TRAJETÓRIA

TRAJETÓRIA

Em especial

Dedico este livro, a você meu pai, Raimundo José Tavares (RAJOTA) (in memorian) que tanto me incentivou a concluir esse projeto, eu sei que onde o Senhor estiver, estará orgulhoso, e torcendo por mim.

APRESENTAÇÃO DO LIVRO

Desperdiçar uma oportunidade é pior que não tê-la tido um dia.

Muitas vezes em nossa vida, passamos por situações que nos impedem de enxergar essas chances e nossa vida escorrega pelo ralo da existência.

O autor nos apresenta uma trajetória na vida de uma pessoa, a qual representa um universo de tantas outras. Seu traço marcante nessa história é o talento para jogar a vida fora

É isso que o alcoolismo faz com seres humanos, relega-os à condição de sucata sem direitos de escolha, porque o destino é traçado pela sua própria fraqueza.

Nosso personagem, apesar de todos os infortúnios consegue dar a volta por cima e resgatar a dignidade daqueles à quem amou e prejudicou com seu comportamento doentio.

Será que todos teriam ou terão a mesma sorte? Quantos irmãos nossos e colegas foram abatidos precocemente pelo vício?

Restou-nos aqui uma história de amor entrecortada de importunos e várias promessas, porém, com um desfecho cheio de novas esperanças a serem renovadas no dia a dia.

DORA TAVARES.

“Procuramos atravez da prece

e da meditação,

melhorar nosso contato conciênte

com Deus,

na forma em que o concebemos.”

Hoje dezessete de março, estou sentado no topo de um monte, debaixo de uma árvore, com os olhos fixos muito além do horizonte.

Estou procurando, numa viagem interior, o verdadeiro sentido da vida. Lembro-me de que, quando criança, conseguia transporta-me do céu ao inferno em segundos. Corria feliz pelo campo, pegava passarinhos, brigava na saída da escola, roubava frutas no quintal do vizinho, nadava escondido nas águas barrentas do córrego, balançava no cipó sentindo um verdadeiro Tarzan. Um pedaço de pau transformava-se num cavalo alado. Meu Deus! Quantas lembranças! Mudava de mocinho a bandido num piscar de olhos. Tudo era magia! Sofrimento e alegria em curto espaço de tempo. Era um mundo contraditório, onde os sonhos e a realidade se misturavam .Eu queria ser um soldado, um artista, agente secreto, talvez um médico ou até mesmo um presidente. Tudo isso era fácil, bastava querer e tudo se resolvia, como por encanto. Contudo, criatividade não faltava. Eu, junto aos meus dois companheiros (Josias e João), criávamos o impossível e o imaginário.

Certa vez, imaginando o funcionamento de um revólver, peguei um cano fino e preparei o orifício da parte que seria de trás. Idealizei uma coronha e ali estava o meu grande invento. Fui até a mercearia, comprei algumas bombinhas, coloquei-as dentro do cano, forçando-a até que seu estopim aparecesse no orifício traseiro. Coloquei, em seguida, uma pequena bucha de papel, após, algumas bolinhas de chumbo e, finalmente, outra bucha, para que os chumbos se mantivessem ali dentro. Tudo estava perfeito, só faltava um herói que se habilitasse à testar e fatalmente, entraria para a história. Com muitos juramentos e palavras de honra, consegui o voluntário: o pequeno e gordo Mauri. Em pouco tempo, nosso herói se encontrava de arma em punho, fazendo mira em um chuchu. Colocamos fogo no estopim. Eu, por minha vez, tapei os ouvidos, fechei os olhos, pedindo a Deus que a bomba não falhasse. Quando senti que a experiência havia se consumado, abri os olhos, levei um grande susto. Vi o meu amigo gordinho caído no chão, com o rosto todo chamuscado de pólvora. O tiro havia saído pela culatra. Felizmente, o nosso amigo Mauri, estava inteirinho. Para mim, o teste havia sido o maior sucesso. Bastava reforçar o cano e tudo estaria bem. Realmente, a idéia funcionou. Em pouco tempo, quase todas as crianças da cidade traziam um pedaço de cano e um pedaço de madeira, para que construíssemos um revolver igual para eles. Graças a Deus, não tivemos notícia alguma de acidente, causado pela nossa invenção. As grandes idéias, projetos audaciosos, saltavam de nossas cabeças, como um gato na chapa quente.

Estávamos na era das grandes viagens espaciais, o homem conquistava a lua. Para nós, foi um momento de inspiração, deveríamos construir uma nave, não para conquistar o espaço, mas que tivesse propulsão suficiente, para nos tirar do chão, nos levado a margem oposta de um brejo, existente nas proximidades de minha casa. Pouco tempo depois, estávamos com as mãos na massa, pegamos madeira, construirmos um caixote, previamente projetado para os três passageiros (ou brejonautas), pegamos um gomo de bambu, de mais ou menos trinta centímetros, enchemos aquele tubo de pólvora, afixando-o debaixo daquele caixote e o colocamos a frente deste sobre um cavalete, entramos os três ( Gleison, Paulinho e eu ). Juntos comungávamos a mesma idéia, se o foguete de rabo podia subir, usando o mesmo principio porque não a nossa nave. Com a adrenalina a toda, com a mesma emoção dos astronautas e com o juízo de uma galinha, resolvemos apertar os cintos, subimos na nave, colocamos fogo no estopim, nos agarramos uns aos outros, com toda a força e .BUM! Santo Deus, até hoje escuto o barulho ensurdecedor daquela explosão infernal. Nosso foguete espatifou jogando-nos ladeira abaixo. Graças ao bom Deus, apesar de sujos de terra e carvão, saímos sãos e salvos. No outro dia, toda a pequena cidade comentava, o fato todo, nos criticavam, riam de nós e logo recebemos o titulo de Brejonauta. Até hoje há quem se lembra do fato. Ainda damos boas risadas.

Parte 2

“O homem livre

é escravo

de seus deveres”

O tempo passou, aos poucos foram-se as possibilidades, eram menos sonhos e mais realidade. A cruel realidade aflorava, ela começava a impor sua vontade. Chegava a adolescência. Junto com ela, as mais absurdas dúvidas, a falta de identidade! Quanto sofrimento numa simples transformação.

No meio do ano, veio para a minha sala de aula, transferida de outra cidade, a bela Suélen, para mim ela era a garota mais bonita do mundo. A troca de olhar, a falta de assunto as desculpas mais esfarrapadas, sempre nos levaram a ficar perto Os dias passaram e nos sentíamos mais enamorados, mesmo com toda a minha timidez, o amor falou mais alto. Começou ali a nossa primeira experiência amorosa. A cada encontro, sentia o coração pular com tanta força no peito, parecendo que saíra pela boca. Era uma emoção forte; minhas mãos suavam frias, as pernas perdiam a força, eram dias de glória. Vieram os primeiros beijos, escrevemos juntos os primeiros poemas de amor. A insegurança, o ciúme, começaram a roubar minha paz, começou então uma mistura de amor e ódio. Dia doze de junho, dia dos namorados, saímos juntos com os amigos, a cada garrafa de cerveja que bebíamos, sentia meu ciúme cada vez mais fora de controle, até que não contive mais, aprontando, assim, a cena mais ridícula de minha vida. A vergonha que senti, junto da minha timidez, não nos deu chance de reatar, deixando assim de escrever, talvez, o capítulo mais bonito de nossa vida. Aquilo doeu, doeu como se uma avalanche tivesse caído em cima de minha cabeça. Comecei a sentir que, a cada dia, minha timidez se acentuava, a auto-estima também estava em baixa e minha vida estava se tornando em um verdadeiro inferno.

