Vote No Final - Rogério deve assumir Felipe como seu filho? - FINAL NÃO
Os médicos concordaram e Solange levou Felipe de volta para casa, iria monitorar o estado de saúde do filho com a ajuda de uma enfermeira particular, mas ele já estava apresentando melhora, depois que sua mãe lhe prometera uma surpresa.
Rogério pegou seus filhos e a sogra e foi na frente para que pudessem preparar uma recepção para a chegada de Felipe, estava meio disperso, pensando em como conversaria com Pedro e Patrícia, e principalmente como falaria com Felipe, chegaram no casarão, Rogério nem havia dado conta da falta de Soraya, só percebeu quando ao entrar na casa ouviu sua voz ao telefone, que vinha do escritório, muito bom, precisava mesmo conversar com ela antes de tudo. Quando se aproximou ela estava justamente terminando a ligação e arrumava uns papéis na mesa, ele fechou a porta para que ninguém interrompesse a conversa.
- Que bom que está por aqui, procuramos você pelo hospital, Felipe está vindo para cá, o quadro dele ainda é grave mas não há muito o que fazer, a não ser...
- A não ser dar um pai ao menino, não é isso?
- Ah, você já sabe das notícias então?
- Sei sim Rogério, sei muito mais do que você acha que sou capaz de enxergar, estava falando com Solange agora mesmo, vou esperar ela chegar para que conversemos nós três, não sei se é uma boa idéia que você assuma esse filho, afinal ele não é seu.
- Você não vê que a vida dele está em risco? Não vê que se não assumir Solange pode perder o garoto?
- Ah sim, sua preocupação não é propriamente com a vida de Felipe, nem com mesmo com a de seus filhos, mas sim com a da bela e sensível Solange.
- Deixe de bobagem Soraya, não me venha com cena de ciúmes agora, não é o momento.
- Só me explique uma coisa que ainda não entendi. Como você pretende explicar, fazer com que tudo isso aconteça Rogério?
- Estou procurando uma forma, queria que você me ajudasse com isso, não sei como abordar as crianças numa questão dessas. Não sei se é melhor que de repente para eles ameacemos uma separação, de repente isso ajuda, lembro que quando meus pais se separaram foi tão dolorido que quis muito que eles voltassem, que eles perdoassem qualquer que fosse a traição somente para que ficassem juntos, dessa forma até convenceríamos a virem morar aqui, o que acha?
- Que você é mesmo muito cínico. Estava tentando imaginar como você planejaria tudo e estava bem na minha cara, você me usaria para fazer todo seu trabalho sujo, você é mesmo um covarde.
- Do que está falando Soraya, só estou pensando no bem da nossa família, de nossos filhos e da sua família também.
- Como você explica esses papéis premeditados Rogério? Como explica que durante essa semana, você passou o tempo nesse escritório acertando por telefone com seus advogados transações comerciais para a transferência dos bens que estão em seu nome para os de nossos filhos, a compra da casa no nome de Felipe, os papéis de adoção e um pedido de divórcio.
- Como você conseguiu tudo isso?
- Você sempre achou que eu fosse uma bêbada burra? Eu penso, eu vejo seus olhares cobiçando minha irmã, e certamente se não fosse o estupro, você seria sim o pai desse filho, afinal aquelas conversas noturnas na cozinha só não evoluíram porque ela estava frígida e não entendia suas intenções. Mas isso vai acabar aqui e hoje. Todos vão descobrir o verdadeiro Rogério, vão entender o monstro que você é.
- Espere Soraya, não é nada disso.
Ela tenta se desvencilhar dele, mas Rogério segura seus pulsos com força.
- Me diga o que você quer. Peça qualquer coisa, eu faço, mas não revele nada disso a ninguém, por favor!
- Nesse momento, alguém bate a porta desesperado, é D. Margarida que entra antes mesmo de que algum dos dois possa se virar para dizer qualquer coisa.
- Rogério, Felipe chegou, está no quarto, não está nada bem, Solange pediu para que você suba.
Ele olhou para Soraya.
- Espere ao menos que eu converse com o garoto, e saiu da sala, deixando-a com sua sogra.
Ao subir as escadas deu de cara com Solange, ela saia do quarto de Felipe, estava com os olhos cheios de lágrimas e muito emocionada abraçou Rogério. Não foi preciso que ela dissesse uma só palavra para que ele entendesse todo seu sofrimento e desespero diante aquele momento, ele beijou seu rosto, enxugou suas lágrimas e passou um olhar de confiança a Solange que retribuiu com um tímido sorriso, Rogério entrou no quarto.
