HORA DO AMOR
Era uma noite estrelada de setembro. Estava colada ao parapeito da varanda, no vigésimo segundo andar de um hotel, observando a metrópole que não dorme. No centro da vista descortinada, um enorme painel marcava exatamente meia-noite. Senti seu corpo atrás de mim. A proximidade parecia ter hora marcada. Pensei na hora exata. E o abraço me fez sorrir como uma criança sem medo.
Não havia música. No entanto, minha alma ouvia outros sons que vibravam por todo corpo. E a pele agradecia as carícias como se reconhecesse os poros do desejo.
Antes de fechar os olhos, contemplei a cidade: o enorme painel piscava as horas em vermelho. Como uma tola, senti que escreveria a história da Cinderela pelo avesso: nesta versão, o encanto começava à meia-noite.
Colada ao seu corpo reencontrei minha casa, após um longo período de ausência. Pela primeira vez imaginei a poesia enlaçada à minha cintura.
E o mundo fazia sentido ou seria apenas uma súbita sensação de plenitude?
Lembro ter olhado novamente o céu. E agradecer em silêncio a presença da alegria. Ainda que as horas zombassem de mim, pedi que o tempo parasse ali, naquele exato instante.
Meus sentidos descobriam o sentido da paixão enquanto as luzes vermelhas piscavam: 0h44...
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