Culpava minha família, e o mundo. Achava que eu tinha todos os direitos eu só não queria deveres. Um dos maiores suplício para mim era passar perto das pessoas, quando elas estavam paradas no passeio de suas casas, principalmente se fosse jovens, minhas pernas tremiam, meu corpo endurecia, sentia que estava rebolando e que aquelas pessoas ririam de mim. Isto é que era sofrimento! Nesta altura, eu andava pela rua só, acompanhado ao mais angustiantes pensamentos. Em uma noite fria, de inverno. Eu estava sentado numa lanchonete, numa auto-piedade que fazia gosto, quando chegaram, ali dois amigos de infância, Harailton e Décio, e começamos a conversar. Em pouco tempo, cada um contava suas conquista, cada uma mais fantasiosas que as outras; de lorota em lorota, eu não pude ficar para trás, dei asas à imaginação, podendo, assim, igualar-me aqueles fanfarrões. Continuamos a sair juntos; a cada dia que passava os amigos cobravam aquelas conquistas, sobre as quais eu havia falado naquela noite. Conquista que só existiam em minha imaginação.

Parte 3

“A maior de todas as batalhas

É lutar

contra si mesmo”

Dois anos se passaram. Enfrentaria, pela primeira vez, um emprego. As dúvidas, o medo, a insegurança eram permanentes. Para a família, me tornei o orgulho: estudar, trabalhar, era o máximo, apesar do aspecto de pessoa normal e equilibrado. Só eu sabia dos fantasmas que rodeavam minha vida. Meus defeitos de caráter, se expandiam. Estávamos na primavera. Meu conflito aumentava, e, paulatinamente, eu era uma bomba prestes a explodir. O pavor de decepcionar aqueles que confiaram em mim, doía lá no fundo de minha alma. Dia a dia criava novas fantasias e me valia de mentiras, para proteger-me, ou me afirmar, perante os amigos. Minha credibilidade, estava em decadência. Um fato aqui, outro ali, fazia ver que meu mundo irreal estava prestes a ruir. Ainda não era a minha derrota, era o começo de uma longa jornada, que me levaria ao nada. A cada dia, eu esculpia uma imagem deformada e degradante, caminhando a passos largos para a decadência total. Meus amigos e eu saíamos todas as noites, sempre à procura de novas emoções. Certa noite, sei que, nem porque, resolvemos tomar umas e outras. Nesse momento, percebi que a bebida não me dava coragem, mas me tirava a vergonha, e assim eu podia dançar, conversar com as pessoas, me permitia, inclusive, cantar. Que alegria! Parecia que eu encontrara o elo perdido.

Dizem que, quando o diabo inventou a bebida alcoólica, escreveu em seu rótulo os seguinte dizeres: “Em cada doze desta bebida, há separação de lares, desastre, assassinato, morte prematura, choro de mãe e lágrimas de filhos.” tentou ele fazer alguém beber, mas com este rótulo, ninguém quis arriscar-se. Então, voltou para o seu laboratório, tratou de pingar sete gotas de felicidade, ofereceu às pessoas e elas tomaram. Por causa de umas poucas gotas de felicidade, muitas vezes nos tornamos vítimas de todos os dizeres previamente escrito no rótulo daquela invenção infernal”. Era o início de uma triste e nova etapa de minha vida. Eu, que não podia coordenar, nem a minha vida, após o primeiro gole, tornava-me conselheiro, às vezes. até filósofo de botequim, realmente, era um grande avanço. Por incrível que pareça, meus parentes e amigos garantiam que aquelas bebedeiras passariam, bastava que eu me casasse. Só assim criaria juízo.

O tempo passava e, para não ficar só, procurava novos amigos, até que a situação chegou a um ponto em que as pessoas que prestavam atenção as minhas conversas eram os alcoólicos (pés inchados, do pescoço fino), já em fase terminal. Comecei a sentir vontade de morrer, cheguei a pensar no auto-extermínio. A coragem era pouca. Entre ressaca, presepada e vergonha, eu paralisava temporariamente minhas bebedeiras, isso só fazia crescer meu orgulho. Estão vendo! se eu fosse um alcoólatra, jamais conseguiria parar, mas sou homem, paro à hora que quero e bebo quando quero. Nestas altura, Deus fazia parte de um passado remoto. Fui decaindo, decaindo, mas, felizmente, cheguei a um leito de hospital Depois de vários exames, constatou-se uma cirrose hepática. Ao acordar, vi um velho médico, que me observava com carinho e atenção. Disse-me ele: Filho; está na hora de você acordar; lembre-se que todas as lutas travada com a bebida alcoólica, você perdeu. Alcoolismo é doença progressiva, incurável e de fins fatais, quem brinca com ela, terá uma morte prematura, ou poderá passar o resto de sua vida num manicômio, até mesmo em uma cadeia. Aquele médico e eu fizemos uma grande amizade. A ele eu confiava todos os meus tormentos, No final dos quinze dias de internamento, estávamos conversando a respeito do alcoolismo e Alcoólicos Anônimos, quando percebi que, nos olhos daquele bom médico, corriam lágrimas em abundância. Depois de disfarçar o choro por algumas vezes, disse-me:- Hà exatamente dois anos atrás, neste mesmo quarto, eu perdi meu único filho, aos vinte e dois anos de idade. Seu problema também fora o alcoolismo. Nele eu havia depositado todos os meus sonhos: sonho de ser avô, ou mesmo de assistir à sua formatura em engenharia. Ele tinha um futuro promissor: era inteligente e também um bom aluno. O alcoolismo não lhe deu a menor chance, interrompendo, ali aquele início de vida. Pra mim, restou a sua última imagem: aqueles olhos sem brilho, no seu instante derradeiro, quando disse, apenas: _Perdoi-me, papai! _O alcoólatra perde primeiro a fé, continuou o doutor, depois, perde a esperança, e, por fim, a vida. Naquele momento, pude refletir:_ Se eu continuasse naquela vida, fatalmente submeteria meus pais, aquele mesmo drama Meus pais, muito religiosos, faziam sempre as mesma perguntas: _Porque você bebe? O que esta faltando para você? O que estamos fazendo de errado? Porque se comporta desta forma? Apesar de ver um brilho de esperança nos olhos de meus pais, sentia também um tom melancólico, em suas vozes. Olhei para eles e tudo que consegui dizer foi: _ Pelo amor de Deus, me ajudem! No hospital os dias passavam lentamente. Aos poucos, recuperava minha saúde. O doutor Pedro Otávio, vinha me visitar (eu o chamava de o “bom velhinho”); trazia um brilho no rosto, sempre com um sorriso no olhar. Ele sabia que, com a ajuda de Deus, salvara minha vida. Feliz, ele me disse: _ Aqui salvamos o seu corpo, você deve procurar o Alcoólicos Anônimo, pois só assim pode salvar sua vida. Ouvi tudo aquilo, não respondi nada. Pensava comigo mesmo: _ Não sou alcoólatra, tenho mesmo é que criar juízo; vou provar para todos, que sou um homem.

PARTE 4

“O orgulho fragiliza,

e nos condena

a repetir

os erros

do passado.”

