As Outras  

(Inspirado livremente na canção “A outra” do grupo Los Hermanos)
 
    Júlia ia ligar pela sexta vez, mas desistiu ao notar que estava perdendo o controle do ciúme. Continuou com o telefone sem fio nas mãos, porém sentou-se no sofá afim de se acalmar. Continuou fitando o aparelho pensando se ligava ou não. Foi até a janela de seu apartamento que ficava no décimo andar de um prédio de vinte andares. De sua varanda ela podia ver o estádio Mário Filho, mais conhecido como estádio do Maracanã. As vezes as luzes do estádio à acalmavam. Mas nesse dia não havia jogo, portanto não havia luzes. Voltou-se para dentro de casa.
    Jogou o telefone contra o sofá e foi até a cozinha. Foi então que alguém abriu a porta do apartamento vagarosamente. Seus olhos instintivamente andaram na direção do relógio que ficava próximo da geladeira prateada, presente de casamento de seu pai. Eram três da madrugada.
    Miguel entrou no apartamento sabendo o que o aguardava. Segurando com cuidado um buquê de flores, passou pela sala e parou na porta da cozinha ao notar que Júlia estava lá.
    -Oi, amor!-disse ele reparando o cenho cerrado de sua esposa. – você não vai acreditar que a reunião só foi acabar agora?
    Júlia passou por ele e abriu a geladeira. Miguel se sentiu um fantasma, era como se ela não o tivesse notado ali.- Hein,amor? Você acredita? A reunião só acabou agora! Meu chefe tá ficando maluco. Mas já avisei a ele que acabou essa palhaçada de reunião sexta-feira. Não quero que você fique desconfiando de mim.
    A moça parou e ficou o encarando com um olhar cortante, que mostrava exatamente como estava aborrecida.
    -Amor, fala alguma coisa! Eu te liguei, mas o telefone só dava ocupado! Você estava na internet?
    Júlia sentiu seu coração sacolejar. Ela ligou tantas vezes para o esposo que, provavelmente, enquanto ele estava ligando para casa, o telefone estaria ocupado. Mas preferiu se manter séria e com ar de invocada. Sabia que seu olhar de raiva fazia-o se sentir culpado por menor que fosse o deslize.
    -Jú, fala alguma coisa! Eu estava no escritório, em reunião. Não estou mentindo!
    -E quem disse que eu acho que você está mentindo? Claro que eu acredito que, em plena sexta-feira, nesse calorzão, você estava em reunião com seu chefe, no seu escritório que fica ali no centro da cidade, bem próximo aos barzinhos mais cools da cidade. Barzinhos, aliás, que íamos tanto, mas depois de dois anos, sabe-se lá o porquê, você não me leva mais!- falou Júlia com um tom de voz agressivo e rápido. Costumava a falar rápido quando estava nervosa, era como se ela quisesse despejar logo todas as palavras engolidas.
    -Você está debochando?
    -Eu? Debochando de você? Claro que não! Está achando isso porquê?
    Miguel deixou as flores sobre o armário da cozinha e foi para o quarto. Júlia pegou as flores, as cheirou, e foi até o quarto. Ficou parada na porta do cômodo enquanto o marido tirava as meias.
    -São três horas da manhã. Você sabe que sou ciumenta! Você sabe muito bem disso!
    -Júlia, eu sei. Já conversamos sobre isso, amor!.-disse Miguel tirando sua blusa branca que se encontrava com uma imensa borra de suor na região das costas.- Mas é verdade! A empresa está prestes a fechar contrato com uma multinacional que tem matriz em Londres! Se essa parceria acontecer, meu salário vai triplicar, e nós finalmente iremos conhecer Fernando de Noronha!
    Júlia ficou balançada. Os olhos de Miguel lacrimejando. Talvez ele estivesse falando a verdade, pensou consigo.
    Miguel se levantou e tirou as calças. Ficou de cuecas e foi até o banheiro. Passou por Júlia e tentou beijá-la. Ela virou o rosto. Ainda estava chateada e irritada. Era comum se sentir assim atualmente. No início era uma mulher segura, feliz. Sentia-se feliz todas as manhãs. Porém, após alguns meses morando com Miguel, ela começou a sentir ciúmes de tudo. Sentia que estava ficando obsessiva, mas não conseguia controlar. Até pensara em fazer terapia, mas achava que Miguel iria achar que estava ficando louca.
