Seja meu, meu herói

Não, eu não sou ninguém, não tem que se lembrar de mim,

de onde me conhece, você não me conhece,

já devemos ter nos cruzado milhares de vezes pelas ruas,

mas só isso, moramos na mesma cidade,mas toda cidade tem muitas

outras cidades dentro de si, eu vivo em uma delas, você em outra,

às vezes você nos visita, outras sou eu quem vem aqui,

mas não me pergunte se eu venho sempre aqui,

eu não vou responder do jeito que você quer ouvir.

Eu tenho essa roupa e esse cabelo e tenho livros que nunca li,

mas você não quer saber se eu respiro,

se prefiro contra a parede do banheiro ou num hotel em que damos outra identidade,

você não quer escrever sobre mim, isto pode levar horas,

puxar uma cadeira, pedir algo, me ouvir.

É mais fácil assim, você do outro lado do bar, imaginando se meu corpo é flexível,

se falo obscenidades quando excitada, se meu pai se feriu na guerra e ganhou uma medalha.

Meu café já está no fim, um gole e não tenho mais o que fazer aqui,

eu queria aprender algumas gírias com aquela garçonete,

como ser sexy mascando um chiclete, eu queria que um chicote estalasse em mim,

mas não me pergunte no que eu estou pensando, ou vou começar a rir.

Da última vez que olhei no relógio eram duas da manhã,

daqui até meu prédio são três quarteirões, pode ser que eu seja assaltada no caminho,

que eles tenham uma faca e que até me cortem se eu pedir,

quem sabe se você desse uma de herói e aparecesse do nada,

rasgasse sua roupa por mim, a gente faria ali mesmo, naquela viela pouco iluminada.

Cacá Pereira
Enviado por Cacá Pereira em 20/07/2009
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