Passou o tempo, minha abstinência fazia aniversário. A cada dia, mais me gabava de ser macho; mais que para de beber, era provar que todos estavam errados. Com minha abstinência, logo arrumei um emprego, o que só fez realçar a minha prepotência. Dizia a todos: _Estão vendo, quem tem competência, não fica desempregado. Tudo era orgulho, eu era a própria vaidade. Os dias de vaca magra passaram, dali para frente o céu seria o limite.

Alguns meses depois, consegui minha primeira promoção. Meu salário dobrou, decide comprar um carro; afinal de contas, não ficava bem um chefe de cessão andar de ônibus. Tudo que estava acontecendo, para mim, era o máximo. Em apenas um ano e meio de serviço, após sair de uma clínica, já havia conseguido muito mais que meu pai conseguira em toda a sua vida. A vaidade era tamanha, que não me sobrava tempo para agradecer a ninguém, nem mesmo a Deus.

Dia primeiro de julho, estacionava meu carro, defronte a uma loja, quando senti alguém tocar em minhas costas. Antes que me virasse, eu, ouvi uma voz que dizia:

_ Ei, milionário, não se lembra mais de seus velhos amigos?

_Voltei-me rapidamente. Aquela voz, eu reconheceria, em qualquer lugar. Senti o corpo todo tremer, um gelo esquisito no estômago, meu cérebro era como se flutuasse. Aquela voz, eu já mais a confundiria, era dela, de Suélen, minha primeira e única paixão. Naquele momento pude sentir que nem o tempo, nem distância eram capazes de apagar um grande amor. Nessa hora, senti-me como um verdadeiro adolescente, inseguro e feliz. Conversamos um longo tempo. De repente, sei que, nem porque, fizemos silêncio; era como uma interrogação aparecesse entre nós, era como ter medo da resposta, antes da pergunta. Era só perguntar: _Você se casou? mais a coragem nos faltou e deixamos que o tempo nos respondesse. Convidei-a então para almoçar. Com um breve sorriso nos lábios, ela aceitou. Almoçamos, sob o impacto daquele encontro repentino. Apesar da certeza, de nossos sentimento, mesmo assim a pergunta continuava atravessada em nossas gargantas. Por fim, enchendo-me de coragem, perguntei: Suélen você se casou? _Não! _Respondeu ela com um belo sorriso no olhar. Em seguida, devolveu-me a mesma pergunta: _E você, porque não se casou? _Eu, por minha vez, respondi com toda a honestidade do momento. Contei todo o problema que tive desde que nos separamos. Falei sobre o meu alcoolismo, que não me dera tempo nem para amar, até o dia que fui internado em um hospital, começando dali uma nova caminhada. Saímos do restaurante, sentindo como se uma aura mágica nos cobrisse, separando-nos do resto do mundo, reservando para nos, toda a felicidade do universo. Fomos para sua casa, brincando como duas crianças. Naquele momento encantado, não tivemos a menor vergonha de sermos felizes. Daquele dia em diante, não mais perdemos o contato, a cada encontro, solidificavam-se nossos sentimentos. Em setembro, convenci-me que minha vida não teria sentido, se perdesse Suélen. Naquele mesmo dia, eu a procurei. Contei a ela que estava vivendo os melhores dia de minha vida. Antes de qualquer resposta, perguntei se ela queria casar-se comigo? Suélen sorrio com a alma, e me abraçou com ternura. Senti uma sensação indescritível, parecia estar dentro de uma bolha de sabão que flutuava a deriva.

PARTE 5

“Só o amor conduz o homem

à felicidade”

Casamo-nos em outubro depois de uma bela festa, uma lua de mel inesquecível, tudo estava perfeito. Passou um ano, tudo continuava às mil maravilhas. Consegui comprar uma bela casa, de fronte à praça da cidade. Ali estava nosso tesouro, ali estava nosso coração. A vida parecia trabalhar a nosso favor. Tínhamos uma boa casa, um bom emprego e uma felicidade capaz de contagiar a própria natureza. Vieram então os filhos, Carlos José, Pedro Otávio,( cujos nomes fora uma homenagem ao meu grande amigo, o bom velhinho), e Maria Clara, que era para nós a coroação de um amor sem fim.

Dez belos anos se passaram, a felicidade continuava. Naquele ano, por ocasião do carnaval, fomos acampar às margens de um belo lago, onde, do outro lado, se via uma paisagem esplêndida, digna da atenção de qualquer mestre da arte da pintura. Crianças corriam livres pelos campos. Suélen e eu sentados na relva, contemplávamos o sol descambando atrás daquela serra, extasiados pela beleza do momento. Com o coração embriagado pelo amor,(envolto) perguntei à Suélen o que mais queríamos da vida. Nesse momento, as crianças começaram a nos gritar: _Venham depressa, venham ver. _Chegamos correndo e vimos uma armadilha, com um belo coelho, que se debatia incansavelmente à procura da liberdade. Peguei o pobrezinho, tire-o da armadilha, mostrei-o para as crianças, que acompanhavam tudo com curiosidade. Maria Clara, ofegante, com seu pequeno coração em festa, disse-me: _Papai podemos ficar com ele? Eu cuido dele. Os meninos prometiam que o limpariam, que cuidaria dele como maior carinho. _Papai, podemos ficar com ele? _Diante daqueles olhinho esperançosos, jamais poderia dizer não. Pensei por mais alguns minutos depois respondi: _Filhos, acho que podem. As crianças gritaram de alegria, Quando serenou a euforia, comentei: _ É Suélen, as crianças tiveram sorte, ganharam um animalzinho lindo para brincar. Falta de sorte foi para este lugar; depois de perder este bichinho, perderá toda a magia. _Você não acha? Entendendo minha intenção, Suélen disse: _ As outras crianças que vierem passear aqui não terão a mesma sorte nossa, de conhecer este belo animal. Sem ele, a natureza perderá parte de seu brilho e a família deste animal sentirá sua falta. Eles talvez perderão a felicidade, assim como perderia a nossa, se nos fosse tirado um de nossos filhos. Saímos dali e fizemos de conta que não tínhamos nem ligado. Maria Clara chamou-nos de novo e disse: _Vamos soltar o coelhinho, o lugar dele é junto ao seus. Soltaram, então, o bicho que, em pouco tempo, desapareceu na mata. Nessa hora, pude perceber que as crianças se sentiram úteis e felizes porque haviam dado vida, não só àquele bicho, mas a toda a sua família. Suélen e eu voltamos para perto do lago. Ela respondeu à pergunta que eu a fizera, anteriormente: _Quando eu subir naquela serra, junto com vocês quatro, e, lá de cima, juntos, abraçados, assistirmos ao pôr do sol, isto para mim será a certeza de minha mais completa felicidade. Foram dois dias de lazer, onde aprendemos mutuamente, que, com amor, seriamos capazes de enfrentar qualquer obstáculo. Felizes, voltamos para casa. As crianças correrão para contar todas as suas aventuras para seus coleguinhas.