Felipe estava na cama e a enfermeira media sua temperatura, quando viu que Rogério entrava, pôs fim em seu trabalho e ao se retirar da sala pediu que a chamasse se houvesse necessidade. Ele assentiu com a cabeça e sentou-se ao lado da cama do sobrinho, que o olhou como se estivesse em delírio ainda.
- E ae meu garotão, quando vai ficar bom para curtirmos a piscina da casa, hein?
- Ah tio, ainda tem esse curativo do corte também, acho que não vai ser nessas férias né.
- Que desânimo meu rapaz, não é assim não, vamos colocar essa bola pra frente que tem muito jogo ainda pra jogar, desse jeito se você se entregar nos primeiros minutos, já era.
Felipe riu.
- Você é muito divertido tio. Queria ter um pai assim.
- É, sobre isso também que queria conversar com você, ouvi dizer que você tá doente porque não tem pai, é verdade? Que besteira, se eu não tivesse tido pai, tava feliz ia fazer o que quisesse, dormir e acordar quando quisesse, brincar o tempo todo, não precisaria ir a escola nunca, só comer doces... minha vida ia ser uma férias eterna. O que acha?
Felipe deu uma gargalhada gostosa dessa fez.
- Nossa tio, seria muito engraçado se fosse assim mesmo, mas tem minha mãe e minha avó também né, e sem um pai, não tenho ninguém pra pescar comigo, jogar bola, apostar corridas de cavalos essas coisas que só homens fazem, você sabe né tio, coisas que você e Pedro fazem, não é bom ter um filho?
Nessa hora Rogério sentiu falta de ser pai também, percebeu o quanto estava distante de Pedro, nessas férias mesmo, não havia ficado um só momento com seu filho, nem ao menos para saber sobre o ocorrido com a droga.
- Sim, claro Felipe. Mas e se você descobrisse que seu pai é alguém que no passado magoou muito sua mãe, sua família? Como você encararia isso?
- Ah tio, sempre que faço alguma coisa errada minha mãe e minha avó me perdoam e eu sei que certamente meu pai não fez algo certo, senão estaria aqui do meu lado, não é mesmo? Eu também o perdoaria.
- Olha Felipe, não adianta eu subir nesse quarto e dizer pra você que seu pai vai estar aqui hoje, ou amanhã só pra te ver bem, o que posso te prometer primeiro é que farei sempre de tudo para que você conte comigo como contaria com um pai, um avô, quero sempre estar ao seu lado para o que precisar e para mim, você é como um filho sim. E em segundo lugar, farei de tudo, todos os dias da minha vida para encontrar seu pai verdadeiro, descobrir se está vivo, morto, se é uma pessoa do bem, ou um criminoso, para que ao menos você o conheça e possa viver sua vida sem dúvidas. Não quero que você cresça com essa angústia, de não saber quem é seu verdadeiro pai.
Mas para isso, eu preciso da sua ajuda meu rapaz. Preciso que você se levante dessa cama, fique bem, tenha vontade de viver, para ver esse dia chegar, senão como vai ser, quando eu encontrar ele e você estiver doente, ou nem estiver mais aqui?
- Eu sei tio, você sabe, que às vezes sonho que você poderia ser meu pai.
- Seria muito bom Felipe, se eu fosse seu verdadeiro pai, mas saiba que enquanto a gente não o encontra, você pode me considerar, você pode acreditar e sonhar quantas vezes quiser que eu serei sim, seu verdadeiro pai. E como seu pai, minha primeira ordem que você deve obedecer é, levantar desça cama e descer comigo, vamos participar dessa festa e contar a todos que a partir de hoje abriremos a investigação para encontrarmos seu verdadeiro pai.
Os dois desceram e encontraram todos esperando para a festa de recepção, Felipe animado, foi logo contando que ele e o tio uniriam as forças para encontrar seu verdadeiro pai, numa investigação que faria inveja a qualquer filme americano e logo se enturmou nas brincadeiras com os primos novamente. Rogério se aproximou de Soraya, chamou-a para o escritório onde queria conversar a sós.
- Eu sei que mais uma vez eu fui um babaca, me deixando levar por desejos infantis.
- Quantas vezes mais Rogério?
- Desculpa Soraya, estou tentando mudar, é difícil, queria que você entendesse.
