Benjamim

Benjamim está parado em frente à floricultura, observando as várias qualidades de plantas e flores, com suas folhas de vários formatos e tamanhos e tonalidades. “São tão bonitas!” “Todas!” Ele se dirige ao balcão e pergunta à moça:

“Boa tarde. A senhora poderia me vender uma rosa?”

Diante do pedido feito pelo garoto de oito anos, a moça de avental vermelho sorri e indaga:

“E o senhor poderia me dizer para quem você dará de presente esta rosa?”

Benjamim cora as bochechas e, ainda olhando para a moça, responde com simplicidade:

“Ora, para a minha namorada!”

A moça faz um comentário a respeito de sua idade enquanto retira uma rosa do buquê que estava posicionado próximo do balcão para esse fim. Benjamim enfia a mãozinha no bolso direito de seu short jeans e captura algumas moedas, que ergue com emoção e orgulho diante da atendente.

“Toma moça.”

Ela conta as moedas e lhe devolve algumas que excediam o valor da rosa.

“Obrigado moça.”

Em resposta ao agradecimento do menino, a moça da floricultura presenteia-o com um largo sorriso.

Benjamim gosta de uma menina. Ele já tinha se declarado através de bilhetinhos – sem sucesso – e, nestes últimos dias, disse a ela que lhe faria uma visita – ele disse isto na hora do recreio, em meio ao barulho de dezenas de vozes de adolescentes em plena atividade de comunicação oral. Ele havia decidido que iria lá para falar de seu amor. O problema é que ele não sabia como!

Então ele viu na televisão um ator dando uma rosa para uma mulher em um filme antigo. A dama, deslumbrada com magnífico presente, deu um beijo sonoro e prolongado no galã. Benjamim teve uma idéia. Compraria uma rosa. Economizando dinheiro de salgadinhos, refrigerantes e doces, ele obteve a quantia necessária para a execução de seu plano.

Então lá ia ele pela rua com sua rosa encantada na mão esquerda. Ao avistar a casa da amada, seu coração saltou no peito; olhou para o troféu de seu sacrifício e se aproximou do portão. Com dificuldade, alcançou a campainha. Em resposta, uma empregada da casa atendeu a porta:

“Pois não?”

“Gostaria de falar com a A... .”

“E quem gostaria de falar com ela?”

“É o Benjamim.”

Após alguns minutos, a empregada retorna de dentro da casa e diz:

“Você conhece a A... ?”

“Sim, eu estudo no mesmo colégio que ela.”

“Ah! Espera só mais um pouquinho...”

Alguns minutos depois, surge na porta uma menina de cabelos loiros cacheados, de pele macia e suave, olhos claros e boca de boneca. Ela olha para Benjamim com uma curiosidade e, ao se lembrar da figura que está diante de seu portão, o atende com um fino desprezo:

“Você?”

“Oi.”

“Oi.”

Benjamim havia pensado em algum meio de fazer uma surpresa, mas não se decidiu a tempo e entregou a rosa sem rodeios.

“ Comprei esta rosa para você.”

A garota pegou-a como quem pega um copo com água para acabar de engolir o comprimido parado na goela. Depois de um exame detalhado, ela comenta:

“É uma rosa.”

Benjamim coloca as mãos para trás e, olhando para o chão, sibila algo como:

“Gosto de você, sabia?”

“Ah!... é legal!”

Um silêncio cai sobre os dois, quando uma voz rugida pela mãe de A... a chama para dentro de casa.

“Tenho que ir.”

“Eu também.”

“É... toma. Para você.”

Ela entrega a rosa para Benjamim e volta correndo para dentro de sua casa, os cabelos dourados reluzindo sob a luz do sol.

Ele pega a rosa e vê a porta se fechar, deixando-o, juntamente com a rua, em completo silêncio e abandono.

E pela calçada deserta caminha Benjamim, um jovem romântico e desiludido, de olhos vagos e passos miúdos.

E uma bela rosa é esquecida no chão.

W F Romualdo
Enviado por W F Romualdo em 22/07/2009
Reeditado em 28/07/2009
Código do texto: T1712523
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