O telefone de minha casa começou a tocar. Suélen foi atendê-lo. Percebi que Suélen emudeceu. Ficou tão pálida que nos assustou. De repente, começou a chorar. Peguei o telefone. Do outro lado, alguém soluçava, desesperado. Depois de alguns segundos, consegui soltar a voz, dizendo: _ Ele morreu, Ele morreu. Era Jacó, um alcoólatra, que, também, como eu, devia sua vida ao bom velhinho. _ Doutor Pedro Otávio morreu. Santo Deus, o que faremos de nossas vidas? disse ele, e continuou; _ O que vamos fazer com todos aqueles alcoólatras, que tem como único apoio, o nosso bom velhinho? Não existe na cidade outro medico capaz de cuidar de alcoólatra com carinho e amor. Não recebia um tostão sequer de nossos irmãos bêbados. Choramos juntos um bom tempo, desliguei meu telefone e, como robô, fomos á casa do amigo e bom samaritano. Fiquei muito abalado com a morte de meu amigo. Ele era meu confessor. Criou-se uma grande lacuna em minha alma. Apesar de todo o sofrimento, não desesperei. Contava sempre com a ajuda das crianças e de Suélen.

Várias frases ditas pelo bom velhinho, jamais esquecerei. Dizia ele:_ “O bom é inimigo do melhor. Não se entregue, pois dias melhores virão. Tudo na vida é acessório: carro, dinheiro, casa, o que temos que preservar, a todo custo, é a própria vida. Vivendo sóbrios podemos conseguir verdadeiros milagres. Vá devagar, amigo, mas vá. Somos tão importantes pra Deus, que somos únicos Viva e deixe viver. Sábio, é aquele que aprende com a experiência alheia, tolo, é o que aprende com a dele própria.” Meu Deus, se eu fosse escrever todas as frases que ele nos passou, certamente encheria várias folhas. Como disse o poeta: “A Saudade é a presença dos ausente.” Com este pensamento, sente que ele sempre estará presente em nossas vidas.

PARTE 6

“Devemos nos preparar a cada dia,

para as coisas boas

e más”.

O diretor da nossa empresa estava com a saúde bastante abalada. Ele veio a nós, pedindo que elegêssemos, dentre nós, aquele que seria seu sucessor. Meu amigo Ricardo seria, talvez, o indicado. Era jovem, talentoso, ambicioso e justo. Além do mais, todos o respeitavam. A doença não deu chance ao velho amigo e diretor; ele morreu meses depois, deixando uma grande saudade. Como era previsto, Ricardo assumiu o seu lugar. Sendo ele uma pessoa justa e honesta, colocou meu nome junto à diretoria pedindo a eles que me promovessem, assumindo, assim o seu antigo cargo. Foi logo aceito. Assim, consegui mais uma promoção em minha vida. A alegria em minha casa foi geral, meu salário dobrou, tornei-me importante na empresa.

O Natal se aproximava. Ricardo resolveu fazer uma grande festa de confraternização. Convidou todos os amigos, colegas de trabalho e parentes. Contratou bufê, uma pequena orquestra, iluminou toda a casa, comprou presentes, para os filhos dos funcionários. Era uma grande festa, tudo foi devidamente planejado, para que o espírito de Natal reinasse em cada coração. Suélen, as crianças e eu fomos à festa. Estávamos felizes e deslumbrado com tamanho requinte. Houve, troca de presentes, abraços fraterno. A pequena orquestra emocionava a todos com suas músicas natalinas. Meia-noite. Ricardo estourou o champanhe, enchendo todas as taças, para, juntos, brindarmos. Recusei o brinde com champanhe, o murmúrio foi geral. Alguns perguntavam:_ Que mal pode haver, em uma só taça, de uma bebida tão fraca? Insistiram tanto, que peguei minha taça com o coração apertado. Com medo, pude lembrar-me do bom velhinho:_ Filho, uma vez alcoólatra, sempre alcoólatra. Qualquer alcoólatra consegue evitar o primeiro gole, mais nenhum consegue evitar o segundo, o terceiro!!! Com medo de fazer feio, medo das críticas, peguei minha taça. Nesta hora, fui aplaudido. Eu só ouvi aquelas sonoras palavras: “é isso aí, cara”. Brindamos, eu bebi em um só gole. Dizem que: “Em cada gole de bebida alcóolica, existe, lagrimas de esposas, e sorriso de filhos.” A bebida era muito boa; assim eu busquei outra, mais outra, daí em diante, não foi preciso oferecer, eu mesmo tomei a liberdade de me servir e bebi a noite toda. Dia seguinte, pouco me lembrava da noite anterior. Olhei para o outro lado da cama, ali estava Suélen, chorando copiosamente. Perguntei o que houve ela relutou em falar. Com minha insistência, começou a falar, num soluço de fazer pena. Ela disse:_ Você não se lembra de nada, nem do vexame que nos fez passar; você falou milhares de besteiras, cantou no palco, caindo sobre os instrumentos, depois, urinou na roupa. Tentei conversar com você, mas, para fazer graça, jogou-me dentro da piscina. Os meninos, desesperados, com vergonha, não conseguiram nem mesmo trazer os seus presentes. Você tem consciência do Natal que você nos proporcionou ? _Meu amor, me perdoe. Falava com o rosto entre as mãos, com uma vontade enorme de que o chão se abrisse e eu caísse lá dentro, assim, não teria que encarar as pessoas. _O que vou fazer de minha vida? Como vou encarar você, meus filhos e meus colegas? Meu Deus, ajude-me, esta não é a vida que escolhi para minha família. Os dias passaram a duras penas, fui obrigado a encarar, um por um. Uns riam de mim, outros me gozavam; houve pessoas que acharam o fato normal. Seguiram-se os dias, o ambiente em minha casa ainda estava tenso e eu começava a entrar em depressão. Certo dia, quando saía de meu trabalho, encontrei um velho amigo de infância, Geraldo Ele estava todo sujo, mal cheiroso. Era, realmente, um mendigo. Constrangido, resignado, contou-me toda a sua triste história; verdadeira ou não, isto pouco importava. Eu estava tão carente de amizade, que o convidei a tomar um drinque; foi o mesmo que oferecer lingüiça a um cachorro faminto. Travava-se, naquele momento, uma terrível batalha, entre o bem e o mal. _Será que eu bebo? Pensava. Prometi à minha esposa que jamais voltaria a beber. Enquanto o garçom servia a bebida, eu buscava justificar o meu comportamento. Não me apercebera, entretanto, de que me tornara, naquele momento, o maior advogado da bebida alcoólica. Bebemos um litro de conhaque; pedi mais um litro de aguardente, e saímos pelas ruas abraçados, com um litro na mão, rindo como dois tolos, ou dois bêbados. Fomos, madrugada a dentro, em busca de meu doce e infeliz lar. Quando chegamos, Suélen veio nos receber aflita. Havia ligado para a polícia, hospital, até mesmo para o I.M.L, à minha procura. Eu não estava valendo a sua preocupação. Esperava que Suélen nos recebesse com um largo sorriso, pois, afinal de contas, era eu que sustentava a casa. Também fora eu que a desencalhara, na verdade, pensava eu, ela esta é pegando o boi de ter se casado comigo. Suélen, depois de servir-nos o jatar, embora com o coração partido pela tristeza, arrumou a cama de meu amigo, depois voltou para ajudar- me a tomar banho. Jesus, como sofre a mulher de alcoólatra! Dizem que, “casar com um alcoólatra, é matricular-se no inferno”. Ao acordar de manhã, é que pude compreender o significado. desse ditado. Com o quarto mal cheiroso e todo vomitado, ali estava Suélen, de joelhos ao chão, tentava limpá-lo, rapidamente, para que as crianças não percebesse o estado deplorável que eu havia chegado. Mais uma vez, prometi a ela, nunca mais beber. Deus era testemunha, do quanto estava sendo honesto, só que promessa de cachaceiro não dura o dia inteiro.