    No banheiro, o rapaz lavava o rosto enquanto esperava a água do chuveiro esquentar. Às vezes demorava um pouco pois o aquecedor à gás era antigo. Já pensara várias vezes em mudar o chuveiro por um chuveiro elétrico. Mas Júlia implicava dizendo que a água de chuveiro elétrico era muito escassa. Não tinha aquele jato d’água que o chuveiro comum com aquecedor tinha. Não gostava de contrariá-la. Mas ficava pensando em como no início tudo era tão lindo, tão divertido. Perguntava-se por onde andaria aquela mulher pela qual ele arriscou tudo para viver junto.
    Entrou debaixo da água do chuveiro. Controlou um pouco a temperatura dela abrindo a torneira de água fria. Fechou os olhos e ficou cantarolando.
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     Vitória acendeu o cigarro com o fogo da vela acesa ao seu lado. Respirou fundo antes de dar a primeira tragada. Um rapaz deitou-se ao seu lado. Ela sorriu. Entrou por debaixo das cobertas e ficou beijando sua barriga. Adorava quando ele fazia aquilo. Continuou fumando seu cigarro.
    -Que horas você vai embora?-perguntou.
    -Num sei, provavelmente às dez, porquê?-respondeu ele.
    -Nada. Só para saber. Acho que hoje devo dar uma passadinha lá na Lapa. Meus amigos do trabalho estarão por lá. Me mandaram uma mensagem no Orkut agora a pouco.
    -Fazer o que na Lapa, Vitória? O tempo tá fechadão, vai chover essa madrugada. Fica em casa, menina!-Falou o rapaz ainda debaixo das cobertas.
    Vitória deu uma gargalhada. E após isso tragou mais uma vez.
    -Vai se foder, cara! Que que é? Agora você vai ficar me controlando? Agora não posso sair mais?
    -Não é isso! Só acho que se está ameaçando chover, e a moça do jornal estiver certa, melhor seria ficar em casa, né? Seria o mais coerente.
    -Coerente? Quem é você para falar de coerência? Todo errado! Ai! Ai! Mas fica tranqüilo, a maioria dos meus amigos do trabalho são gays. Não corre o risco de você ser corno, não. E outra, se você pode ter outras, por que eu não posso ter outros?- comentou Vitória empurrando a cabeça do rapaz para fora das cobertas.
    Ele saiu e ficou a observando.
    -Me fala, Miguel!-insistiu.- Por que você pode ter uma outra pessoa e eu não?
    Miguel ficou em silêncio.
    -Nunca vi alguém tão quebradora de climas! Deus do céu! E não me venha com essa não, tá bom? Eu tenho uma es-po-sa! Não é um ou-tra qualquer!
    -Ah é? Então porque você não vai lá transar com sua es-po-sa? Vai lá! Preciso me arrumar para sair com meus a-mi-gos.- avisou Vitória imitando o modo pausado de falar do rapaz.
    Miguel levantou-se da cama e começou a se vestir.
    -Ficou irritadinho é?
    -Se foder! Você está tão ridícula, Vitória! Tão ridícula! Não sei porque ainda venho me encontrar com você!
    -Porque eu faço tudo aquilo que sua esposa fresca não faz! Eu sou a mulher de verdade. Sou eu quem você procura, sou eu que você sempre quer! Quer mais motivos?
    -Maluca! Você é maluca!
    -Ah eu sou maluca?
    -Isso mesmo! Malucona! Uma pirada que se acha a pessoa mais foda do mundo!  Vou te falar, você não é isso tudo que você pensa não ,entendeu?
    -Não é o que dizem...-comentou Vitória sendo lacônica. Sabia que aquilo enfezaria Miguel.
    -Ah, os outros dizem? Que outros? Quem são os outros?
    -Os outros?-perguntou em tom de deboche.
    -Isso mesmo! Quem são esses outros?
    -Os outros não é aquele filme com a Nicole...Nicole...Aquela que fez Moulin Rouge?
    Miguel estava ficando irritado. Não queria, mas morria de ciúmes de Vitória. Pegou suas coisas, sua bolsa e foi até a porta.
    -É por essas e outras que eu entendo minhas atitudes. Por isso que não me arrependo das minhas decisões!-disse saindo e batendo a porta.
    Vitória sorriu. Adorava o irritar. Mas no fundo, bem lá no fundo, ela sentia saudade quando ele saía e voltava para os braços de Júlia.
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     O zoológico estava cheio. Era feriado de sete de setembro e muitas famílias viam naquele lugar um programão para acalmar as crianças. Casais também iam para lá afim de conseguir algumas paz. Muitos achavam o lugar romântico. Júlia e Miguel iam somente por adorar animais.
