PAPAI: O POETA DA ALEGRIA (miniconto)

Os habitantes daquela vila o conhecem como o Poeta Alegria. Por onde passa distribui sorrisos e poesia. Ah! E como declama bem! Diz ser amigo de poetas importantes. Conversa muito com Lord Byron. Neste sábado, véspera do Dias dos Pais escolheu uma poesia de Byron e saiu declamando pelas ruas.

” Há um tal prazer nos bosques inexplorados,

Há uma tal beleza na solitária praia,

Há uma sociedade que ninguém invade

Perto do mar profundo e da música do seu bramir

Não que ame menos o homem

Mas sim mais a Natureza"

No passado foi muito premiado por suas poesias. Recebeu até um prêmio internacional muito conhecido. Viajou com sua mulher e filho para receber o premio em Vila Real de Santo António em Portugal.

O Prêmio Internacional de Poesia Palavra Ibérica é uma honra para um poeta. Quem o conhece bem sabe que essa alma solitária tinha tudo para ser infeliz. No retorno da festa do recebimento do prêmio o seu carro derrapou na estrada. Capotou três vezes. Sua mulher e filho morreram. Ele ficou em coma por 29 dias. Quando voltou soube da notícia e chorou. Chorou. Chorou. Chorou e chorou. Por semanas ficou calado. Não dormia. A exaustão o fez cair em um sono profundo. Sonhou com sua mulher e filho sentados, atentos ao poema, e ele a declamar. Eles o aplaudem! “Papai declama Lord Byron”.

Eu tive um sonho que não era em tudo um sonho

O sol esplêndido extinguira-se, e as estrelas

Vaguejavam escuras pelo espaço eterno,

Sem raios nem roteiro, e a enregelada terra

Girava cega e negrejante no ar sem lua;

Veio e foi-se a manhã - veio e não trouxe o dia...

A partir deste sonho o Poeta declama obras de tantos outros poetas e os considera como amigos. E sorri ao declamar: "Na solidão é quando estamos menos só..."