Dias, meses e anos se passaram, e nossas vidas tornavam-se mais difíceis; meu alcoolismo furtava nossas alegrias. Certa manhã, quando cheguei para trabalhar, fui chamado à sessão pessoal. Chegando lá, recebi minha carta de demissão, por justa causa. Tentei reverter a situação, humilhei-me, implorei compreensão, mas nada adiantou. Não restando outra saída, com meu orgulho ferido, gritei bem alto mandado pegar aquela empresa enfiar naquele lugar.

PARTE 7

“Sem humildade o homem

em seu orgulho consome

restando apenas a solidão”

Voltei para casa revoltado, os nervos à flor da pele. Desejava que aquela firma desse com os burros na água, pois eu era o cérebro da empresa ( só em meu pensamento ).Chegando a casa, encontrei Suélen, com várias contas vencidas nas mãos. Percebe logo que ela não estava nada amigável, gritava e xingava, desesperada. Eu nunca tinha visto tão brava. Seu estado nervoso a fazia violenta. Parecia muito mais um vulcão em erupção. Por várias vezes, tentou agredir-me, fisicamente. Naquele momento, perguntei-lhe:_ Por que tanta agressividade? Afinal de contas, eu nunca deixei vocês passarem falta de nada, sempre dei conforto, e uma mesa farta. Quanto mais eu me justificava, mais brava ela ficava. Por fim, ela perguntou-me:_ Você acha que barriga cheia, moradia, carro, conforto são suficientes para tornar uma família feliz? Não adianta tudo isso, quando é o nossos corações estão carentes. Pedi por socorro e onde estava aquele bom homem, que escolhi para marido? Santo Deus! Dele, você não é nem mesmo a sua caricatura; na verdade, eu não estou agüentando mais. _Eu não lhe peço muito, continuou ela; quero um pouco de carinho, quero apenas o direito de sonhar, de sentar-me junto de você, poder simplesmente admirá-lo, como era antes, com um choro compulsivo, abraçou-me molhando o meu ombro, com a lagrimas de seu sofrimento. Os dias se passavam, o dinheiro cada vez foi ficando mais escasso. As contas multiplicavam-se como erva daninha; o crédito, as contas bancárias, o carro, tudo fazia parte do passado, meu alcoolismo crescera assustadoramente. Certa manhã, acordei e tive uma grande idéia. Corri para Suélen, pois queria dividir com ela minhas esperanças. Então eu disse: _Vamos vender a nossa casa; com o dinheiro que conseguirmos, comprarei um caminhão. Se sobrar algum dinheiro, compraremos um barracão modesto, até controlarmos a situação. Travamos, durante muitos dias, verdadeiras batalhas; várias vezes repeti a mesma história, até que, vencida pelo cansaço, Suélen concordou, mas logo tratou de me prevenir: se der errado, eu deixarei você. E assim foi feito; vendemos a casa; com o dinheiro, paguei parte das dívidas, comprei um barracão, na periferia da cidade, um bom caminhão e transferimos as crianças para uma escola pública. Parecia que a vida tomaria novo rumo. Eu não estava bebendo, com o lucro que o caminhão me dava, fazia nossa despesas. Suélen lavava roupa para fora e o que ganhava, ajudava, em muito, em nosso orçamento.

Após oito meses de luta, já estávamos acreditando que a vida, voltava a sorrir para nós. Até que um dia, foi fazer uma viagem no interior de São Paulo. Chegando lá sem maiores problemas, descarreguei o caminhão. Quando estava preparando-me para voltar, chegou um senhor, com uma aparência distinta e perguntou-me se eu podia fazer sua mudança para Minas. Disse-me que pagaria duas vezes mais do que eu havia ganho. Com a maior alegria, fomos à sua casa. Em pouco tempo, carregamos o caminhão e pegamos a estrada. Chegamos ao nosso destino sem problemas. Descarregamos a mercadoria e percebe então que furara um pneu do caminhão. Chegando a casa, fui recebido com a maior alegria pelas crianças e também por Suélen. Contei a elas toda a viagem. Como dei sorte, conseguindo uma carga de retorno, com aquele dinheiro, pagaria todas as nossas dívidas.

Pedi à Suélen que preparasse um belo jantar para comemorar o nosso sucesso. Enquanto preparava o jantar, fui à borracharia arrumar o pneu furado. Chegando lá, encontrei dois colegas de estrada, Batista e Márcio. Este abril a gaveta de seu caminhão, tirou uma panela, armou sua cozinha e começou a fritar torresmo. Pegou também uma garrafa de pinga, começou a comer e bebericar uma doze. Batista foi até seu caminhão, pegou um violão, começou a tocar e a beber. Márcio pegou uma boa lambada de cachaça e um tira-gosto e trouxe para mim. Agradeci a oferta e falei para ele que não estava bebendo. Ele insistiu :_ Bebe, rapaz, esta é lá do norte: Uma doze só não mata ninguém. Amigo, caminhoneiro que não bebe, não é caminhoneiro. Peguei o copo, sem pensar muito, joguei a pinga na garganta, comi o torresmo. E ali estava eu outra vez a mercê do rei álcool. Ao som do violão, relembramos dos bons e maus momentos; entre uma musica e outra. Bebíamos, sem nos dar conta, de estávamos a cada momento mais bêbados. ‘A cada doze que bebíamos tirávamos gosto com a responsabilidade.

Finalmente, o pneu ficou pronto. Paguei o conserto e despedi-me dos amigos, tomando o caminho de casa.

A minha embriaguez era tão grande, que não conseguia concentrar-me no trânsito. Quando cheguei a um cruzamento, não percebe um veículo que cruzava em alta velocidade e a colisão foi inevitável. O motorista do outro veiculo ficou gravemente ferido; a polícia chegou ao local e fui detido. Tive que arrumar um bom advogado. Resultado: perdi todo o meu dinheiro, por fim, perdi meu caminhão.

PARTE 8

“Aceitar comodamente a derrota,

é mergulhar fundo

no nada”

Não me restava mais nada, pensava com a minha ignorância. O “bom velhinho” sempre disse que tudo na vida é acessório o importante é a vida. Viver é o ato de saber nascer a cada dia.

Apesar de tudo, tomei o caminho mais fácil, e o mais fácil era beber, beber, beber.

Covarde não é quem forje de uma briga e sim aquele que não luta para ser feliz.

Suélen, agora, trabalhava para o sustento da família. Cansada, desanimada e sei esperança, olhava-me com desinteresse. Eu era aquele resto de nada. A fome rodeava a nossa casa. Sem esperança, aos prantos, Suélen decidiu mandar as crianças para a casa de seus pais. Todas as manhãs, eu me sentava numa pedra, perto da soleira da porta do barraco, pedindo a Deus que alguma alma boa pagasse uma pinga para mim. Senhor, quanta tristeza! As mãos tremiam e o único remédio capaz de acabar com a tremedeira era outra bebida. Com a falta dela, vinha os delírios. Delirar é ver lagartixa virar jacaré, elefante sentado no fio, o demônio correr atrás da gente; ver soldados imaginário querendo nos matar. Para me livrar de tudo isso, o único remédio era outra dose, mesmo sabendo que aquele remédio matava. Às vezes rezávamos e pedíamos a Deus que o meu estômago aceite a bebida; muitas das vezes, éramos obrigados a beber, de três a quatro dose, para parar uma só no estômago. Só assim poderíamos curar o mal-estar.