- Difícil? Você não é mais um adolescente Rogério, não dá mais pra ser tão volúvel, deixar se levar por qualquer emoção, você foi longe demais, preparou divorcio, adoção, doação de bens, daqui a pouco você acaba fugindo com a próxima vagabunda que passar com um perfume melhor que o meu.
- Eu garanto que isso não acontecerá novamente, para isso mais uma vez eu lhe peço, vamos nos mudar para cá. A gente se muda pra casa que vai ser do Felipe, eu preparei tudo pra trabalhar aqui mesmo, a gente pode ter uma vida mais tranqüila, ter mais tempo pro nosso casamento.
- Ou pra você azarar minha irmã?
- Se eu quisesse azarar sua irmã teria assumido Felipe, não teria?
- Preciso pensar, falar com as crianças, até a virada do ano te dou uma resposta, Solange quer falar com você, vou chamá-la.
Soraya sai da sala e logo Solange entra.
- Oi Solange, olha, eu sei que você esperava que eu dissesse para Felipe que eu fosse o pai dele, mas não consegui, tenho minha família também, e não queria que isso os machucasse.
- Eu sei Rogério, no final eu que estava sendo egoísta lhe pedindo isso, foi muito bonito o que fez, tanto que me inspirou a ser verdadeira também.
- Não estou te entendendo.
- Tem algo que ninguém, sabe, e que gostaria que continuasse assim, eu vou te dar um nome, é de uma pessoa que de repente pode ser o pai de Felipe.
- Você sabia quem era o pai de Felipe a todo momento e quase me fez assumir e destruir minha família...
- Desculpe Rogério, mas na verdade, eu confio muito mais em você do que qualquer outra pessoa, naquela noite eu não fui estuprada por um grupo de pessoas, mas por somente um rapaz, que eu gostava, ele não atendeu quando eu disse não, me tomou com violência e depois me deixou lá, jogada como lixo, como se fosse uma qualquer, pior talvez do que se tivesse realmente sido violentada por uma multidão, impessoal, mas não, eu o conhecia, eu o amava, ele abusou de minha confiança, me seduziu como uma presa e depois de saciado me abandonou. Minha vergonha era tanta que inventei a história da festa, assim me sentia menos ingênua, e quando soube da gravidez reforcei a tese, não dividiria meu filho com um troglodita daqueles, mas agora não, entendo o quanto é importante para Felipe conhecer seu pai, mesmo que ele seja uma péssima pessoa, vejo que meu filho tem uma moral, um caráter íntegro, saberá ser imune ao veneno daquele cafajeste.
- Nem sei o que dizer Solange você realmente me pegou de surpresa.
- Aqui está o nome dele, não sei o paradeiro, mas se vai começar uma investigação não vai ser difícil encontrá-lo. Mais uma vez obrigado, mesmo encontrando-o sei que é em você que Felipe vai se espelhar a vida toda, porque no fundo, é você que ele vê como pai.
Solange deixou a sala e Rogério ficou atordoado olhando para o papel.
Meses depois...
Soraya vamos, desse jeito seremos os últimos a chegar, disse Rogério na porta da casa que um dia seria de Felipe esperando, Pedro e Patrícia já estavam dentro do carro, todos estavam arrumados para a missa de primeira comunhão de Felipe. Quando se aproximou da porta terminando de colocar um brinco e saindo para que Rogério fechasse Soraya foi perguntando.
- Será que o tal de Marcelo vem mesmo?
- Parece que ligou ontem pedindo instruções de como chegar até aqui para Solange, vem com a esposa e duas filhas, uma tem a idade de Felipe.
Chegaram à igreja e sentaram nos primeiros bancos, ao lado de D. Margarida e Solange, Soraya fez um comentário ao pé do ouvido de Solange que retribuiu e ela logo passou a Rogério.
- Eles estão ali, naquele banco, do lado oposto.
Olhando parecia uma família como outra qualquer, Marcelo não dava pinta que um dia havia violentado uma de suas colegas da faculdade, segurava uma filmadora e logo que a fila da primeira comunhão entrou, ele focalizou Felipe e o filmou o tempo todo, eles já haviam se encontrado antes, mas era a primeira vez que Marcelo vinha até a cidade do filho depois todos iam aproveitar o almoço e a piscina no casarão de D. Margarida, Felipe procurou por Rogério nos bancos e sorriu para o tio, estava feliz, ele tinha cumprido a promessa ao sobrinho e sua família agora estava cada vez mais unida.