A Luz
No início era apenas uma luz. Daquelas como as estrelas mais distantes, lá no fim do horizonte. Por mais que resistisse e tentasse não olhar, mais queria vê-la. Havia algo além, incompreensível. Uma força me atraia e não resisti, calcei minhas sandálias e caminhei em busca do que parecia ser um segredo.
Caminhei muitos dias e noites, meses e anos, o esgotamento às vezes se aproximava,
mas o repelia com voracidade. Quanto mais me aproximava da luz, mais ansioso ficava,
queria alcançá-la de qualquer maneira.
Enfim, faltavam apenas alguns metros para o mistério ser revelado. A luz era intensa e um tipo de calor me tomava, parecia uma silhueta de mulher, mas duvidava. Ao mesmo tempo em que os olhos me afirmavam ser o que era, algo mais profundo agia sobre a minha razão.
Cabelos longos, estava de costas. Continuei confuso. A origem daquela luz era a face daquela criatura linda. Sim! A face. Confuso estava e assim permaneci. Como a origem de uma luz tão forte poderia vir daquele rosto que estava de costa para mim? Suportaria vê-la frente de frente? Além da luz, o que trazia em segredo?
Naquele instante, o que me movia não era mais eu, nem meu. Ébrio, completamente entorpecido, tentei chamar sua atenção e o ar me faltou no peito. Ela atendeu e lentamente virou-se, olhou nos meus olhos e sorriu. Seus olhos eram verdes, encantadores, lábios rosados como uma pétala de flor e um sorriso que acumulava tanta energia que aquele conjunto não poderia e não era humano, mas sim divino.
Seus lábios chamavam os meus. Dei um passo... dois... mais um e tomei suas mãos nas minhas. Eram macias com a tez de um pêssego. Levei-as até minha boca e as beijei. Sorriu novamente e coloquei suas mãos sobre os meus ombros. Com uma mão tomei-lhe a cintura e com a outra, seus cabelos. Estavam perfumados como flores de laranjeira. Senti o coração saltar de teu seio, batia forte, assim como o meu, como em busca de ressonância, batiam em desespero enquanto nossos lábios tremiam e nossos rostos se tocavam.
Aquela agonia parecia não ter mais um fim. Mas de repente, no mesmo instante que o compasso dos corações se acertaram, nossos lábios se tocaram. Um estrondo soou ao mesmo tempo, como uma bomba...
O tempo parou...
O vento parou...
O rio parou...
Nosso beijo também, paralisado pela eternidade.
Um beijo que a razão humana não pode descrever. Envolto a magia, sentimentos, volúpia, não sei dizer...