VELHA CARTA
“Lembras meu amor dos beijos mais ardentes? Das horas de carícias mais intensas? Da brisa pela pele em brasa – acesa? Da tarde de verão ao pôr do sol? Então nós caminhávamos felizes... Depois de escalarmos a grande rocha. Ficamos contemplando – lá de cima – a paisagem. Ali traçamos planos, sonhos, vida. E abraçados – já no sol posto – caímos na areia e nos amamos? Tanta loucura foi e – que saudade – fluía uma energia incrível que nos fortalecia ainda mais? Então, a cada dia nós comemorávamos mais uma oportunidade de fazer tudo de novo; porém diferente? E a vida foi seguindo. O Tempo se escoando... A brisa então soprou pelos cabelos... Grisalhos e contentes prosseguimos...Os filhos que vieram, os netos que chegaram...E a tempestade, então arrebatou-te!
Partiste. O mundo desabou em minha cabeça. O dia estava estranho... De azul tornou-se cinza de repente. O Sol naquele se escondeu. A nuvem, então chorou junto comigo... Eu quis ter o poder de controlar o tempo. Assim retrocederia o ruim momento... Mas quem sou eu? Ah nada mais que um sopro; uma brisa. A gota de orvalho que evapora.
Uma ave a voar na imensidão...
Partiste! Mas – que bom – nós produzimos frutos. A casa está vazia; porém com a sua essência. Ainda vou à praia. E a cada ano, então, de nosso amor eu sento-me ao pôr-do-sol com uma rosa... E ali a deixo quando parto... As aves continuam embelezando. Casais de namorados – belos pares. Então eu sinto um bem – uma satisfação, pois, sabe, fizeste-me o homem mais completo desse planeta. O nosso amor era mútuo. Tivemos contratempo, dificuldades. E quando eu fiquei doente. Cuidaste-me com todo seu amor. Então, quando primeiro filho veio... Que emoção que foi. Eu não contive as lágrimas... Ali estava o fruto de nosso amor. Os amores de hoje – muitos – são superficiais. Já se foram os valores, o respeito... Respeito que faltou de minha parte.
Não sei como se deu – aconteceu. Mulher mais jovem veio – qual serpente. Chegou ao nosso ninho. E como uma filha a acolhemos. Demônio disfarçado em bondade. Aos poucos destruía a harmonia em nosso lar. Insinuou-se a mim – e eu a repelia. Sempre Ah seu Alfredo... você é o marido ideal... Agradeça à Cissa, eu respondia. E quando eu te falava, pensavas que era ciúmes. Implicância. Um dia – nunca mais me esquecerei – estávamos fazendo amor. De costas tu estavas – de frente para mim – quando a Fulaninha viu-nos? Depois daquele dia que tormento... As roupas super curtas, a sedução... Fugi o mais que pude – não que eu queria, mas em respeito a ti. Porém um dia, quando ela, então, saia do banheiro, deixou cair – propositadamente – a toalha, mostrando-me seu corpo de ninféia. Não vou dizer que não fiquei excitado. E ela me agarrou, eu empurrei-a; quando de repente, abriste a porta do quarto. Ela falou simulou Pare seu Alfredo, por favor! E começou chorar. Cínica, eu disse. Encaraste-me – incrédula – com lágrimas nos olhos, Cachorro! Sem Vergonha! Foi o que ouvi de ti. Doeu-me mais que uma faca ao coração. Então é isso que você acha? Peguei a minhas coisas e fui embora. As crianças – já pré-adolescentes – choraram sem nada entender. Eu apenas respondi-lhes Pergunte à sua mãe. Mas mesmo assim, não perdi contato. Não arrumei ninguém durante anos. Até que conheci outra pessoa.
Quando soubeste, então, sucumbiu-te. Mas, para mim, era apenas amizade. Tu eras – e é – o meu amor verdadeiro. Sônia era uma amiga apenas. Gostava de conversar com ela. Saíamos e nada mais. Ela queria sexo, eu lhe dava, porém era em ti – somente – que pensava. E tudo acabou quando – no auge do êxtase – gritei Cissa! Foi a gota d’água. Não lha tiro a razão.
E num telefonema dizias que precisava muito comigo. Disse que quando desse marcaria um lugar para conversarmos. Porém, não houve tempo. Morreste de repente.
Logo após eu ter saído, descobriste a verdadeira face de Rebeca. Fiquei chateado com sua falta de confiança. E o orgulho falou mais alto num momento. Morreste sem ouvir de minha boca Eu a perdoo. Sabes que eu a amava mais que tudo. Eras minha alma gêmea. Descanse em paz...
Alfredo Borges de Menezes”
A carta encontrava-se endereçada à Rebeca Costa Lemos. Uma velha carta. Porém, quem a achou, trocou de envelope e enviou pelos correios. Dias depois chegou à casa de uma simpática senhora ao lê-la – em sua sala –, subiu ao quarto, pegou uma cadeira, pegou uma caixa onde continha uma velha camisa minha. Pegou vários comprimidos, ingeriu-os. Deitou-se na cama. Abraçada à minha camisa. Dentro um bilhete: Perdão!
Recebi essa notícia quando estava na festa de aniversário de minha neta. Recebi a notícia dessa outra morte. Queria saber o que aconteceu? Como essa carta chegou até ela? Eu apenas a escrevi e depois a joguei no lixo... Ainda não tive respostas. Mas agora, nessa fase já dos acontecimentos, o que importaria?
