Onde tudo irá acabar? - Parte 1
Seria a mesma coisa. No fundo, Marcela sempre soube. Mas a possibilidade de tocar aqueles lábios novamente, ser abraçada como antes, sentir seu cheiro que há muito já estava evaporando de sua alma... e foi somente nisso que, naquela fração de segundos entre beijar ou virar o rosto, seus pensamentos se fixaram. Aquele primeiro pensamento, de que seria a mesma coisa, foi tão fraco que ela se entregou e o beijou. Um beijo de um ano de saudades, de desejo contido, de mágoa, de dor e sofrimento. E, principalmente, durante aquele beijo, se viu a enxugar todas as lágrimas derramadas durante o último ano.
Uma semana passou e eles se encontraram. A felicidade completa estava a caminho, ela sentia. Dessa vez não somente seus lábios foram saciados, seu corpo o queria como antes. Já o esperava há tempos. E num misto de desejo e saudade se entregaram e nada mais poderia estragar aquele momento. Nada mais? Poderia. Sempre há um porém nas lindas histórias de amor verdadeiras. Marcela sempre teve certeza de que sua vida nada havia de contos de fadas e, mais uma vez, essa certeza a visitou. Sempre que achava ter encontrado a felicidade, Marcela era tomada pela realidade avisando-a de que “não dessa vez, querida”. Para ela, o amor reservava a solidão em tempo integral, com raros momentos de recreio. Aquilo que havia sido superado, o ano de dor e reajuste dentro de si mesma foi todo levado pela correnteza da esperança, naquele momento exato entre beijar ou virar o rosto. O telefone não tocou mais, as palavras não foram escritas ou codificadas. Restou a Marcela apenas sua eterna companheira, aquela que já a havia visitado nos momentos em que mais lágrimas corriam em seu rosto, a solidão. Acompanhada agora de seus pensamentos mais dolorosos, ela nunca poupava Marcela, provando que sempre soube onde tudo isso, novamente, iria acabar. Provando de que as duas possuem o destino de estarem juntas para sempre. E lá está Marcela, com seu já conhecido aperto no coração, constantemente irritada, distante de todos e, principalmente, de si. Marcela, acompanhada da Solidão, de seus Pensamentos e da Realidade, ao longe, no fundo do quarto, vê o Amor abraçado com a Esperança e a Felicidade na iminência de pularem pela janela. É, de fato, o seu fim.