Um amor plenipotênciário (Parte III)

…. " Depois que reataram só os vi no dia do casamento. Estavam muito mais apaixonados. Ela era a noiva mais linda e feliz,ele o noivo mais realizado. A festa foi lindíssima e,advinha quem estava por lá?As rosas vermelhas!Estavam em toda parte. Nas mesas,arranjos,no buquê,entre outros estava num lugar especial.....no tapete que ligava ela a ele;sua cor vermelha,que simboliza paixão, estava ainda mais forte naquela manhã de início da primavera.

Após o casamento,ficamos muito tempo sem um contato mais próximo. Já fazia três anos e alguns meses desde o casamento,pra ser mais exato. O nobre casal,deixou a pacata cidade onde moravam para desbravar novas aventuras pelo mundo,natural quando se é jovem e apaixonado e tudo o que mais querem são novidades.

Embora afastado destes,sabiam que estavam muito bem,pois recebia inúmeras cartas dos meus queridos amigos. Providenciei uma caixa de madeira forte,talhei algumas gravuras e é nela que guardo desde a primeira carta,e já somam muitas até o dia de hoje. Não releio nenhuma,lembro exatamente de cada vírgula existente nelas,porque na verdade,minha memória arquiva de modo privilegiado as informações que fazem vibrar o coração. Mas devo confessar que a saudade era algo inevitável!

Andando pelas ruas de minha pequena cidade,agora nem tão pequena assim,avisto o casal mais lindo que já se formara na face desta Terra. Agora não são apenas dois,mas três. Ela está grávida!Apesar de já saber da notícia,fiquei muito feliz em vê-la neste estado,

Ela ainda mais bela aos sete meses da gestação de uma menina. O tempo lhe deu um toque ainda mais especial. Havia encanto que pairava a seu redor,estava sublime!Sublime!

Foi um surpreendente encontro!Maravilhoso tê-los bem ali na minha frente. Haviam chegado na cidade há poucas horas.

Mas adiante de onde os encontrei havia uma praça,rodeada de belas e antigas árvores,um lugar calmo em meio ao miolo do agitado transitar de veículos. Seguimos até lá. Ficamos conversando por algum tempo,estava muito calor quando decidimos tomar um sorvete do outro lado da rua.

Quando atravessávamos a movimentada avenida,ela tropeça em algo e sofre uma queda,estava de mãos dadas a ele,porém devido a queda as mãos soltam-se. Quanto a ela,nada grave lhe foi ocorrido ,mas nada pode impedir que o pior ocorresse. Uma moto que não obedeceu a sinalização,surge da esquina a esquerda,tenta parar mas não consegue e acerta a futura mamãe com tudo. Eu virei o rosto para olhá-la e pensei:não é possível!Em fração de segundos um desastre acontece,bem ali diante dos meus olhos.

Em pouco tempo a ambulância já está no local,ela ainda consciente suplica a Deus socorro e implora que sua filha seja salva. Ele diz que tudo ficará bem,afim de acalmá-la.

Foi terrível!Como o destino poderia ter reservado algo tão repugnante a ela?

Não consigo estabelecer coerência entre os fatos ocorridos,eu já havia atravessado;ele quando sente a mão dela desprender-se não pensa ser algo grave. Ele a olha e ela ri do episódio. Quando eu volto meu rosto,já contemplo a moto na direção dela. Tudo foi muito rápido. Fiquei ali vendo acontecer em lentidão,parecia estar preso ao chão.

Já no hospital,o nervosismo toma conta de todos nós. Ele tentava ficar tranquilo .

A família já havia sido comunicada e chegavam aos poucos em busca de informações. Eu,apesar de esperançoso sou muito realista,realmente não aguardava boas notícias,o acidente não foi algo leve,ela perdeu muito sangue;imagino que também tenha sentido muitas dores,e imerso em meus pensamentos fui interrompido pela presença de uma equipe médica que trazia informações. Logo,me pus ao lado dele. O doutor disse então que foi preciso realizar procedimentos compatíveis ao caso da paciente,e um parto de emergência foi realizado. O bebê foi retirado com vida e aspira certos cuidados. Todos vibram,mas a tensão ainda era presente. O médico continuou dizendo que ele agora era pai de uma linda menina;as esperanças se renovaram dentro dele,porém o coração apertado,não havia recebido notícias dela. Estava feliz por saber de sua princesinha,mas faltava saber dela. Foi então que o médico coloca a mão em seu ombro e diz:o bebê nasceu com vida e ficará bem,quanto a mãe ,já fizemos o que poderia ser feito. O estado de sua esposa é realmente preocupante. Você acredita em Deus?Se sim,agarre-se a ele!

