Embriagado de Amor ( Adam Sandler )
Embriagado de Amor - (2002)
Punch-Drunk Love
por Raul Lemos Arthuso
Todos achavam que Paul Thomas Anderson havia surtado. Depois de se consagrar pelo polêmico Boogie Nights – Prazer Sem Limites e encantar com o maravilhoso Magnólia, P. T. Anderson (como gosta de ser chamado) resolveu fazer uma comédia cujo protagonista era ninguém menos que Adam Sandler, conhecido por seus fracassos de crítica. Pois a exótica mistura acaba dando certo e Embriagado de Amor se mostra um filme minimalista e cheio de citações e simbologias. O filme começa quando Barry, um homem com uma pequena empresa e que é controlado emocionalmente por suas sete irmãs, encontra um piano deixado na frente de sua empresa não se sabe por quem. Um dia, ele liga para uma empresa de acompanhantes por telefone e fornece seus dados para a garota que o atende. No dia seguinte ela começa uma chantagem com Barry para que ele a empreste dinheiro. Nisso tudo, uma de suas irmãs apresenta Lena para Barry e eles logo se apaixonam, porém Barry começa a ser perseguido por uma gangue de amigos da atendente. Barry comprava pudins para ganhar milhas de viagem para o resto de sua vida. Ele viaja então para o Havaí atrás de Lena, tentando arranjar um jeito de escapar da gangue que o atormenta. Ver um filme de PTA é uma viagem por um raro e surpreendente estilo estético, passando para a tela sensações e diversas citações através de tomadas e movimentos de câmera belíssimos, como aquele em que Anderson tenta nos mostrar como suas irmãs controlam suas vida enquanto ele está numa reunião com alguns clientes. Seus movimentos de câmera continuam tão sensíveis e ao mesmo tempo imponentes como os de Magnólia, apesar de ele conseguir passar um clima totalmente oposto ao de Embriagado de Amor. Aqui temos um filme leve e bonito, com diversas citações que refletem o clima da personagem. O roteiro do filme é bem ao estilo de Anderson: situações diferentes, chegando a ser até bizarras, diálogos que investem em frases fortes e cenas refletem o tipo comportamental de cada personagem com perfeição. A influência de Tarantino, Scorsese e Robert Altman é inegável. O minimalismo e a força do protagonista são coisas impossíveis de serem dignas de aplausos. Anderson também consegue tirar tanto de seus atores que até atores como Adam Sandler conseguem fazer um personagem dramático e tímido com muita qualidade. Ele faz exatamente aquilo que o personagem deveria ser: um sujeito controlado que perde sua paciência com facilidade e acaba fazendo bobagens. Sua timidez e falta de controle sobre seus sentimentos é com que faz o público torcer pelo seu amor com Lena e para que ele se livre logo de suas irmãs. Barry encanta o público com sua simplicidade e Sandler está perfeito nesse papel fazendo seu melhor trabalho. Emily Watson também faz um belo trabalho, apesar de sua personagem não ser tão forte quanto Barry. Infelizmente, Philip Seymour Hoffman também uma participação pequena e quase vemos seu talento na tela. Entretanto, as citações e pequenos detalhes continuam lá e tornam o filme mais interessante ainda. Na cena em que Barry vai à casa de Lena pela primeira vez e vemos várias vezes a palavra “EXIT”, como se Lena fosse a saída para seus problemas, com Barry correndo freneticamente para achar o apartamento da amada, cena que, conduzida com perfeição por Anderson, remete à busca desesperada de Barry por uma saída para seus problemas, representada por Lena. Outra citação é o terno azul que Barry usa durante todo o filme. Azul é a cor da calma, da espera que Barry terá que ter para dar um rumo certo à sua vida. Quando Lena vai à sua empresa e a atendente começa a telefonar para Barry, sua irmã começa a pressioná-lo e a empresa entra num caos, remeta à bagunça que a vida de Barry se encontra. Quando Barry telefona para Lena através de um telefone público no Havaí, acende uma luz dentro da cabine quando ela atende ao telefone, uma belíssima citação à plenitude do sentimento de amor que Barry sente. Outra citação (e esta é bem mais interpretativa da minha parte) é quando Barry vai atrás do gangster que o persegue e leva o telefone junto; é como de todo problema (que começou por causa de um telefonema) estivesse ligado a ele e quando ele resolve o problema com o gangster ele deixa o telefone na loja de colchões do inimigo, onde o problema começou, se desligando do problema (tanto o gangster quanto o telefone ou telefonema). E o que dizer das cenas em que a câmera perde seu foco e embaça como se o observador estivesse bêbado de tanto amor que Barry e Lena despejam um pelo outro?! Contudo, o que quer dizer o piano que Barry encontra logo no início do filme? Parece-me a liberdade que Barry vai ter que aprender a adquirir. O amor de Lena é a chave para essa liberdade. Por isso, quanto mais ele e Lena se apaixonam, Barry aprende a tocar o piano melhor e vai se livrando da influência das irmãs. Quando Barry se livra de todos os problemas, ele aprende a tocar o piano com facilidade e seu amor com Lena chega ao auge. Não é lindo ver um filme tão minimalista?! Assim, Anderson não decepciona e faz um dos melhores filmes do ano lançados no Brasil, fazendo uma comédia romântica diferente e, o melhor de tudo, inteligente, provando, com Embriagado de Amor, ser um dos melhores diretores da atualidade e deixando os fãs cada vez mais ansiosos por um novo filme ao seu estilo, experimental e ao mesmo tempo sensível e minimalista.