ETERNA PROCURA

Ela queria ser feliz. E ser feliz com felicidade. Disseram-lhe que para ser feliz tinha que ser uma boa pessoa. Então, procurou ser assim. Fez o que pôde, mas às vezes as quedas de caráter não deixavam. Por muitos momentos foi difícil perdoar, esquecer, deixar pra lá. Mesmo assim, ela se achava uma boa pessoa.

Disseram-lhe também que felicidade também passava por escolher alguém legal para casar, ficar junto, juntar os trapos, dividir a cama. Passou por algumas experiências, por algumas pessoas. Com algumas ela foi ela mesma. Com outras, foi o que queriam que ela fosse. Com algumas foi sincera, verdadeira, transparente. Com outras, nem tanto. Disfarçou, omitiu, mentiu. Desistiu de ser santa, certa, íntegra. Procurou, então, ser ela mesma. Quando resolveu isso chegava aos 30 anos.

Encontrou um casamento. No começo, era como ela queria. Atenção, cumplicidade, companheirismo. Depois veio o que ela não queria: o todo dia, o cotidiano, o dia após o outro, o domínio da rotina. Mas, quando chegou aos 40 anos, ela achava que isso tudo era necessário: os percalços, os obstáculos, os problemas, tudo o que não deixasse o chão plano. Afinal, o que era a vida? Um mar sem ondas, ou um terreno com pequenas montanhas? Uma eterna rotina, ou dias diferentes dentro de uma rotina? A maturidade desta mulher veio com todos esses questionamentos. Aos 50 anos, conseguia ser ela mesma, mas nada ficou tranquilo.

Passou a sofrer de uma inquietação alucinante. Tudo bem que junto veio uma menopausa adiantada. Muito calor, os nervos à flor da pele. Mas ela sentia que tinha mudado efetivamente. Só descobriu em quê quando conheceu Pedro, um colega da hidroginástica. Pedro tinha 60 anos. Divorciado e interessante. Ele chamou a atenção dela. As ideias dele pareciam-se com as ideias dela: a vida, a necessidade de viver, a rotina boa, o que nós temos dentro de nós mesmos. Ela estava encantada, fascinada e capturada pela essência de Pedro.

Juntaram as ideias. O sexo foi uma consequência, embora não teve o maior peso. Faziam amor com as almas. Ela tinha um casamento estável e o relacionamento com Pedro proporcionava-lhe uma outra rotina, cheia de uma pureza instável. No início, Pedro não cobrava nada. Apenas vivia os momentos felizes. Depois, cobrava mais atenção. E depois do depois, cobrava-lhe tudo: o corpo e a alma. Queria que ela se divorciasse. Não aceitava ser o outro, o divertimento nas horas vagas, a válvula de escape, o melhor. Queria ser o único.

Aos 55, ela viu-se só novamente. A rotina da pressão feita por Pedro a fez ficar sozinha de novo. Casada e sozinha. Mas gostava do casamento. Pedro passou a ser uma boa recordação e a inspiração de buscar a felicidade sem soluções complicadas. Aos 60, ela encontrou Mário, que tinha 65. Um homem interessante, inspirador...