EU SÓ QUERIA AMAR

Eu tentei. Bem que tentei. Fiz promessas, rezei dias e noites inteiras. Pedi conselhos que eu nunca segui. Não consegui resistir, no final das contas. No fundo, eu não queria resistir mesmo. Quando eu pensei que iria me apaixonar novamente?

Casei muito cedo e com meu primeiro namorado. Nem bem tinha vinte anos e um dia me dei conta que estava grávida. Depois da fase do surto familiar, casei com meu marido, que era apenas três anos mais velho que eu. Portanto, muito jovem também. No início, até que nos saímos bem. Meu filho nasceu, engravidei de novo. Larguei os estudos para cuidar das crianças, enquanto meu marido progredia no trabalho. Dez anos depois de casados e com dois filhos, voltei a estudar, para aborrecimento dele. Nem me importei. Deixei meus garotos com minha mãe e fui à luta. Assim como Ricardo, meu marido, eu também progredi e consegui um bom emprego antes mesmo de me formar. É, ele não gostou nem um pouco e eu não me importei se ele estava gostando ou não. Aquela altura, meu casamento já não ía muito bem. Desconfiava que Ricardo estava tendo alguns casos. De novo não me importei. Eu me preocupava era com o bem estar dos meninos e o meu. E claro, com o meu trabalho.

De qualquer forma, quando aconteceu tudo, eu me choquei. Não pensava que iria me apaixonar novamente. Paixão, amor, envolvimento... estas palavras não constavam mais no meu vocabulário. Só lembro que me apaixonei no primeiro olhar. Me senti uma bobalhona adolescente. Com 46 anos, eu não tinha mais idade para sentir certas emoções. Gaguejar, ficar vermelha e não ter o que dizer. Foi assim que fiquei por causa de um homem de 27 anos, tão mais novo que eu.

A princípio, não percebi nenhum interesse vindo dele. Eu imaginava que ele me achava uma velha gagá e tímida e com tantas mulheres jovens rodeando-o, por que ele iria se interessar justamente por mim?

Mas quiseram os deuses que nós nos apaixonássemos loucamente. Eu resisti enquanto deu, enquanto pude, enquanto eu quis. A pessoas mais íntimas contei o que sentia e ouvi toda sorte de conselhos. Não segui nenhum. Por fim, mesmo casada, atirei-me de cabeça naquele louco amor. Se Ricardo desconfiou, disfarçou muito bem. Meus filhos, já jovens de quase vinte anos, estavam preocupados com suas namoradas, faculdades, viagens. E eu me vi livre, para viver um amor adolescente, um amor que me encantava com palavras doces e ardentes. E, sinceramente, por alguns momentos eu achei que viveria aquela felicidade para o resto da minha vida.

Quando eu menos esperava, então, um dia meu amante me comunicou que estava sendo transferido para o norte do país, para outra filial da empresa. Fiquei muda, estática, chocada. Esperei o convite, o pedido, qualquer coisa que sinalizasse que ele desejava que eu o acompanhasse naquela nova etapa da sua vida. Infelizmente, nada aconteceu. Simplesmente eu apenas fui informada de uma decisão importante da vida dele. E eu não estava incluída nos seus planos.

Depois que percebi que eu tinha literalmente sobrado, meu mundo desabou. Meus olhos só passaram a enxergar em preto e branco, o sol não brilhava mais nem quando o céu estava estupidamente azul. Eu caminhava pelas ruas como um robô, tentando encontrar desesperadamente uma resposta para ter sido abandonada daquele jeito, rejeitada como uma qualquer.

E eu nunca fui uma qualquer. Eu sou uma mulher como qualquer outra. Uma mulher que como todas as outras sonha viver um grande amor. E eu vivi. E vivi tão intensamente que passou rápido demais. Quando despertei dentro deste pesadelo sem data para terminar, cheguei a me perguntar se ele havia existido realmente. Pena que nunca foi um sonho, cansei de dizer para mim mesma. Se houvesse sido um sonho, eu apenas teria acordado e tocado minha vida. Só que foi tudo tão real que ainda hoje dói meu peito, meu coração bate tresloucado quando eu lembro dele, quando as lembranças vem impiedosas e eu não posso fazer mais nada a não ser lembrar, lembrar, lembrar…

Dizem que o tempo cura tudo e eu acredito que sim. O problema é que cada minuto da minha vida leva um dia inteiro para passar. Meu sonho de felicidade virou pó. Continuo vivendo com Ricardo, meus filhotes cada vez mais distantes. Cada um no seu canto. Meu marido com seus casinhos. Eu tentando sobreviver a um pé na bunda. Do outro, nunca mais tive notícias. Nem um mail, nenhum torpedo, absolutamente nada. Para ele, eu fui mais uma. Para mim, ele foi meu tudo.

Estou desesperadamente buscando a superfície para respirar.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 25/09/2009
Código do texto: T1831983