    -Amor, você já reparou que só as mulheres humanas em toda espécie animal, que se arrumaM para o macho? De resto os machos é que movem um dobrado para conquistar as fêmeas. Acho isso tão bonito.
    -É, Júlia, mas no mundo animal , em algumas classes, são as fêmeas que ficam com o trabalho pesado. Por exemplo, são as leoas que caçam, são as “pernilongas” que saem a noite para conseguir o sangue-nosso-de-cada-dia... Se você quiser, a senhorita continua trabalhando e eu fico em casa bebendo cerveja, assistindo filme pornô!
    Júlia sorriu.
    -Ai, minha boca está coçando. Sabia que não tinha que ter ido à praia sem protetor labial!- comentou ela, parando em frente à jaula dos elefantes.
Miguel se aproximou e segurou-a pelo queixo. Ficou cerrando a vista tentando enxergar melhor.
    -É, tem uma bolinha vermelha aqui. É bem pequenininha! Está coçando?
    -Muito! Deve ter sido o sol. Quando pego muito sol minha boca estoura e fica toda machucada. É horrível. Não gosto nem de sair de casa!
    -Mas é fresca!
    -Não é questão de ser fresca ou não, meu querido! O problema é que eu tenho trauma de infância, tá?
    -Deixa de ser fresca....Trauma de quê?
    -Olha esse é um período que não gosto de lembrar porque foi ali que começou essa fobia por ter algo diferente na minha cara! Meus amiguinhos da escola falavam coisas horríveis!
    -E você vai ligar para o que um monte de crianças cagonas falam? Já faz tanto tempo,Jú! Você cresceu, virou mulher. Esses babacas que te zoneavam devem estar todos na frente do computador “tocando” enquanto vêem fotos de ex-BBBs em sites.
    -Não, mas quando minha boca ficava assim, eles diziam que eu andava fazendo algo com os mendigos. Teve um mendigo, o Bé-bé-bé...
    -Espera aí, o nome do mendigo era Bé-bé-bé?
    -Claro que não, né idiota! Ninguém se chama Bé-bé-bé!
    -Eu não duvido de nada. Já vi gente se chamar Zabelê,Feverêncio, até Árvore!
    Júlia sorriu levando as mãos à boca. Realmente ela ficava obcecada quando sentia que poderia ter algo de diferente em sua boca.
    -Diziam que eu ficava colocando a boca nas coisas do Bé-bé-bé! Eu nunca fiz isso! Só fui colocar coisas na boca há seis anos, quando eu fiz dezessete!
    Os dois sorriram. Abraçaram-se, e ficaram admirando os elefantes. Miguel estava com a cabeça em outro lugar. Havia marcado com Vitória às quatro da tarde. Já eram três e quarenta e cinco. Provavelmente se atrasaria, ou pior, nem poderia ir ao seu encontro. Sabia que ela o destrataria. Mas não podia simplesmente abandonar Júlia ali no zoológico. Sabia que ela adorava aqueles programas mais lights. Porém a desculpa da reunião de emergência não colaria duas vezes na mesma semana.  
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    Próximos à praia de Copacabana, sentados em um quiosque no calçadão da orla, Vitória e alguns amigos conversavam enquanto bebiam caipirinhas e cervejas. Vitória a todo momento olhava para seu relógio de pulso ou então, procurava com os olhos se Miguel se aproximava.
    -Cadê o homem, Vit? Perguntou um dos amigos da moça.
    -Ele deve estar com a esposa dele. Já me acostumei com isso. Ele sempre se atrasa quando está com ela.
    -E você vai ficar nisso até quando, Vit? Você é linda, é divertida, porque não parte pra outra, meu bem? –disse um outro rapaz que se encontrava de mãos dadas com o que falara anteriormente. Seu nome era Diego.
    -Eu não sei. Eu ainda gosto dele, sabe? Tenho que entender que ela é esposa dele. Ela é esposa agora, não mais namoradinha. Tenho que respeitar.
    -Mas meu bem, ele não te respeita. Ele sempre te deixa de lado por ela. Está na hora de você se impor.
    -Mas Diego, eu já disse ela é esposa dele. Ele até faz umas loucuras por mim. Semana passada a gente se esbarrou umas cinco vezes no mercado, uma vez a cada dia da semana. Todas às vezes ele estava com ela. O divertido era que a gente ia pro estacionamento e ficávamos nos pegando lá. Depois ele voltava para ela como se nada tivesse acontecido.
    Todos sorriram.
