LABIRINTO

     E o tempo corria ligeiro sobre nossas cabeças pensantes, um futuro que ia e vinha em voltas paradoxais. Algo assim semelhante a sentimentos confusos! Algo novo a surgir nas gotas transparentes da chuva que cai diante dos meus olhos... No entanto o que isto traz de novo? Parece que nada, mas, a canção é diferente. A melodia das cores nesta ausência de sol me remete a lembranças recentes, a palavras e sorrisos de crianças em um playground, o parque da vida, tão cheio de mistérios e surpresas. Na verdade sei o que sinto, mas não posso me arriscar outra vez, apesar da chuva trazer um pouco de alegria aos meus pensamentos, a distância é uma tortura, o teu sorriso, emoldurado, é um alento.

     Dias passam, mas não chegam nunca, pois não há nada para esperar. A mágica e a dança se misturam dentro da minha cabeça e mais uma vez não consigo me furtar de tua imagem, que me segue feito sombra, que me assombra só em pensar nos teus lábios selados, alheios a tudo que acontece no meu íntimo, um vulcão adormecido aparentemente, mas ativamente vivo em sua plenitude natural.

     A noite vem e eu mergulho num voo em direção à lua, vencendo o espaço numa velocidade estonteante, levando comigo uma paz suave, um caminho de luz a clarear meu coração, um voo solitário, quem sabe a procura de um duo. O compasso de minha respiração segue num ritmo próprio, ditado pelo tamanho da saudade distante de lembranças contínuas. Minhas mãos desenham a forma de teu ser, que marca profundamente o tempo presente e passado em linhas cortantes, que perpassam meu olhar atento para com as curvas de teu corpo em meu ser, como anjos flagrados divertindo-se com suas asas, voando, voando, voando sem parar.

     Realmente o tempo corre ligeiro, quase sempre não conseguimos acompanhá-lo. De repente nosso futuro já é passado, e quando percebemos que gostamos de alguém, já não amamos a nós mesmos, e a chuva continua a cair, como se fosse nossas lágrimas derramadas por um amor que simplesmente não foi vivido, mas que permaneceu constantemente embalado pela canção da saudade, melodia de uma eterna paixão.

     A vida é assim feito um rio, às vezes longo e caudaloso ou de águas cristalinas, ora permanente ora temporário, mas sempre com uma certeza, a de que vai direto para os braços do grande mar. O mar é sempre majestoso, guarda em si segredos e estórias mil. O mar da espera no porto da chegada, onde uma cama macia está sempre pronta para os aventureiros que chegam à terra. Assim somos nós. Marujos e aventureiros, a procura do porto seguro, mas sempre próximo do perigo de se viver.

     Em meu barco leve e solto, às velas são teus olhos, minhas amarras teu sorriso, e meu camarinho para descanso teu corpo cheiroso, perfumado, a embriagar-me com o mais puro rum, levando-me a dormir e sonhar em teus braços e abraços na cama de pinho e nos lençóis de linho branco, feito tua pura inocência de menina, mulher e amante. Meu coração? Ah meu coração!...Um pobre náufrago nas águas traiçoeiras de um amor ardente, destino incerto para alguém que queria apenas sonhar...
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 01/10/2009
Reeditado em 03/10/2021
Código do texto: T1842255
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