Sentimentos Indecifráveis
O céu está tão lindo, pensei olhando o céu escuro enquanto descia as escadas da estação de metrô, seguindo-o. Ele usava o uniforme preto da escola, tão lindo. O cabelo liso e dourado era um pouco maior que o usual, mas era tão perfeito que ele mal entrara na sala e todos os olhares femininos caíram sobre ele.
Gregory era seu nome. Ele tinha os olhos escuros e profundos, pareciam indecifráveis, seu corpo era tão perfeito que parecia ter sido esculpido pessoalmente por Deus.
Ele usava fones de ouvido enquanto movia os lábios, cantando a música. Eu conhecia aquela letra perfeitamente, era minha favorita, e pude saber que música era por movimento de seus lábios e pelo modo que ele marcava o tempo com o all star preto e branco enquanto esperava o trem.
Eu o observava do banco na parede. Como Gregory podia ser tão perfeito?
Meus devaneios foram interrompidos quando ele se virou para mim como se soubesse que eu o olhava. Imediatamente, desviei o olhar, tentando disfarçar. Ele voltou os olhos pra os trilhos, rindo.
Voltei a observá-lo e ele começou a estalar os dedos, substituindo as palmas que a banda usava. Era minha parte favorita de minha música favorita. Parecia provocação. Seu rosto se virou de forma rápida para mim, mas, dessa vez o encarei. Ele estava sério, mas parecia apreciar meu modo de olhá-lo.
Ele começou a caminhar em minha direção e pude sentir meu pulso acelerar, enquanto ele sentava sorrindo.
-Eu te vi na escola hoje. - Ele apoiou a cabeça nas mãos, deixando-a pender sobre o encosto do banco - Queria saber seu nome.
-Ah, eu estava lá, sim! - Não sabia o que dizer.
-Certo, qual o seu nome?
-Meu nome? - Rimos de minha confusão e pude responder - Emily.
-Sou Gregory, mas me chame de Greg. - Nesse instante, o trem parou na plataforma e ele se levantou me oferecendo sua mão forte - Vamos?
Olhei o trem lotado e fiz uma careta.
-Ah, vou esperar o próximo, desculpe.
Ele se virou e riu.
-Tem razão, vou ficar também.
Depois de algum tempo conversando sobre música, outro trem chegou e nos sentamos juntos.
-Então, você demora a descer? - Ele perguntou.
-Um pouco. Vou cruzar a cidade, desço na última estação. - Disse.
-Ótimo, desço lá também. Depois vou andando até em casa.
-Engraçado, eu também. - Fiquei surpresa imediatamente. - Somos vizinhos?
-Não sei, acabei de me mudar. - Ele riu passando a mão no cabelo.
-Bom, de qualquer forma, vou descer na próxima estação. Tenho que ir para a casa de uma amiga hoje.
Levantei-me segurando minha mochila com uma das mãos e a jogando em meu ombro. Quando me aproximei da porta ele prendeu meu pulso de forma urgente.
-Não vá. - Virei para olhá-lo e seus olhos pareciam tão angustiados que não pude negar seu pedido. Sentei-me novamente ao seu lado.
-Desculpe, isso deve parecer meio estranho. - Ele finalmente soltou meu pulso e segurou no banco como se não soubesse o que tinha feito.
-Tudo bem. - Ri descontraída.
-Para ser sincero, eu sinto... Um impulso muito forte de... - Ele abaixou a cabeça e não pude ver seu rosto por um segundo. - Ficar perto de você. Desde que te vi na escola hoje, eu sinto isso. Como se... Eu precisasse de você.
Eu não sabia o que dizer. Aquilo era ridículo, eu não acreditava em algo tão tosco como amor a primeira vista. Mas, de certa forma, eu sentia a mesma coisa. Aqueles olhos dele não pareciam mentir, era como se eu sempre o tivesse conhecido e então, ele parecia tão fácil de compreender que pude ler em seus olhos um sentimento desconhecido, um sentimento que eu também sentia.
Levei muito tempo para poder murmurar:
-Eu... Também.
Ele levantou o rosto e segurou meu queixo entre seus dedos, passou a outra mão em volta de minha cintura e não pude fazer nada senão envolver sua nuca com minhas mãos.