    -A gente se diverte com essas nossas loucuras.
    -É mas você tem que saber medir isso para depois não se magoar. Está escrito na sua cara que você por dentro tá se remoendo porque ele ainda não chegou.-comentou Diego sentindo a angústia da amiga.
    Ele estava certo. E Miguel nem iria aparecer, pois naquele momento ele ainda estava com sua esposa, jantando em um shopping do subúrbio do Rio.
    -Esse cara não te merece, amiga. Ele já te magoou uma vez. Me admirou você o deixar entrar na sua vida novamente.
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    Após colocar o garfo na boca. Júlia largou-o sobre o prato.
    -Ai, amor, tá coçando muito! Já está muito vermelho?
    Miguel se inclinou sobre a mesa e observou os lábios dela.
    -É, tá sim. E agora tem mais uma bolinha. Não tem remédio pra isso, não?
    -Tem uma pomada, mas demora muito para sarar. Amanhã isso vai estar horrível. Não quero que você olhe para minha cara, entendeu?-pediu escondendo a boca com a mão esquerda.
    -Deixa de ser fresca. Já te vi em posições que nem você mesma se conhece! Uma feridinha dessas não vai me mudar! Vamos comprar essa pomada assim que sairmos daqui. Não fica mexendo. Simplesmente ignore-a. Quanto mais você, mais vai ficar vermelho.
    -Mas está coçando!-falou Júlia com voz chorosa.
    Miguel ficou chateado ao notar que realmente aquilo á incomodava. Levantou-se de sua cadeira e se sentou ao seu lado. Ela recostou sua cabeça nos ombros dele.  Enquanto acariciava sua cabeça, ele pensava em como Vitória estaria e o que ela estaria fazendo.
    Pensou se aquilo era certo. Deixou seus olhos fitarem a nuca de Júlia que ainda se encontrava deitada em seu ombro. Pensou se era certo. Júlia o amava e estivera com ele nos momentos que mais precisava. Estava preso à Vitória. Tinha motivos para se sentir assim. Acontecera tudo tão de repente. Tudo tão rápido. Precisava pensar em que atitude tomar. Aquela relação a três não estava mais o agradando como antes agradara.
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    Vitória estava assistindo televisão quando Miguel chegou. Apenas desviou o olhar em sua direção, depois os voltando para a tevê. Miguel foi sentando-se devagar, levemente. Sentou-se afastado dela.
    -Você está muito puta,não é?-disse ele tentando puxar assunto. - Não tiro sua razão, mas você tem que entender. Eu já havia marcado com ela. Tinha tempo que havia prometido ir ao zôo com ela. Coitada!
    -Precisava marcar justamente no dia que havia marcado comigo? Justamente no mesmo dia?-perguntou desligando a televisão pelo controle remoto.
    -Ela pediu em cima da hora. Não podia me recusar. Pensei que você já tivesse entendido, Vit!
    -Eu entendo, cara! Eu entendo! Mas estou cansada de entender! Estou cansada de ser somente a outra. Eu virei simplesmente a outra. Antigamente você vinha aqui e nós conversávamos, você me ouvia,sabe? Agora você aparece só quando quer transar. Fazemos sexo e depois você vai embora.
    A memória de Miguel foi até o dia em que fizera sexo com Vitória pela primeira vez, antes de tudo, antes mesmo de se casar com Júlia.
    -Eu acabo ficando presa a você, Miguel. Você não me conta mais sobre as coisas. Para saber de você, das novidades, preciso entrar no seu Twitter! Antes eu era a primeira saber de ti. Agora sou a última! Parece que eu sou a corna da história!
Miguel se levantou irritado.
    -Já combinamos de você não se referir à ela assim! Não é justo. Ela tem problemas demais. Ela morre de ciúmes, é muito insegura.
    -É o preço que se paga! Ninguém mandou que ela o aceitasse você como noivo.
    Miguel estava ficando irritado. No fundo sabia que Vitória matinha uma mágoa guardada em seu coração. E ela jogaria para fora naquela discussão.
    -Sabe o que eu acho, Vitória? Que no fundo, no fundo você se sente vingada por estar transando comigo. Acho que foi uma maneira de você tirar o peso daquilo que eu fiz com você. Assim como eu te magoei, você que magoá-la. E isso que está fazendo é nojento!
    Vitória sorriu com ar debochado.
    -Olha quem está falando? O menino puro! Não vou negar que tudo ficou mais gostoso. Ser a amante é muito bom. Mas até ser sua amante é chato! E eu posso dizer isso, afinal já estive dos dois lados da moeda.