Naquela manhã, eu estava sentado, como sempre, na pedra, tremendo, vomitando uma gosma amarelada, maldizendo a vida, quando um belo carro parou ali perto. Desceu um jovem elegante, caminhou para o meu lado e perguntou:_ O senhor não gostaria de trabalhar comigo? Eu estou precisando de um rondante. O que você acha? –Olha, moço, eu estou mesmo precisando trabalhar, mais estou bebendo muito, estou numa fraqueza tão grande, que, se eu não beber, pelo menos uma dose, não tenho forças nem para andar. Você paga uma dose e podemos conversar. O moço levou-me ao bar pagou-me uma bebida. Perguntou o que eu decidira._ Se o senhor não se importar de ter empregado bêbado, eu aceito. Ele disse que a única falta que não admitia, era o abandono de serviço, que eu podia beber à vontade, que ele mesmo deixaria, um garrafão de cachaça, no almoxarifado, que eu podia servi-me quando quisesse. Meu Deus do Céu! Pensei. Trabalhar à noite, com direito a beber à vontade, era muita bondade, ao mesmo tempo. Claro que topei e comecei a trabalhar no mesmo dia. Trabalhava das dezenove horas às sete da manhã. Tudo era normal. À noite bebia e dormia o dia todo. Isso é que era vida! Trabalhei durante oito meses, sem problemas. Certa noite, estava eu trabalhando, quando começou a chover fino e o tempo esfriou repentinamente. Eu não levara meu agasalho. Então, resolve fugir ate a minha casa. Saí apressadamente, para que ninguém notasse minha ausência corri como se tivesse visto um fantasma. Chegando a minha casa, empurrei a porta com força e nesta hora vi meu mundo desabar dentro de meu próprio lar. Vi meu patrão e benfeitor aos beijos e abraços, com minha Suélen. O chão fugiu de meus pés e caí desmaiado. De todos os sofrimentos que eu passara, nenhum se comparava com aquele. Acordei, tempo depois, em um hospital da cidade. Permaneci até passar por uma desintoxicação. Quando saí, fui direto para casa. Ela estava vazia. Suélen tinha me abandonado. Procurei a vida inteira pela sorte, agora estava entregue à própria sorte. Saí pelas ruas, sem destino. Sabia que dali em diante seria considerado a escória do mundo.

PARTE 9

“Admitir a derrota é descobrir

que o nada, também

de partida”

é um ponto

O bom velhinho dizia que o alcoólatra era considerado a vergonha do mundo.

Dali para frente, éramos um trio inseparável; a rua, a garrafa de bebida e eu. Como dói a solidão! Não existe sofrimento igual! Eu chegava a uma encruzilhada, sentindo que tato fazia ir para o norte ou sul, leste ou oeste, ninguém me esperava mesmo! Aos poucos, fui me adaptando à nova realidade. O meu lugar era junto aos mendigos. Bebia, comia e dormia com eles. Eu não estava com eles, eu era um deles. Dormindo ao relento, pouco alimento, e muita bebida, passando uma friagem danada, muitos de nós amanhecíamos duros; já havíamos passado para o sono eterno, sem choro, nem vela. Naquela circunstância, morrer era sorte.

Muitas vezes acordávamos com fogo em nossos pés. Queimavam nossas roupa e não tínhamos a quem pedir por socorro. Se porventura alguém chamasse a polícia, os únicos marginais espancados éramos nós. Que mundo ruim era aquele, que só existia para nós, os desesperançados! Ali, não tínhamos nome nem passado, era apenas oito mendigos que vivíamos ali.

Várias vezes, subi no viaduto, disposto a pular de lá, acabar com tudo de uma vez, mas uma força maior roubava toda a minha coragem. Quantas vezes fui conduzido para sanatório, como um indigente louco! O mais triste é que eu estava em pleno delírio. E o delírio passa rápido. Aí, começamos o convívio com pessoas totalmente loucas. Tenho a impressão de que, talvez, ali, não seja o inferno, mas uma réplica fiel de sua sala de estar. Ali, não podíamos dormir. Víamos cenas horrorosas: pessoas comendo suas próprias fezes, uns tentando estrangular os outros. Havia um interno que ficava com um pinico na cabeça, obrigando-nos a marchar e a fazer continência, sempre que passávamos perto dele. Dava verdadeiros berros de comando, e se não fosse atendido, ele tornava-se violento. Tomar banho, era com uma mangueira, com bastante pressão. Ali, realmente e´ o lugar onde deixamos de acreditar em Deus. É ali que os homem apagam a última luzinha que, timidamente, tentava brilhar no final do túnel. Quando saí daquele lugar, com a cabeça cheia de sedativos, sentia como se tivesse dormido por mil anos. Nesse período, era como se alguém houvesse roubado a minha alma. Olhava as pessoas sorrindo, tentava entender como naquele mundo de cão, alguém tivesse razão para sorrir. A apatia tomava conta de mim. Meu destino era vazio, nem mesmo a morte me interessava. Andava pelas ruas, a alma permanecia voltada para o nada. Naquele dia, alguma coisa se modificara em mim: uma agonia, uma inquietude, tomava conta de meus pensamentos. saí pelas ruas, como um robô, atravessei praças e avenida e a agonia continuava a torturar-me. Era uma sensação esquisita, como a de um compromisso esquecido. Deixei que as minhas pernas me conduzissem ao acaso. Cheguei ao cruzamento da rua principal e vi quando uma criança, de dois anos, descia correndo rua abaixo, sem o menor controle de suas passadas. Pressenti o perigo que corria. Na velocidade em que se aproximava do cruzamento, ela não teria a menor chance de parar Sem dúvida, invadi a rua, num impulso e corri em direção ao garoto. Atravessado a rua, instintivamente, o empurrei para cima do passeio, impedindo que ele fosse atropelado. Eu não tivemos a mesma sorte. Um ônibus que passava, atropelou-me. Foi jogado a uma grande distância; a última coisa que me lembro, foi de um grito de desespero. Permaneci muitos dias em coma, até que recobrei minha razão. Estava aturdido, sei saber o que havia acontecido. Junto de mim, uma moça chorava de alegria e não se casava de repetir;_ Moço, você salvou a vida de meu filho. Só Deus vai recompensá-lo! Aos poucos, fui lembrando as últimas cenas; percebi então que cumprira involuntariamente a vontade do Pai.

