E...

E... eu disse que sentia falta de romance. De olhar nos olhos de alguém, não necessariamente de alguém amado e dar um sorriso bobo. Uma atração.
E servir um drinque, uma Coca-Cola light. Depois colocar um jazz no Ipode e talvez dançar.. Ou ficar ficar sentado na mesa e conversar conversas tolas de um tempo presente. E rir à-toa. Ser fútil sem ser desinteressante.
Daí, ficar imaginando o que se passa na outra cabeça, quais pensamentos tem. Observar a roupa. “Será que meu cinto combina com o sapato? Será que reparará no perfume?” Coisas bobas, mas que todos querem que sejam observadas. Eu disse todos??? Então reafirmo: todos!!!
Então pegar-me divagando, sonhando com um romance. Devanear e quando me der conta, o bar acabou virando sua sala de estar, seu apartamento. O jazz ainda rolando, as intenções são outras, mas o clima de romance é o mesmo.
Acho que na verdade sinto falta da sedução. Da possibilidade de se ter ou não sexo. “Será que vai rolar?” Isso me deixa ansioso, essa expectativa, essa loucura da espera.
E se não tiver? Será que realmente não combinei bem as roupas? Ou o meu perfume é enjoativo. “Hummmm, você cheira bem!”... sempre me dizem isso. Será que justamente hoje exalo algo inusitado? Ou será aquela velha e complicada história: não faço sexo no primeiro encontro. Absurdo!!!
O fato é que fiquei totalmente pensativo. Excitado. Interessado. Mas estou indo embora agora. Despedimo-nos. Fui.
Quero muito ligar agora. Dizer que a noite foi ótima. Na verdade, esperava um convite do tipo: volta, vem para cá agora. Risos.
E não é que está ocupado?? Bolas, algo realmente não funcionou.
Chego a casa, como algo, tomo um novo banho e vejo TV. Bem mais tarde vou dormir. É madrugada. Muito tarde. E meu telefone acusa duas chamadas não atendidas. Quem será?
Pelo aparelho vejo que é você. O que fazer? Ligar a esta hora? Ignorar e ligar amanhã?
Já sei, vou ligar e deixar tocar duas vezes. Se atender é porque me esperava. Senão é porque dormiu. Tentarei. Uma. Duas. Já chega! Melhor esperar até amanhã. Até um novo encontro. Talvez ele ocorra, aconteça mesmo. Talvez não. Como eu já disse: sinto falta de romance...


Texto publicado no livro Para Sempre, de Márcio Martelli,
Editora In House (2006).