Vote No Final - Rogério deve assumir Felipe como seu filho? - CAP III

Capítulo III - Noite de Natal

Na delegacia quando Rogério ficou a par da situação se acalmou, seu filho tinha sido pego com um pouco de maconha, uma quantidade que configurava tráfico, mas que com um bom advogado podia-se conseguir uma liberdade assistida, afinal nenhum juiz em sã consciência iria colocar um adolescente de família nas prisões brasileiras para virar mais um marginal. Logo D. Margarida chegou a delegacia, e sua influência foi o bastante para que soltassem seu neto, o processo agora estaria nas mãos dos advogados de Rogério, ele teria de lidar somente com mais esse problema familiar. Como Pedro conseguira a droga, com quem seu filho estava andando na capital? Como não tinha percebido antes esse desvio de conduta, essa fraqueza do menino?

Enquanto dirigia ia lembrando da infância de Pedro, sempre um garoto alegre, companheiro de sua irmã, aplicado nos estudos, nos esportes, lembrou-se da primeira vez que viu a derrota nos olhos do filho, foi num campeonato de natação, Pedro havia treinado o verão inteiro para sagrar-se campeão no colégio, mas não conseguiu alcançar o primeiro lugar, seu adversário que estava um ano à sua frente largou mais rápido, depois desse dia Pedro não competiu mais. Rogério pensou que fosse passageiro, mas percebeu agora que foi ingênuo, devia ter visto nisso um sinal de que Pedro era um garoto sensível, quantas mais desilusões ele teve após essa sem saber como agir, se desesperando e rompendo com amizades, namoros e compromissos. Nesse instante Rogério percebeu o quanto foi omisso como pai, o quanto seu filho precisou dele esse tempo todo e ele não percebeu, e como estava perdido agora diante disso, não sabia mais como agir. Como voltar atrás e corrigir esses erros, consertar esse jovem para que ele fosse um adulto saudável, não se metesse em encrencas como as daquela noite, Rogério se sentiu impotente e quando chegaram ao casarão não sabia o que dizer, simplesmente subiu ao quarto, fechou a porta e deitou-se, demorou a pegar no sono, pesou tudo o que vira até o momento, os problemas que pensou não existir com Pedro, o que poderia estar acontecendo também com sua filha sem que ele soubesse, sua esposa que por qualquer motivo se embriagava até adormecer, sua cunhada que despertava nele sentimentos controversos e seu sobrinho que frágil como Pedro na infância suplicava por um pai, adormeceu com esse quadro familiar na cabeça suplicando por uma solução.

Todos estavam na mesa do café da manhã do dia 24 de dezembro, a semana transcorreu bem, enquanto as mulheres correram com os preparativos para as festas, Rogério não saiu do escritório, estava muito ocupado com seu trabalho, misterioso nem dava bola às reclamações de todos quando era questionado sobre sua semana de férias, tão entretido que não acompanhou a novela que se desenrolava no casarão, a cada dia Solange parecia mais encantada, recebia e fazia diversos telefonemas misteriosos, as crianças se divertiam tentando descobrir sobre o pretendente misterioso, e Felipe sozinho sonhava que de repente poderia ser seu pai, que voltaria na noite de natal como um presente de papai Noel.

Eram 18 horas quando todos foram chamados para seus quartos, era preciso se arrumar, tomarem banho, vestirem os trajes especiais e esperar, afinal a grande noite havia chegado, todos subiram, menos Rogério, foi até o bar, se serviu de uma dose e estava levemente nervoso. Solange passou por ele, foi então que ele percebeu que estavam sozinho e resolveu chamá-la de volta.

- Solange, será que poderíamos conversar um minuto à sós?

Ela pediu que Felipe subisse e fosse entrando no banho.

- Sim, claro

- Pode ser no escritório?

Os dois entraram e Rogério fechou a porta

- Você parece estar nervoso Rogério, aconteceu alguma coisa?

- Sei que você vai achar isso meio estranho, precipitado até. Mas acho que de repente se conversarmos com todos, fizermos do jeito certo podemos consertar tudo que está errado

- Não estou te entendendo, o que está errado?

- Estou me referindo a oito anos atrás Solange

D. Margarida se aproxima do escritório, iria pegar o último presente para colocar na árvore, era um embrulho grande, e não quis colocar antes para não chamar atenção de Felipe, mas antes de abrir a porta reconheceu a voz de Rogério e Solange, e principalmente percebeu que conversavam sobre algo que acontecera na época em que ela morou na casa do cunhado.

- Já pedi que esqueçamos isso Rogério, fizemos um acordo não lembra, ninguém tocaria nesse assunto, nunca mais, nem eu, você, nem mesmo Soraya.

- Mas Felipe está sofrendo, ele precisa de um pai, precisa de alguém ao lado dele.

