CASTELO SOMBRIO

- Fique em seu mundinho vazio brindando com a solidão!

Ela disse e partiu deixando-o indiferente, como ele sempre fora a seus apelos por atenção.

Os homens amam com o corpo a outros corpos, as mulheres amam com a alma uma projeção delas próprias. Sempre esperam de seu oposto o que esperam de si mesmas em um narcisismo automático e involuntário, quase lésbico. Ele sempre soubera, ela jamais entendera e também jamais aceitara tal desculpa como justificativa para a distância e frieza dele. Será que nunca a amara, a seu modo, mesmo que esse amor não se externasse? Ela ansiara sempre ter essa resposta, mas não se atreveria a perguntar.

Como conviver em um mundo tão pleno de complexidades se as nossas próprias indagações mais intimas permanecem irrespondidas? Como aceitar todas as diferenças que existem se as contradições que habitam os recôncavos mais esconsos e cuidadosamente resguardados do nosso ser, por nós são renegadas, confinadas em algum labirinto a devorar, pouco a pouco, nossas mais prestimosas virtudes, até que, um dia, algo aconteça para livrar-nos de nós mesmos? Na despedida não houve lágrimas, ele era de gelo, ela já não mais tinha nada a derreter.

Quando se conheceram ela, inocente, por alguma razão pensou que seria para sempre e atirou-se no abismo em queda livre. E eis que a busca pelo ideal é a causa de nossos maiores, mais intensos e destrutivos conflitos. Criamos, sem nos darmos conta, nossas próprias decepções. Ele não a segurou. E mais, observou passivamente ela espatifar-se nas pedras com suas tolas ilusões.

E no que restara dela ele já não mais restava.

Ainda assim, permaneceu por algum tempo a habitar aquele castelo que somente em seus sonhos fora lar, pois sempre se apresentara tal qual seu senhor, frio e sombrio. Mas chega o tempo em que os sonhos só não bastam para que se não sufoque e então, com a última tentativa para abrir-lhe os olhos veio também a derradeira derrota. Ele a perdera para sempre, ela jamais o tivera.