APELO A UM SENADOR
"Caro senador,
o senhor não me conhece. Chamo-me Alberto José Silva Fontes. Eu sei que o senhor é um homem ocupado, por isso vou direto ao assunto desta carta. Sem querer ser insolente, mas só o senhor pode, com uma canetada, resolver o problema de um casal que se ama e deseja, imensamente, viver junto para o resto da vida. Sou funcionário público, pernambucano, seu conterrâneo e criado. Minha amada esposa também. Eu trabalho no tribunal aqui em Pernambuco e ela, aí em Brasília, pela Receita. Nós nos conhecemos no colégio. Fazíamos o antigo segundo grau. Nos apaixonamos à primeira vista. Decidimos casar. Só que, o senhor sabe, casamento requer certas despesas que não nos deixam mais nunca. Casa, contas mensais, feira... Então, fizemos um trato: ambos estudaríamos para concurso e, o primeiro que passasse, sustentava as despesas da casa enquanto o outro continuaria tentando conseguir a tão sonhada vaga na carreira pública. Eu consegui primeiro, depois de dois anos. Passei num concurso de nível médio, ganhando dois mil reais. Mas, logo depois conquistei uma vaga de nível superior, aqui em Pernambuco, no tribunal, e o meu salário aumentou para quatro mil reais. Casamos, enfim. Amanda, minha esposa, continuou estudando. Ela estudava catorze horas por dia. Após um ano e oito meses, conseguiu finalmente passar, só que a vaga é aí em Brasília. Ela ganha bem, seis mil reais, graças a Deus. O problema, senador, é a saudade que invade a nós (eu e ela). Amanda já está há dois anos em Brasília e não conseguiu transferência aqui para o Recife. Tem muita gente na frente. Veja só que ironia, senador, batalhamos, sofremos o pão que o Diabo amassou, conseguimos nossos objetivos, bom salário, mas não temos um ao outro para compartilhar os momentos deliciosos da vida de casal. A rotina dos dias, os passeios do final de semana. Amanda só vem para cá nas férias ou feriadões. Mesmo assim, quando é a hora de ir embora, a tristeza é tanta, que ela decidiu não vir enquanto não tiver a transferência para não sentir mais a dor da despedida. Por isso, senador, o senhor é a nossa única saída. Deixo em anexo todos os dados da minha esposa. Que Deus ilumine todos os seus dias.
Alberto José Silva Fontes."
Depois de ler essa carta, o senador realmente deu a canetada e Amanda conseguiu a transferência. Quando foi chamada no departamento pessoal da Receita e perguntaram-lhe para onde queria ser transferida, ela optou por Maceió, em Alagoas. Passou no apartamento de Alberto, pegou as poucas coisas dela e disse, secamente:
- Estou indo para Maceió porque me apaixonei pelo meu chefe. Ele é de lá e já tinha conseguido uma transferência. Estava esperando sair a minha. Desculpe, mas não tenho outra forma de dizer isso. Nós nos casamos, mas é como se nunca houvéssemos casado.
Alberto, até hoje, vota no senador. Não fosse ele...