acabava se sentindo gratificada.

Que ódio das outras, que olhavam com olhos de cobiça e algumas vezes agiam insinuando. Que gente mais agourenta, predizendo contrariedades futuras,
dizendo-lhe que ninguém nasce suficientemente capaz de manter uma farsa por muito tempo.

E então veio a doença.

Linda menina, mocinha extremamente vaidosa, adoeceu gravemente. Coisa esquisita, pernas paralisadas precisando dos braços dele para tudo.

Ao longo dos meses os amigos sumiram e os parentes arrumaram ocupações.

Ele não!

Ele deixou o emprego, arquivou todos os projetos pessoais e não arredou pé dos pés da cama.

Para alegrá-la tirava-a ao cair da tarde acomodando a maca sob um caramanchão florido e ali permaneciam conversando sobre um futuro que haveria de dar certo.

Ele tecia para ela colares de maravilhas, enfiando pétalas coloridas em um fio dental. Sobreviviam sem um emprego fixo, graças à criatividade com que ele
se pôs a manufaturar flores artificiais que vendia nas feiras livres.

Dizem que o amor cura.

Bem, ela hoje anda com suas próprias pernas.

Ao cair da tarde vai ao caramanchão em flores onde, entretanto, não tem coragem de tecer colares de maravilhas. Não ficariam iguais aos dele.

Na maioria das vezes precisa concordar com os agourentos que lhe previam futuro de dor. Ninguém nasce suficientemente capaz de manter uma farsa por muito tempo.

Ele faleceu sem mais nem menos. Simplesmente morreu como se fosse um passarinho.

Para ela tudo se passou como um sonho. Breve e maravilhoso, mas um sonho.

Um romance que lhe trouxe a cura.

Lucas Menck
Enviado por Lucas Menck em 14/10/2009
Reeditado em 24/12/2010
Código do texto: T1865215
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