AI, DRUMMOND!!!
No meio do caminho não tinha obstáculo, mas eu o enxerguei e parei.
No meio do caminho não tinha inimigo, mas eu o criei, o cultivei.
No meio do caminho não tinha preguiça, mas minha indolência me fez parar, parar devagar, tão devagar que, pelas minhas próprias pernas, caí.
No meio do caminho tinha uma carta de amor, que, por medo de sofrer, nunca abri.
No meio do caminho, tinha um livro, que eu não li, um diário, que eu não escrevi, e um segredo, que nunca contei. Na ignorância vivi.
No meio do caminho tinham amigos, muitos amigos! Ah os amigos..com os quais nunca chorei, nunca sorri e nem nunca confiei. A solidão amarguei.
No meio do caminho tinha uma criança, linda, meiga, para a qual eu virei as costas. Perdi a chance de aprender que a vida pode ser simples.
No meio do caminho tinha uma mulher. Disposta a tudo, mulher com força no coração. Tive medo e não me entreguei. De novo na solidão...
No meio do caminho tinha um desafio. Bolsa no exterior. Dois anos de batalha e, depois, o incerto. Não fui, fiquei e também acabei perdendo o emprego. Derrota!
No meio do caminho tinha uma música, a qual eu nunca senti. Alma fechada, ouvidos fechados. A emoção perdi.
No meio do caminho tinha uma perda. Perda enorme de um ente querido. Mas, isolado de todos, nem essa dor senti. Parecia também ter morrido.
No meio do caminho tinha um universo de oportunidades: sentir o vento na pele e nos cabelos, sentir o gosto salgado do mar, sentir um peixinho dourado fisgar meus dedos na busca do pão molhado, sentir o susto de um trovão, a gripe da chuva, a dor de um tornozelo contundido por esquiar de mal jeito, areia no olho, água no ouvido, susto de uma freada brusca, medo do assaltante...enfim, tudo desperdiçado. Ficou perdido o que nunca tive.
No meio do caminho tinha um universo, agora de possibilidades: poder ser um engenheiro, poder ser um maestro de uma orquestra filarmônica, poder ser um jogador de basquete, de futebol, publicitário, jornalista, motorista de caminhão, filósofo, garoto de programa...mas a nada disso me permiti. Mero carimbador maluco de uma vida sem graça me transformei!
Ai, Drummond!!! Quem me dera eu tivesse a sua pedra no meu caminho! Talvez eu tropeçasse e acordasse para a vida!