    -Nosso namoro era uma farsa. Você sabe disso! Nosso namoro era uma mistura de atrações, e nada mais! Atrações estas que duram até hoje, e que eu, infelizmente, ainda não consegui me desprender.
    -Eu odeio isso. Você agora vai desmerecer nosso lance? Seu viado! Eu devia era ter ficado sozinha. Mas uma mulher traída fica ferida. Fica com o orgulho ferido. Só te aceitei de volta por causa de meu orgulho. Você me traiu com essa garota! Eu achando que nosso namoro era sério, e você me traiu. Virei simplesmente a outra. Passei de esposa à outra.
    -A gente não se batia. Júlia apareceu sendo aquilo tudo que você não era. Doce, compreensiva. Você é explosiva. Tenho medo de você!
    -Minha vontade é ligar para a Júlia e dizer tudo isso. Falar que de ex-noiva eu virei amante. Já pensou na reação dela? Saber que com você ela colocou e levou chifres?
    -Você não faria isso! Não seria tão cretina!
    -E quem disse que não? Se você pode ser cretino. Se você pode me procurar só quando quer. Por que eu não posso fazer igual?
    -Ela sente ciúmes de você. Ela me mostrou que não se deve namorar uma amante. Não dá pra se levar um compromisso assim a sério. Mas eu a amo! Mesmo ela achando que se eu traí você, posso muito bem traí-la, eu a amo. E não vou negar que toda noite, quando me deito, acabo me arrependendo do que eu faço com você!
Vitória deu um tapa no rosto de Miguel.
    -Você é covarde. Só fala as coisas para magoar! Acho melhor pararmos por aqui. Não quero me magoar. Não quero mais ficar chateada por você se atrasar e ainda ter que me conformar, afinal, sou somente a amante. Você fechou uma cordo com uma multinacional! Uma coisa que desde o início das negociações você me contava. Depois simplesmente não me falou!
    -Vitória, quando começamos isso. Quando aceitei você de volta em minha vida, a gente havia combinado. Você nunca iria querer se pôr no lugar dela. Você aceitou e agora ta mudando de opinião!
    -Você não entendeu. Não estou mudando de opinião! Estou mudando de vida! Acabou, Miguel!
    -Tudo bem. Eu ia terminar com você mesmo! A Júlia é uma menina de ouro. Não merece isso!
    -Vou procurar outras pessoas. Pessoas que se importem comigo. Quem me faça sentir única. Pode ir embora! Agora sou eu quem está te expulsando de minha vida.
    -Porque acabar assim? Podíamos ser amigos, mas você estragou tudo. Te trouxe de volta à minha vida pois gostava do seu jeito. Ele contrastava com o da Júlia. Eu sentia saudades de você. Mas você está fazendo papel de esposa. Cobrando, implicando”
    -Eu devia ter pensado melhor. Mas não quero mais pensar. Pro favor, vai embora!
Miguel virou as costas. Saiu do apartamento. Estava chateado, mas estava decidido à ser fiel a Júlia. A decisão estava tomada. Iria faltar trabalho no dia seguinte e passar um dia romântico com sua esposa. Queria mudar e estava decidido.
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    Ao chegar em casa, Miguel levou um susto. A porta se encontrava destrancada. Sobre a televisão havia um bilhete de Júlia dizendo que iria embora. Ele não entendeu. Pegou o telefone ligou para seu celular. Estava desligado.
    Sentou-se no sofá e começou a pensar na vida. Nas atitudes que havia tomado de uns anos para frente. Traía Julia á pelo menos um ano e meio de um total de dois anos de relacionamento. Sabia que era um covarde. Certa vez sua avó lhe disse que as pessoas que traem geralmente são pessoas com baixa auto-estima. Atiram para todos os lados para firmar a idéia de que não são tão incapazes. Miguel sabia que era um desses. Tinha tudo que queria aos vinte e cinco anos. Um emprego bom, um carro, uma vida satisfatória que sempre sonhara e, duas mulheres. Mesmo assim, queria mais. Sempre mais.
    Júlia mantivera contato com Vitória. Seu ciúme a fizera seguir o esposo por diversas vezes. Sabia que a ex-namorada ainda pairava sobre o relacionamento dos dois. E lutara até descobrir que estava certa.
    Miguel nunca mais tivera contato com nenhuma das duas. Continuou tendo várias mulheres. Apenas pelo simples prazer de saber que era capaz.
 
 
                                                                                                              Fim

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 07/09/2009
Código do texto: T1797477
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