Lembrei-me então, do bom velhinho. Ele sempre dizia:_ Nada no mundo acontece por acaso. Se eu ainda estava vivo, talvez o grande Mestre, ainda estivesse preparando muito mais lições para mim. É, tenho mesmo que admitir: Deus, quando quer escrever suas histórias, ele as escreve de maneira surpreendente. Senti que aquela história, tomaria um novo curso. O pai de Gerson, o garoto que salvei, vinha me ver todos os dias, trazia roupas, escova de dentes, frutas e ainda me dizia que não queria que faltasse nada, além de desejar que eu reencontrasse a razão de viver. Ele era, naquele momento, o meu protetor: a cada dia demonstrava ser meu amigo. À medida que o tempo passava, nossas confidências tornavam-se íntimas. Todos os dias eu contava as horas para vê-lo. Muitas vezes telefonava para ele. Com a minha carência, era compreensível, pois há anos que esquecera o valor de uma grande amizade. Nilton, certo dia, começou a desabafar. Contou que era filho de alcoólatra e que sofrera o diabo em sua vida. Sua infância foi marcada com fatos muito ruins, que nunca lhe deram sossego. Contou-me algumas passagens corriqueira na sua vida de filhos de alcoólatra, o sofrimento de sua mãe, e que por causa de desequilíbrio familiar, causado pela bebida, seu irmão mais velho veio a suicidar-se. Contou, também, que tinha dez anos e assistiu ao pai ser jogado para fora de um boteco, porque não tinha mais dinheiro. Dois policiais que passavam naquele local agarraram, espancando-o muito aquele indefeso farrapo humano. Nilton gritava e chorava, pedindo aos impetuosos soldados que deixassem o seu pai em paz. Quando conseguiu leva-lo para casa, ele urinava sangue e, em conseqüência disso, ficamos órfãos, um mês depois.

Quando Nilton terminou suas narrativas, eu o abracei e choramos juntos. Então falei sobre a minha trajetória e todos os dissabores causados pelo alcoolismo. Bons exemplos eu tive a vida toda, mas meu orgulho era maior que eu. Ouvi, certa vez, uma frase com os seguintes dizeres: “Sábio é aqueles que aprende com a experiência alheia, tolo é o que aprende com a dele próprio.” Eu fui o tolo.

Os dias passavam e eu começava a abrir meu coração para Deus; pelo menos, estava fazendo o que eu aprendera com o bom velhinho. Mesmo que o coração não esteja aberto, deveria deixar a chave sempre do lado de fora.

Parte 10

“Minha alma amanheceu em paz.

Sem dúvida,

iniciava ali o meu despertar

espiritual”

Naquela manhã, tudo parecia lindo. Na árvore, perto da janela de meu quarto, ouvi um joão-de-barro, que cantava alegremente. Há muito me havia esquecido da existência dos pássaros, até mesmo da natureza. Como é que podemos esquecermos de olhar em nossa volta, e ouvir as mensagens divinas? As enfermeiras que me atendiam, eu as considerava verdadeiras samaritanas; faziam-me ver que as pessoas, não são más. O bom velhinho certamente me diria, neste momento: “Conhecendo o seu semelhante, conhecerá o universo, conhecendo a se mesmo, conhecerá a Deus.’’ Naquela mesma manhã o médico em sua visita costumeira, disse-me:_ Rapaz, você teve muita sorte. Vou lhe dar alta. Tudo que a medicina podia fazer foi feito. O problema agora é seu e do AA. Lembre-se disso, ao sair daqui. Agradeci ao médico, às enfermeiras. Troquei minha roupa, eu não tinha bagagem mesmo! Peguei o telefone liguei para o Nilton. Queria me despedir dele, este porém, pediu que eu o esperasse no saguão do hospital. Minutos depois, ele e sua esposa Nádia chegavam. O casal, com toda a bondade que lhe era peculiar, abraçou-me com força. Pude ver que as lágrimas rolavam em seus rosto. Senti, mais do que nunca, que aquele casal era minha família Nilton ajudou-me a subir em seu carro e, sem explicar nada, levou-me para sua casa e foi logo dizendo, com autoridade:_ Você vai ficar aqui. Está decidido. Quando você estiver em condições de enfrentar a vida arrumarei uma casa para você, perto da minha empresa. Ainda vai trabalhar pra mim, certo, amigo?

Meus olhos fizeram maré cheia, isso só podia ser obra de Deus. Depois de aprontar tanto pela vida, ainda assim, eu teria mais uma chance. Nilton não media sacrifícios. Levava-me todos os dias ao AA Ali aprendi mais do que aprendera em toda minha a vida. Aprendi que a humildade é o mais auto grau de sabedoria. Ouvi vários depoimentos. Na verdade, não me assustaram, mas fizeram com que me identificasse com a irmandade.

A companheira Maria Olívia contou uma história, comovente, a respeito de uma família, cujo pai era alcoólatra e tinha uma menina que sonhava todos os anos com um presente de Natal. Por mais que o pai tentasse realizar esse sonho, quando chegava o Natal, ele bebia, perdendo o controle e acabava gastando todo o seu pouco dinheiro. Mais um Natal, mais uma frustração. Depois de vários percalços, o pai resolveu lutar; por mais difícil que fosse, ele iria lutar, achando que o mais importante para a sua filha era o presente. Guardou o dinheiro com cuidado, e lá se foi, feliz, à procura do sonho da menina. O dinheiro não era muito, mas dava para comprar, pelo menos, uma boneca. Chegando à loja, sentia-se o pai mais feliz do mundo, pois estava prestes a realizar o sonho da pessoa mais importante do mundo: sua filha. Comprou uma pequena boneca, mandou que fizessem o embrulho mais bonito que pudessem. Pegou aquele presente e saiu contente pela rua. Estava tão feliz que cumprimentou a todos os que por ele passavam.

Chegando à casa com a boneca, apertando-a ao peito, procurou a filha, mas ela já havia dormido. Com a boneca junto ao peito, sentou-se no sofá à espera do amanhecer. Queria ver e sentir o sorriso de felicidade, de quem sonhara por tanto tempo. A emoção do pai, entretanto foi mais forte que seu coração enfraquecido pela vida irregular que levava. Um ataque cardíaco tirou lhe o prazer da entrega. Morreu sentado com a boneca colada ao peito. Sua filhinha acordou cedo, veio correndo para procurar seu presente viu seu pai sentado, com um embrulho. Gritou de alegria: _Papai, papai, você comprou meu presente! Quando chegou mais perto, compreendeu toda a situação. Começou a chorar e disse:_ Papai Noel, agora eu entendo, você não me deu um presente, você trocou o presente pela vida de meu papai, e este preço, Papai Noel, eu não quero.

Senti que a mensagem era clara, pois por maiores que sejam os sonhos dos que amam, nunca são tão importante que valham as nossas vidas. A vida continuava. Eu estava morando em uma casa muito boa, perto da empresa de Nilton. Eu trabalhava com toda a dedicação. Pouco tempo depois, me tornei chefe de transporte Tinha um gordo salário, mesmo assim exista um grande vazio dentro de mim. Fui á reunião de Alcoólicos Anônimos. Prestei atenção em tudo que acontecia. Um companheiro se levantou e começou a falar sobre o oitavo passo sugerido pela Irmandade. Ele era muito claro, quando dizia: Deveríamos fazer uma relação de todas as pessoas que prejudicamos; consequentemente deveríamos procurá-las e pedir perdão. Ao término da reunião, procurei o companheiro Ari, um velho mentor. Contei-lhe todo o meu drama; falei sobre minha família, e o dilema que me afligia. Na verdade, eu era orgulhoso para procurar Suélen. Ari nosso velho mentor ouviu-me com atenção, e finalmente disse:_ O orgulho é o mais cruel carrasco, capaz de matar o mais puro dos sentimentos. Filho, vou lhe contar uma história: Em uma pequena cidade, duas famílias de tradição e princípios, uniram os seus filhos pelo santo matrimônio. Ainda recém-casados se desentenderam. Ele disse:_ Nunca mais entrarei em nosso quarto!_ Ela, por sua vez, retrucou:_ Se você aparecer lá, eu juro que abandono o quarto! Movidos pelo calor da desavença, juraram nunca mais perdoarem um ao outro.

