LÁGRIMAS
Nesta tarde olhando os pingos da chuva estampados em minha vidraça, bateu uma saudade incomensurável de você.
As gotinhas pareciam fragmentos de um passado distante, porém sempre presente nos detalhes de meu cotidiano.
A gotinha da esquerda me fez lembrar um dia em nossa juventude, no qual parecíamos dois desvairados valsando nas areias da praia sob uma garoa fina em plena madrugada, e a água ajudando colar nossos corpos.
A gotinha mais acima trouxe de volta um momento também romântico, naquele restaurante quase vazio, onde comíamos entre risos quase contidos, tendo como fundo musical “As Time Goes Bye”, ao piano de um senhor alemão.
A gotinha da direita trazia com ela a sessão do Cinema Jangada, cujo filme não me lembro, mas lembro perfeitamente daquele “amasso” gostoso que provocava sussurros talvez de inveja ao casal sentado atrás.
A gotinha abaixo, escorrendo, na verdade não é uma gotinha; é sim o reflexo da lágrima que rola em meu rosto.
É a lágrima de um tempo feliz.
É a lágrima de uma tristeza por não saber aonde você se abriga da chuva nesse momento e se também tem uma vidraça do passado.
É a lágrima da saudade que escorre, seca e torna a escorrer de novo sempre que chove.
É a lágrima dedicada a você.