Ficamos todos ali,tentando amenizar a dor que sentíamos. Enquanto a equipe se afastava. Neste instante,o mais novo pai percebe que pode perder sua amada. Lágrimas não mais conseguem expressar a dor sentida.

Horas depois,a enfermeira o conduz até sua filha. Já no berçário ele contempla a sua filha perfeita,está vendo o fruto de um amor bem ali diante na sua frente. Inevitavelmente,a felicidade invade seu ser. Fica ali parado olhando e faria isto pelo resto de sua vida sem se cansar. Na verdade,parecia estar buscando nela forças para permanecer esperançoso.

Ao sair dali,o médico o conduz até sua esposa,que havia entrado em coma logo após o parto;o médico está certo de que ela tem poco tempo.

Ao chegar no quarto ,a cena é dramática,ele vê sua esposa tendo algumas convulsões,o trabalho dos médicos é intenso na tentativa de salvar aquela vida. De imediato,ele pega na mão dela e em meio ao desespero vê sua amada entre a vida e a morte. As forças vão lhe faltando,,ele implora a Deus misericórdia,apesar de tamanha angústia queria permanecer ali ao lado daquela que sempre foi seu amor,porém não o foi concedido.

Antes de retornar a sala de espera,onde estávamos,ele vai ver sua filha. Ali,como que está paralisado,olha fixamente para aquele ser que transborda esperança e paz,busca forças para suportar o momento que vive. Ele percebe,que apesar de tudo,aquele bebê ,fruto de um amor consciente, precisava dele para viver,ele tinha agora uma maior responsabilidade diante da vida,tinha uma filha e isto muda tudo.

Segue então para onde estamos. Foram horas de muito sofrimento e incerteza. Já era tarde da noite quando recebemos informações de que ela permanecia em estado grave. Ainda assim ficamos mais confortados,pois permanecia viva. A noite não houve quem dormisse,ele extremamente inquieto oscilava entre momentos de mansidão e extremo descontrole.

Na manhã seguinte,o céu de nossa esperança começou a colorir,pois fomos informados de que ela apresentou pequena melhora. O dia se passou com enorme vagareza, todos exaustos e ele muito abatido. Fizemos mais um lanche por ali e sem nem notarmos já era noite mais uma vez.

Por volta das dez horas da noite o médico nos diz que é possível que duas pessoas tenham acesso a ela,uma vez que está saiu do quadro de gravidade outrora comunicado.

Como tal notícia foi benvinda!a alegria nos invadiu de modo transbordante!Eu e ele,fomos levados até ela,que agora está melhor,pelo menos é o que mostra sua aparência. Ao aproximar-se ele diz imediatamente que a criança está bem e que ela não precisava se preocupar. Constatado que de fato a saúde dela parece está ressurgindo,fico mais aliviado. Ela sorri pra mim,me aproximo e digo que tudo ficará bem;o que mais poderia dizer naquele momento?Fiquei pensando e diante do casal disse que o fruto daquele amor era a jóia de mais rara beleza,isto a encheu de felicidade.

A enfermeira traz o bebê até a mãe,a emoção visitou a todos nós. Foi sem dúvidas um momento inesquecível!

Dentro de mais alguns dias ela recebe alta,saiu do hospital já praticamente recuperada.Enfim, o fim do pesadelo!

Ela não mais poderia conceber outra criança.Apesar da condição imposta pela vida,o clima era de intensa felicidade e gratidão a Deus.

Como poderia imaginar que um simples sorvete causaria tanto sofrimento?Se pudesse prever o futuro ia preferi ter ficado com a garganta seca e suportar o calor sem danos maiores....."

Menina dos Damascos
Enviado por Menina dos Damascos em 03/10/2009
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