SEI...
"Sei...", dizia ele com longa pausa, ou escrevia, como que a refletir sobre uma palavra, uma frase, trinchando não só as letras mas a entonação que supunha haver na fala da amada, ponderando a chance de encontrar algum traço de delito, mentira, traição...
Aquele "sei..." era o sinal de que ele já confabulara com seus vinte botões e tinha uma hipótese, melhor dizendo, uma certeza, que só a si pertencia.
Nesses momentos ela tentava adivinhar-lhe os gestos: coçava a cabeça, olhos cabisbaixos? cruzava os braços e abaixava a fronte? esfregava a sola do pé direito na panturilha esquerda? passava a mão na boca e em seguida no queixo, movimentos circulares, revelando desagrado? Ou simplesmente cravava o olhar no infinito, ato introspectivo, e saía do mundo por alguns minutos?
De que desconfiava? E por quê? E de quem?
O sofrimento prolongado é como um crime premeditado.
Como cortá-lo pela raiz?
Extirpar as ervas daninhas que se imiscuem nos sentimentos?
Tormento.
Mas foi como ele decidiu.
Achou melhor antecipar a sangria, desvencilhar-se do amor, do desconforto de amar, voltar ao seu ramerrão diário, ao porto seguro...
"Melhor deixar assim", dissera taciturno quando ela lhe tefonou.
Profilaxia fora o argumento...
"Desfaçamos logo esse equívoco".
Esperava que a inteligência dela deduzisse tudo, ou que bem entendesse o que quisesse. Não lhe importava mais sua pessoa.
Equívoco?
"Eu puxei você pra dentro do meu coração..." , ele dissera.
Calou-se o ontologista monístico.
Para sempre.
Dor maior no peito da amada, a subjetivista.
Dor eterna.
poema derivado deste conto: "Pólvora nas veias!"
foto: flickR
"Sei...", dizia ele com longa pausa, ou escrevia, como que a refletir sobre uma palavra, uma frase, trinchando não só as letras mas a entonação que supunha haver na fala da amada, ponderando a chance de encontrar algum traço de delito, mentira, traição...
Aquele "sei..." era o sinal de que ele já confabulara com seus vinte botões e tinha uma hipótese, melhor dizendo, uma certeza, que só a si pertencia.
Nesses momentos ela tentava adivinhar-lhe os gestos: coçava a cabeça, olhos cabisbaixos? cruzava os braços e abaixava a fronte? esfregava a sola do pé direito na panturilha esquerda? passava a mão na boca e em seguida no queixo, movimentos circulares, revelando desagrado? Ou simplesmente cravava o olhar no infinito, ato introspectivo, e saía do mundo por alguns minutos?
De que desconfiava? E por quê? E de quem?
O sofrimento prolongado é como um crime premeditado.
Como cortá-lo pela raiz?
Extirpar as ervas daninhas que se imiscuem nos sentimentos?
Tormento.
Mas foi como ele decidiu.
Achou melhor antecipar a sangria, desvencilhar-se do amor, do desconforto de amar, voltar ao seu ramerrão diário, ao porto seguro...
"Melhor deixar assim", dissera taciturno quando ela lhe tefonou.
Profilaxia fora o argumento...
"Desfaçamos logo esse equívoco".
Esperava que a inteligência dela deduzisse tudo, ou que bem entendesse o que quisesse. Não lhe importava mais sua pessoa.
Equívoco?
"Eu puxei você pra dentro do meu coração..." , ele dissera.
Calou-se o ontologista monístico.
Para sempre.
Dor maior no peito da amada, a subjetivista.
Dor eterna.
Daquele dia ficou o mistério, o incompreensível. Para ela.
Restou o inconformismo. Nela. Para sempre.
E nele?
SP, 16/o6/2009Restou o inconformismo. Nela. Para sempre.
E nele?
poema derivado deste conto: "Pólvora nas veias!"
foto: flickR