Dois caminhos dois amores
É foda mas não existe outra saída. Como aconteceu jamais saberia. O que aconteceu depois jamais saberemos. Por hora o que se sabe é que não existe mais saída. Estava muito bem posicionado em uma sinuca de bico. Para que lado correr quando voltar não é mais possível. Para frente sempre em frente. Quando permanecia em seus momentos de reflexão conseguia vislumbrar dois caminhos possíveis. O terceiro que era anterior se afigurava impossível. O fim fora fatal. Fatal substituindo final. Final pois nada restava a ser feito. Ele tentara. Ela tentara. Mas no fim os dois estavam secos. Mortos por dentro. A ternura se fora. O fogo frio do sexo não mais queimava. As queimaduras geladas da indiferença abriram caminho. Mas ele não desistiria. Dois caminhos se abriam a sua frente. Um parece estar bloqueado. Existe outro. O outro com toda certeza também está. Existe outro. Sempre existe outro para barrá-lo. Porque insistir nelas quando se sabe que nada vai acontecer. Ele não saberia responder. Nunca soube responder. Comandado por emoções que não dominava. Não controlava. Não resistia. Amava. Amava sem ser amado. Correspondia sem ser correspondido. Delirava. Arquitetava narrativas fantásticas de como seria. Elas nada sabiam. Ele não contaria. Ele não contou. Elas não perceberiam. Ele morreria por dentro. Mais um vez. Depois de tanto tempo naquele caminho não sabia mais o que fazer. Ela fora seu caminho por mais de meia década. Só ali ele sabia trilhar. Enferrujou. Ressecou. Ressentiu-se. Chorou. Mas os outros dois caminhos. Elas não saberiam. Ele as amaria. Elas não perceberiam. Ele as ama. Elas não sabem. Ele não pode escolher entre as duas. Ele quer ser tocado. Não quer se sentir sozinho. A outra o deixou. Tudo terminara. Tudo terminou e o deixou assim. Nada a declarar. Tudo para os novos caminhos. Por qual delas ele poderia caminhar. Qual o deixaria caminhar não sabia. Nos caminhos sempre existia outro. Elas amavam outros. Ele calava. Ele as amava. Não sabia escolher entre as que nunca teve. Ele calava. Beleza e inteligência. Carinho e bem-estar. Não podia escolher. Muitos caminhos poderiam ser trilhados. Escolhera estes dois. Elas tinham outro. Cada uma delas. Ele as amava. Elas não sabiam. Ele desejava o toque de qualquer das duas. Nenhuma mão aflita resvalava em sua pele. Elas não sabiam. Não tinham como saber. Não era indeciso. Queria um dos caminhos. Não importava qual. Procuraria o mínimo de felicidade possível em qualquer dos dois. Não suportava a solidão. Elas não sabiam. Elas não saberiam. Ele calava. Sofria. Lamentava. Existiam outros. Sua passagem estava obstruída. O caminho anterior lhe trouxera felicidade. Agora estava angustiado. Desesperado. Aflito. Sedento. Não suportava mais. Um revólver. Uma bala. Preparar apontar fogo! Foi covarde. Não acabou com sua vida. Os caminhos estavam ali. Ele as amava. Elas não sabiam. Amava cada uma distinta e singularmente. Elas não sabiam. Ele não contaria. Existiam outros. Sempre existia outro. Parecia querer sofrer. Mentia a si mesmo. Mentira a si mesmo. Mentiria a si mesmo. Não era bígamo nem cafajeste. Amava os dois caminhos. Amava as duas. Mas calava. Elas não saberiam. Tentaria aos poucos. Cairia e esfolaria seus joelhos. Arrancaria a angústia de seu peito. Ele as amaria como pudesse. De longe e de perto. Um toque. Um olá. Um beijo. Um abraço. Era só o que restava. Estava terminado. Estava destruído. O caminho fatal acabara com ele. Os outros dois caminhos lhe davam esperança. Mas estavam obstruídos. Ele esperaria. Ele as amava. Aguardava um palavra. Um olhar. Elas não saberiam. Elas não sabiam. Ele sabia. Calava. Sofria. Não sabia o que fazer. Não faria mesmo se soubesse. Mas amava seus caminhos. As duas com cabelos encaracolados. Duas morenas. Mas sempre existia outro. Ele morria. Mais uma morte em sua vida. Seu antigo caminho tinha os cabelos negros. Lisos. As curvas do cabelo das duas novas eram apaixonantes. Ele as amava. Elas não sabiam. Não saberiam. Eram baixas. Eles as amava. Uma mais graciosa que a outra. Mais belas em sua simplicidade aparente. Ele as amava. Calava. Sofria. Não contaria. Amava cada um dos caminhos com a mesma intensidade. Não importava qual trilhasse. Ele daria tudo que pudesse. Abdicaria de tudo. Viveria. Renasceria. Queria amar de novo. Amava de novo. Seus caminhos eram sua esperança. Elas sempre tinham outro. Chegara tarde demais. Calou-se.