- E você acha que a verdade vai aliviar alguma coisa para ele? Você acha que saber quem realmente é o pai dele vai adiantar? Vai destruir ainda mais essa família, eu não conseguiria mais olhar na cara de minha mãe, de meu filho. Por favor Rogério, pare com isso, e me deixe ir.

- Hoje eu vou trazer para Felipe seu verdadeiro pai, como papai Noel vou dar a ele a chance de ganhar o que sempre quis, um pai de verdade, alguém que cuide dele com todo o amor que só um pai pode sentir por um filho. Eu vou assumi-lo como meu filho.

- É faça isso, e destrua de vez essa família, faça isso e tenha uma esposa entregue à bebida 24 horas por dia, um filho às drogas por achar que seu pai que já não o amava, agora resolveu arrumar outro filho, e dê um enfarte a minha mãe também, ela tá precisando. Preste atenção no que está dizendo Rogério, não estamos aqui para atender os caprichos de um garoto de oito anos que ainda não entende o quanto é difícil a vida lá fora, tem criança que nem pai nem mãe, nem ninguém tem para cuidar dele. Felipe vai ter que se acostumar, e um dia vai entender o porquê disso tudo e vai me agradecer, agora pare de querer ser o super-herói que quer resolver os problemas de todos e cuide dos seus, que nem desses você está dando conta.

Solange saiu da sala, e deu de cara com sua mãe, ela consentiu, entendeu o que estava acontecendo e deu espaço para que sua filha passasse, ficou feliz por Solange não se deixar levar por qualquer conversa, mas uma coisa a intrigava, o que teria acontecido há oito anos que havia tornado um segredo tão imaculado entre esses três, o que Solange havia aprontado que colocaria em risco sua moral a tal ponto de não conseguir mais encarar sua mãe? Só havia uma pessoa que pudesse responder essa pergunta e hoje no final da festa era o momento perfeito para que ela conseguisse essas respostas.

Quando todos desceram para a festa estavam eufóricos, a noite de Natal muda mesmo as pessoas, parece que os problemas não existem, o amor contagia o ambiente e todos ficam extremamente felizes, sentaram à mesa e fizeram uma oração sentida para a ceia, antes do brinde inicial D. Margarida agradeceu a presença de todos mais um ano, como sempre desejou que estivesse mais anos para que pudesse ver mais Natais como aqueles e quem sabe até com bisnetos, não que desejasse que isso acontecesse com pressa. Todos riram. Foi então que Rogério se levantou e pediu a palavra.

- Sei que esse ano foi um pouco conturbado para minha família, principalmente o final. Estive viajando muito, fiquei fora de casa com uma frequência que não desejava, mas hoje quero aproveitar para dar um presente para nossa família...

- Presentes só depois da meia-noite – disse a matriarca

- Mas esse é especial minha sogra, sei que a senhora vai permitir. Apesar da intolerância de vocês em aceitar que eu me trancasse no escritório nessa última semana, tinha um motivo especial, estava trabalhando justamente na nossa nova vida, uma vida onde prevalecerá a união da nossa família, nossa saúde e principalmente nossa transparência e companheirismo, quero que cada um possa contar com o outro em qualquer que for o problema, e para isso precisamos estar todos unidos, e não me refiro só à nós quatro, quando digo família, me refiro a D. Margarida, Solange e Felipe também, por isso essa semana estive trabalhando para transferir parte de meus negócios para cá, comprei uma casa aqui na cidade e estaremos a partir desse ano, todos juntos novamente.

Pedro e Patrícia levantaram da mesa com violência e correram para seus quartos, Soraya reprovou-o com o olhar e subiu para conversar com as crianças.

- Mas o que está acontecendo?

- Eles são jovens Rogério, não querem enterrar a vida deles numa cidade do interior, você tinha que conversar com eles antes, não informá-los simplesmente, você está agindo contra tudo o que acabou de dizer. - esclareceu-o Solange.

Logo todos voltaram para a sala, Soraya disse ao marido que conseguiu convencê-los dizendo que nada era definitivo que iriam conversar melhor sobre isso ainda. Na entrega dos presentes todos se divertiram muito, e D. Margarida fazia questão de igualar o número de presentes para cada um da família não ficando nem um sequer com um a menos ou a mais.

Quando já passava da uma hora todos estavam indo deitar, Rogério foi colocar Felipe na cama para Solange que estava um pouco alta e não conseguiria subir as escadas com ele no colo, a sala estava iluminada somente pela árvore piscando as luzes de Natal, Solange vinha atrás apoiando na cintura de Rogério para guiá-lo e se manter em pé. Devagar para não fazer barulho e segurando o riso pela cena inusitada de Solange bêbada, Rogério olhou para o rosto angelical de Felipe quando chegou a porta de seu quarto, Solange entrou para arrumar a cama, o garoto abriu os olhos ainda meio sonado.

- Papai? Eu sabia que papai Noel o traria hoje, eu sabia.

E voltou a dormir, abraçando ainda mais Rogério.

"Você acha que Rogério deve assumir Felipe como seu filho?"