Fui beijado
Você me deu um beijo e fugiu de mim. Nem sequer vi o seu rosto. Só ficou a sensação entorpecente de algo bom. Fui beijado. Mas quem me beijou?
Procuro o autor desse beijo, desse vazio que restou. Procuro essa alma desgarrada, que a esmo sai a beijar quem encontra.
Porque foi um beijo bom. Algo que me lembrou um beijo de muito tempo atrás. Algo de que nunca me esqueci. Um beijo de mulher.
Talvez eu a reconheça na próxima esquina e peça-lhe um novo beijo. Talvez eu nunca mais a encontre e talvez nunca mais seja beijado.
Beijado do jeito que me beijou. Com saliva doce e hálito de hortelã. Muito rápido, mas com muito sabor. Nem tive tempo sequer de abrir os olhos. Mas pude ouvir o ruflar de asas. Um anjo me beijou.
E com esse beijo fiquei a contar histórias. Aos meus filhos e netos. O beijo do anjo - como se na Terra não pudesse haver um beijo como esse.
E não havia.
Ninguém tem esses lábios de amora. Essa língua ardente. Ninguém me deixa entorpecido e com o pensamento trêmulo. Que beijo é esse? - pergunto - Meu Deus! Que beijo é esse? - Um beijo das estrelas.
Mas se veio das estrelas, a que galáxia pertence?
Ao mundo dos sonhos, das fadas e dos cavalos voadores, onde Pégaso transporta os amantes, no vale do entardecer, onde o crepúsculo aparece como fogos de artifício - como se todo entardecer fosse uma festa sem fim.
Tudo por causa de um beijo.
Um inesquecível beijo.
Você me beijou e me deixou atordoado. Não é justo beijar alguém assim e sair a correr mundos. Eu não tenho asas. Não tenho como alcançá-la.
Onde você mora? Me diz antes de ir... Eu preciso saber o seu nome.
Um simples beijo e toda a esperança de uma vida, como se tudo se resumisse a esse pequeno espaço de tempo que havia entre o toque de nossos lábios e o encontrar de nossas línguas.
Eu dei um beijo, meu Deus! Sim, eu beijei.
E, no entanto, tudo se evaporou no ar. Tudo derreteu. Mas e eu? Eu não conto nada? Não mereço, ao menos, uma explicação?
A razão é que fui beijado por um desejo. Um desejo que se manifestou, aconteceu e acabou. Sim, o beijo findou no momento em que eu queria mais. E o único objetivo era que eu devia ser beijado.
Um anjo me beijou.
Bateu asas e nunca mais voltou.
Mas esse beijo... ahhhhh, esse beijo...
Texto publicado no livro Para Sempre, de Márcio Martelli,
Editora In House (2006).
Você me deu um beijo e fugiu de mim. Nem sequer vi o seu rosto. Só ficou a sensação entorpecente de algo bom. Fui beijado. Mas quem me beijou?
Procuro o autor desse beijo, desse vazio que restou. Procuro essa alma desgarrada, que a esmo sai a beijar quem encontra.
Porque foi um beijo bom. Algo que me lembrou um beijo de muito tempo atrás. Algo de que nunca me esqueci. Um beijo de mulher.
Talvez eu a reconheça na próxima esquina e peça-lhe um novo beijo. Talvez eu nunca mais a encontre e talvez nunca mais seja beijado.
Beijado do jeito que me beijou. Com saliva doce e hálito de hortelã. Muito rápido, mas com muito sabor. Nem tive tempo sequer de abrir os olhos. Mas pude ouvir o ruflar de asas. Um anjo me beijou.
E com esse beijo fiquei a contar histórias. Aos meus filhos e netos. O beijo do anjo - como se na Terra não pudesse haver um beijo como esse.
E não havia.
Ninguém tem esses lábios de amora. Essa língua ardente. Ninguém me deixa entorpecido e com o pensamento trêmulo. Que beijo é esse? - pergunto - Meu Deus! Que beijo é esse? - Um beijo das estrelas.
Mas se veio das estrelas, a que galáxia pertence?
Ao mundo dos sonhos, das fadas e dos cavalos voadores, onde Pégaso transporta os amantes, no vale do entardecer, onde o crepúsculo aparece como fogos de artifício - como se todo entardecer fosse uma festa sem fim.
Tudo por causa de um beijo.
Um inesquecível beijo.
Você me beijou e me deixou atordoado. Não é justo beijar alguém assim e sair a correr mundos. Eu não tenho asas. Não tenho como alcançá-la.
Onde você mora? Me diz antes de ir... Eu preciso saber o seu nome.
Um simples beijo e toda a esperança de uma vida, como se tudo se resumisse a esse pequeno espaço de tempo que havia entre o toque de nossos lábios e o encontrar de nossas línguas.
Eu dei um beijo, meu Deus! Sim, eu beijei.
E, no entanto, tudo se evaporou no ar. Tudo derreteu. Mas e eu? Eu não conto nada? Não mereço, ao menos, uma explicação?
A razão é que fui beijado por um desejo. Um desejo que se manifestou, aconteceu e acabou. Sim, o beijo findou no momento em que eu queria mais. E o único objetivo era que eu devia ser beijado.
Um anjo me beijou.
Bateu asas e nunca mais voltou.
Mas esse beijo... ahhhhh, esse beijo...
Texto publicado no livro Para Sempre, de Márcio Martelli,
Editora In House (2006).