Passaram cinqüenta anos e não se ouvia conversa nem sorriso. O orgulho era mudo e surdo. O marido com a saúde precária, morreu. Sua esposa tomada pela mais completa solidão, deprimiu-se, até que encontraram-na morta. Ao lado de sua cama, encontraram dois diários. Em seus registros haviam os mesmos sonhos. No diário dele, havia o seguinte relato: “Esta noite, ouvi quando você se levantou. Meu coração bateu forte, senti como um colegial à espera de sua primeira namorada. Ficou mesmo no sonho. A frustração continuava, minha companheira.”

No outro diário, mais uma narrativa surpreendente: _”Levantei-me esta noite, porque queria procurá-lo. Meu coração não podia mais suportar a solidão. Sonhava com seus carinhos, queria apenas ser amada. O medo de ser rejeitada, me impediu. Voltei para cama e chorei a noite inteira. Meu Deus! Como é difícil suportar sozinha tanto amor.” Morreram com seu orgulho, deixando de escrever os melhores sonhos em seus diários. Ari o velho mentor, após a narrativa, olhou para mim com carinho. Ele me disse: _Não desperdice a felicidade nem mesmo por um segundo. Pense nisso!

Aí estava a resposta para o meu vazio. Era hora de pedir o perdão e assim resgatar a minha dívida. Fui buscar minha família. Um receio enorme atormentava minha alma. O desejo de encontrar meus familiares era tão forte, que chegava a doer. Chegando à casa de meu sogro, fui tratado com hostilidade, mas, quando as crianças, já crescidas, me viram, correram ao meu encontro, e entre beijos, choro e abraços, senti e vivi a maior felicidade que um homem poderia viver. Eu não acreditava que aquilo tudo fosse verdade; depois de submetê-los a tanta dor, sentia que o amor sobrepujava os sofrimentos. Perguntei às crianças por Suélen. Maria Clara respondeu:_ Desde que você partiu, mamãe veio morar com a gente, entrou em depressão. Foi ficando triste, sempre com os olhos fixos no nada. Como não tínhamos dinheiro para pagar o tratamento, fomos obrigados a interná-la numa clínica de repouso. Se tivéssemos dinheiro, mamãe estaria curada, mas o vovô é tão pobre! _Será que o senhor pode fazer alguma coisa por ela?

_Vamos todos visitar sua mãe. Se houver jeito, vamos levá-la conosco. Nesse momento as crianças choraram, como um choro de esperança, não de tristeza. Chegamos ao hospital. Meu coração acelerava como se eu não acreditasse que ali estava a minha Suélen, meu único e primeiro amor. Ao chegar ao quarto, eu via, mas não queria acreditar: era ela, sim, era Suélen sentada de frente a uma janela com os olhos perdidos no vazio. Meu primeiro impulso foi pegá-la em meus braços, beijá-la, pedir perdão, porque eu estava consciente de que eu era o único culpado por todo o mal que aconteceu em nossa família. Coloquei-a no carro e levei-a para um hospital especializado, na capital. Ela permaneceu durante muito tempo, recebendo o melhor tratamento, que podíamos proporcionar-lhe.

Algum tempo depois, chegou o grande dia, em que iríamos buscá-la na clínica. As crianças não continham sua alegria. Pegamos Suélen, e fomos para casa. Ela estava bem melhor, embora ainda longe de seu estado normal. Com a ajuda das crianças, estávamos dispostos a despertar nela a vontade de viver.

Assim, começamos a reconstruir nossos pedaços de vida.

Hoje, dia dezessete de março, um ano depois, Suélen acordou cedo, bem disposta; muito feliz, beijou e abençoou as crianças, depois me abraçou, beijou minha boca pedindo-me perdão. Nesta hora, chorei, chorei de remorso, pois aquele pedido de desculpa foi para mim o maior sinal de humildade. Meu Deus, de todos nós, Suélen foi a que mais perdeu, e tudo, por minha culpa, minha máxima culpa! Então Suélen, carinhosamente disse-me:_ Hoje, estou vivendo os melhores dias de minha vida. Graças a Deus, conseguimos resgatar a nossa família. Lembrem-se que só o amor é capaz de libertar. Para que eu sinta plenamente realizada, continuou Suélen, vamos juntos à lagoa, lá onde mora o coelhinho. Subiremos juntos a serra e lá de cima, abraçados, assistiremos ao pôr do sol. Tenho certeza que, naquele momento, Deus estará presente e junto a nós. Abracei-a em silêncio, e a beije com ternura. Senti que estávamos vivendo o primeiro dia do resto de nossas vidas. Subi aqui no monte, talvez para ficar perto de Deus. Ali, sozinho poderia ser honesto comigo mesmo. No A.A, aprendi uma frase que o bom velhinho sempre recitava e só agora conheço o verdadeiro significado. “Viva e deixe viver” Ao voltar para casa, embora estivesse com o coração em conflito com o meu passado, estava feliz pelo últimos acontecimentos e, antes que o dito cujo me maltratasse, meditei como nunca a oração que eu aprendera em Alcoólicos Anônimo:

Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária, para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir uma das outras.

Serenidade, coragem e sabedoria, são metas que alcançadas, nos conduzem à vida plena.

Lembrem-se que mesmo que o mundo esteja desabando em nossas cabeças, deveremos sempre acreditar que “Dias melhores virão.”

FELICIDADE

Felicidade é o reencontro.

É voltar para si mesmo.

É chegar e sorrir gostoso.

Despir-se do orgulho

Envolvido.

Descobrir ainda

Escondido,

No cantinho da alma

Esquecido,

Um infinito lá num

Canto,

De magia, de encanto

Felicidade é amor..

CONFLITO DE VALORES

A vaidade permanente

No egoísmo doentio

Só resta a dor da gente

E um coração vazio.

O tudo parece distante,

O que tem, vira migalhas

A busca alucinada do ter

Jogando o ser ao acaso.

É como transpor o horizonte,

Ao chegar ao topo do monte

Eleva os olhos à imensidão.

Descobre que a solidão é constante.

Consegue-se muito ao dia

E o egoísmo que diria?

Certamente nos cobraria

Mais isso, mais aquilo

E tudo que temos de nada valeria.

De repente, um pesadelo

Daquele que apavora a gente

E a vida bate de frente,

Cortando o caminho abruptamente.

Só assim desperta a alma,

O ser se faz importante.

Sorrateiramente, Deus se faz presente

Mostrando a toda gente,

Que o amor oxigena a alma;

É o lenitivo da vida.

Da cor, perfume e gosto

É a essência da vida

Sem humildade o homem

Em seu orgulho consome

Restando apenas a escuridão.

TONHO TAVARES

DIVERSIDADES

Do sorriso da criança

À inércia do desencantado

O amor transbordaste e pleno

A apatia do desesperançado

Vejo crianças abandonadas sorrindo

Pessoas acompanhadas solitárias

Coração alado querendo abrigo

Outros imóveis emperrados pelo passado

Apatia é o fim da procura

Não é sinônimo de acomodação

Abandono com esperança é sorriso

acompanhado sem amor é solidão

Neste mundo infinito de DEUS

Solte seu coração ao vento

O amor vira a contento

Repousando na alma

Paz e alento.

ANTÔNIO JOSÉ TAVARES –

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 01/08/2009
Código do texto: T1730759