07/09/09 – (4m:34h)
http://3.bp.blogspot.com/_pFs3ISipCnw/SmMsn4heT9I/AAAAAAAADAc/npVgf-2jkac/s400/Condeixa-A-Velha.jpg
“Lembras meu amor dos beijos mais ardentes? Das horas de carícias mais intensas? Da brisa pela pele em brasa – acesa? Da tarde de verão ao pôr do sol? Então nós caminhávamos felizes... Depois de escalarmos a grande rocha. Ficamos contemplando – lá de cima – a paisagem. Ali traçamos planos, sonhos, vida. E abraçados – já no sol posto – caímos na areia e nos amamos? Tanta loucura foi e – que saudade – fluía uma energia incrível que nos fortalecia ainda mais? Então, a cada dia nós comemorávamos mais uma oportunidade de fazer tudo de novo; porém diferente? E a vida foi seguindo. O Tempo se escoando... A brisa então soprou pelos cabelos... Grisalhos e contentes prosseguimos...Os filhos que vieram, os netos que chegaram...E a tempestade, então arrebatou-te!
Partiste. O mundo desabou em minha cabeça. O dia estava estranho... De azul tornou-se cinza de repente. O Sol naquele se escondeu. A nuvem, então chorou junto comigo... Eu quis ter o poder de controlar o tempo. Assim retrocederia o ruim momento... Mas quem sou eu? Ah nada mais que um sopro; uma brisa. A gota de orvalho que evapora.
Uma ave a voar na imensidão...
Partiste! Mas – que bom – nós produzimos frutos. A casa está vazia; porém com a sua essência. Ainda vou à praia. E a cada ano, então, de nosso amor eu sento-me ao pôr-do-sol com uma rosa... E ali a deixo quando parto... As aves continuam embelezando. Casais de namorados – belos pares. Então eu sinto um bem – uma satisfação, pois, sabe, fizeste-me o homem mais completo desse planeta. O nosso amor era mútuo. Tivemos contratempo, dificuldades. E quando eu fiquei doente. Cuidaste-me com todo seu amor. Então, quando primeiro filho veio... Que emoção que foi. Eu não contive as lágrimas... Ali estava o fruto de nosso amor. Os amores de hoje – muitos – são superficiais. Já se foram os valores, o respeito... Respeito que faltou de minha parte.
Não sei como se deu – aconteceu. Mulher mais jovem veio – qual serpente. Chegou ao nosso ninho. E como uma filha a acolhemos. Demônio disfarçado em bondade. Aos poucos destruía a harmonia em nosso lar. Insinuou-se a mim – e eu a repelia. Sempre Ah seu Alfredo... você é o marido ideal... Agradeça à Cissa, eu respondia. E quando eu te falava, pensavas que era ciúmes. Implicância. Um dia – nunca mais me esquecerei – estávamos fazendo amor. De costas tu estavas – de frente para mim – quando a Fulaninha viu-nos? Depois daquele dia que tormento... As roupas super curtas, a sedução... Fugi o mais que pude – não que eu queria, mas em respeito a ti. Porém um dia, quando ela, então, saia do banheiro, deixou cair – propositadamente – a toalha, mostrando-me seu corpo de ninféia. Não vou dizer que não fiquei excitado. E ela me agarrou, eu empurrei-a; quando de repente, abriste a porta do quarto. Ela falou simulou Pare seu Alfredo, por favor! E começou chorar. Cínica, eu disse. Encaraste-me – incrédula – com lágrimas nos olhos, Cachorro! Sem Vergonha! Foi o que ouvi de ti. Doeu-me mais que uma faca ao coração. Então é isso que você acha? Peguei a minhas coisas e fui embora. As crianças – já pré-adolescentes – choraram sem nada entender. Eu apenas respondi-lhes Pergunte à sua mãe. Mas mesmo assim, não perdi contato. Não arrumei ninguém durante anos. Até que conheci outra pessoa.
Quando soubeste, então, sucumbiu-te. Mas, para mim, era apenas amizade. Tu eras – e é – o meu amor verdadeiro. Sônia era uma amiga apenas. Gostava de conversar com ela. Saíamos e nada mais. Ela queria sexo, eu lhe dava, porém era em ti – somente – que pensava. E tudo acabou quando – no auge do êxtase – gritei Cissa! Foi a gota d’água. Não lha tiro a razão.
E num telefonema dizias que precisava muito comigo. Disse que quando desse marcaria um lugar para conversarmos. Porém, não houve tempo. Morreste de repente.
Logo após eu ter saído, descobriste a verdadeira face de Rebeca. Fiquei chateado com sua falta de confiança. E o orgulho falou mais alto num momento. Morreste sem ouvir de minha boca Eu a perdoo. Sabes que eu a amava mais que tudo. Eras minha alma gêmea. Descanse em paz...
Alfredo Borges de Menezes”
A carta encontrava-se endereçada à Rebeca Costa Lemos. Uma velha carta. Porém, quem a achou, trocou de envelope e enviou pelos correios. Dias depois chegou à casa de uma simpática senhora ao lê-la – em sua sala –, subiu ao quarto, pegou uma cadeira, pegou uma caixa onde continha uma velha camisa minha. Pegou vários comprimidos, ingeriu-os. Deitou-se na cama. Abraçada à minha camisa. Dentro um bilhete: Perdão!
Recebi essa notícia quando estava na festa de aniversário de minha neta. Recebi a notícia dessa outra morte. Queria saber o que aconteceu? Como essa carta chegou até ela? Eu apenas a escrevi e depois a joguei no lixo... Ainda não tive respostas. Mas agora, nessa fase já dos acontecimentos, o que importaria?
07/09/09 – (4m:34h)
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