Alice
Lúcio e Linda já levavam a vida juntos a cerca de cinco ou seis anos antes de resolverem de uma vez trocarem alianças, ou como diria Linda: quando Lúcio realmente tomara vergonha; o próprio admitia que quase esqueceu que não eram legalmente casados mas a filha nasceria dois meses a frente e o acontecimento quase inesperado pareceu ter lhe dado impulso. Dizia. E assim chegou a oportunidade de ouvir o padre pausadamente pronunciar a conhecida frase: eu os declaro, marido e mulher. Pode beijar a noiva...
A enorme fileira de carros os seguiria enquanto se dirigiam a chácara onde estava marcada a festa da cerimônia. Durante a manhã seguinte haveria um churrasco. Esperavam uma mesa grande com um bolo de quatro andares sobre esta, convidados aos montes, mas não o que viera de Linda assim que saíram da Igreja:
- por que os padres sempre dizem pode beijar a noiva? É machismo...
- a bíblia não é machista?! Os padres também devem ser também – disse Lúcio.
- a bíblia é de tempos bem antigos – retorquiu ela entrando no carro de aluguel – onde machismo era lei, as coisas mudaram Lúcio...
- ela deve ser o manual deles sabe? Ou então é hereditário – explicou Lúcio que entrara logo atrás dela. Os ombros cheios de arroz jogado pelo corredor de pessoas que os cercaram até a porta do automóvel.
Linda riu. Ambos riram muito e Lúcio imaginou se eram exatamente aquelas palavras que os noivos trocavam sempre na saída? O que o fez perguntar a si mesmo o que era que os jornalistas se perguntavam enquanto o jornal finalizava por trás dos créditos finais. O motorista entrou e Linda aproximou-se lhe chapando um beijo e ele esqueceu toda aquela bobagem. Havia algo melhor a se pensar: na festa logo a frente, a filhinha que não demoraria a vir...
Champanhe; cumprimentos aos noivos, cadeiras espalhadas pela propriedade, gritaria, música. Tudo se misturava e o divertia. Linda estava enorme e reclamou do calor e do desconforto, assim deixaram os convidados a sóis um pouco. A festa poderia durar a noite toda, mas esta se sentia cansada demais para tanto e após cumprimentar o máximo dos parentes e outros convidados explicou o quanto não queria, mas precisaria deixá-los e que se divertissem. Lúcio ainda permaneceu um pouco antes de ir repousar junto com a esposa e apesar da barulheira não demoraram a adormecer após trocarem beijos e palavras carinhosas. O Sexo já se tornava escasso aquela altura da gravidez, contudo Lúcio mostrava-se pouco afetado com a desvantagem.
Alice (esse era o nome do bebê que se aproximava) ainda teimou em permanecer no interior da mãe por cerca de quinze dias após o prazo dado pelo médico. Como dizia Lúcio:
- ele perdeu aposta para Alice. É sinal de esperteza dela sabia?
Linda ria apesar de que ultimamente estivera muito nervosa. Julgava ser da gravidez.
- você não existe viu – dizia enquanto imaginava quão feliz havia se tornado. Não totalmente, mas parcialmente ou em pelo menos 90% de cada dia.
Alice enfim nasceu. Um parto normal lá pelas sete horas da manhã após causar dores profundas a Linda por dois dias e duas noites inteiras. Lúcio conseguiu uma licença no trabalho e correu ao hospital. Chegou a tempo de ver a pequenina sendo levada ao quarto onde Linda dormia. Pequenina e branquinha, olhos fechados, enrolada em lençóis... Parecia-lhe um daqueles anjos pintados em quadros religiosos. Não, era mais linda que aqueles. Tão linda quanto à mãe. Teve vontade de chorar, mas havia lá os parentes e outras visitas. Poderia guardar isso para depois. No momento o que mais importava a si era a recém-chegada e Linda; ambas adormecidas. Sentou-se paciente esperando que acordassem ansioso de dar um beijo na esposa. Ansioso por ver que cor de olhos Alice teria...