Menino do chinelo branco

Em uma sala em que o silêncio é a regra, lá estão eles... O menino do chinelo branco e a menina do casaco rosa.

É uma sala quadrada, onde existem mais pessoas. Cada uma em seu lugar, ninguém se olha, ninguém se toca.

O meio da sala é vazio. As pessoas estão de costas para ele...

Com o menino e a menina, havia uma 3ª pessoa. Eles dividiam o mesmo espaço. Olhavam para a mesma direção, estavam ali procurando a mesma coisa.

Mas em algum momento, ele e ela se distraíram e por alguns segundos se olharam. Era um momento quase que mágico, quando a presença de outras pessoas não era o que importava.

Ela conhecia bem aquele olhar. Era nele que ela se perdia.

Ele, com seu rosto quase que angelical, não desviou. Inclinou um pouco a cabeça e olhou como quem diz: "o que foi?"

Ela poderia fazer o mesmo gesto, querendo dizer a mesma coisa, afinal ele também estava olhando-a. Mas ela esboçou um pequeno sorriso e balançou a cabeça de lado, como quem diz: "não é nada"

Lembre-se: o silêncio era regra.

Mas com eles não era preciso nenhuma palavra. Não mais. A comunicação já se fazia além disso.

Entre eles, alguém diz: "Achei!" e naquele momento eles voltam a olhar na mesma direção, pra ver se de fato encontraram o que procuravam.

Não era preciso que ninguém se levantasse onde estava sentado. Era perfeitamente possível os três conseguirem ver. Mas ele se levantou. Não porque queria ver melhor, ele só queria chegar mais perto dela, toca-la. E então ele parou ao seu lado. Colocou a mão em seu cabelo, passava os dedos em sua nuca, com delicadeza e carinho...

Ela já não conseguia se concentrar no que estava lendo pra confirmar se tinham encontrado mesmo ou não. Ela só conseguia pensar no toque do menino.

A voz que agora já não está mais entre eles e sim do lado, pergunta baixinho, sem ter a menor noção do que está acontecendo pois ao contrário dos dois, ela ainda não havia tirado os olhos da leitura desde que sentaram ali: "o que você acha? é isso mesmo?", e a menina, por ter conseguido ler apenas duas ou três frases, diz quase que sussurando: "é sim."

Ela não queria dizer aquilo, porque dizer que haviam encontrado o que foram procurar, significava acabar com aquele momento tão agradavel entre ela e o menino.

- "duas cópias, por favor" disse ela chegando bem perto do senhor que estava sentado em uma mesa no canto.

Ele entregou as cópias a ela e eles foram saindo da sala.

Naquela sala de silêncio, o único som que se ouvia era o do chinelo branco.

Lunna Lilac
Enviado por Lunna Lilac em 07/08/2009
Código do texto: T1741579
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.