Adeus a um sonho de amor
Alta noite, ela sonha... O canto triste de uma andorinha vem fechar seu coração mais ainda. Só pensa nele. Os pensamentos lhe dizem de horas sem alento, de rezas de ladainhas aos pés do altar de Santo Antonio; vela acesa, joelhos dobrados ao chão: “Santo Antonio viajante procurador dos perdidos me traga meu amor...”. Ah, quanto dói saber que não o verá mais! Uma vez, ele lhe dissera de amor, beijara seu corpo por entre as caminhadas da lua, com total doçura de um deus do amor. Quantos dias passara nos braços dele vivendo tão puro amor? Não recorda... É tão difícil dizer adeus!...
Era um tempo em que as flores cochichavam amor nas palavras dos versos... E o encontrara na noite entre as palavras de um poema. Ficara ali, alma saboreando o que ele escrevera. E lera, relera. Talvez tenha se enamorado ali mesmo ao primeiro olhar nos textos dele. Ou então deva ter sido quando ficara na cadeira de balanço, à noite, brejeiramente enfeitiçando a memória com o nome dele.
_Tão poeta... tão mulher...
Ele dissera em comentário a uma poesia dela. E começaram assim... Noites e noites estiveram a si falar em doces trocas de carinhos, em falas do coração...
Parecia que o sertão era continuamente fresco, nas horas das noites em que estavam juntos. E conversavam por altas horas enquanto as estrelas fingiam não estar com sono e ainda segredavam ao seresteiro que lavasse o rosto sonolento com água fria da cacimba... só não poderia deixar os amantes sem uma canção.
E ela amou. Com toda a força de uma mulher, com quanto um poeta sente o beijo da poesia nos versos. Olhava-se por dentro... Era tão bom amar!... Esforçava-se para não dizer a ele dos problemas do dia, contudo ele lhe via a alma e amante de seu bem-estar, estendia-lhe um divã e lá ficava ouvindo-a contar de suas dores. Após, beija-a com doces afagos, sorriso na alma, um abraço de ternura...
Às vezes se lembrava das canções que ele lhe dizia ao pé do ouvido, mãos rodeando seus quadris, salpicando desejos na pele trêmula ante o toque dele. Quando sentia o vento dizer que eram horas de si ir, fugia aos lábios dele pulsando por mais um beijo.
Agora a noite era um fantasma sombrio com seu manto sobre as estrelas, correndo até a lua em doida perseguição a seus restos de fantasias de amor. Ouve continuamente a gargalhada do vento, cortando as palhas mortas das palmeiras. Não há futuro diante da cascata de suas lágrimas. Uma saudade dele a corrói intimamente gritando na alma aflita por uma esperança de ainda vê-lo.
_Não choras... Maria, Tenho outro amor!
Como não sangrar? Geme-lhe o coração ante a lembrança dessas palavras na noite. Não sabe como seguir. A noite lhe era inimiga? Os pássaros escondem-se todos na mata silenciosa do sertão? Ergue os olhos ao céu noturno vazio de estrelas: Há uma sentença em seu olhar negro... para sempre lembrar de seu amor!...