O Encontro

O Encontro

O barulho de louças sendo lavadas, as vozes dos clientes e os passos dos garçons pelo café não atrapalhavam a leitura de Marcela.Devorava o último capítulo do livro que havia retirado da biblioteca semana passada.Um romance com uma dose de suspense que ela muito apreciava.Do outro lado do café estava um rapaz. Aparentava ser mais moço do que parecia em seu traje esportivo,folheava um jornalzinho ,um periódico do bairro.Entre uma página e outra observava as moças que entravam no café.Percebera Marcela do outro lado.A moça não o havia notado ,pois estava absorta em sua leitura.

_O Senhor deseja mais alguma coisa?Perguntava a garçonete com uma vozinha entediada.

_Não!Vou apenas querer o expresso.Respondeu o rapaz,largando jornalzinho num cesto de vime onde estavam empilhados outros jornais e algumas revistas.

Encostou-se na cadeira e mirou os olhos azuis em direção a moça que lia avidamente aquele enorme livro de capa marrom.”Deve ser muito bom este romance”Pensou ele._Moça!Por favor,poderia me alcançar o adoçante?Disse o rapaz gentilmente com a sua melhor voz a Marcela.Esta virou a cabeça em sua direção com uma fisionomia perplexa:-Hã?Ah!Claro!Estendendo o adoçante ao rapaz.As pontas de seus dedos tocaram-se,fazendo com que os dois jovens sorrissem._Meu nome é Fabrício.Disse o jovem com um brilho no olhar.Mas Marcela já havia voltado a sua leitura e distraidamente deixou o pobre rapaz solitário.

A cafeteria começou a esvaziar,já estava na hora de fechar.Algumas pessoas dirigiam-se ao caixa.Marcela levantou-se e foi em direção as outras pessoas quando esbarrou no rapaz que havia lhe pedido o adoçante.Com um sorriso ele pediu desculpas e disse-lhe novamente o seu nome.-Oh!Prazer..o meu é Marcela.

Saíram da cafeteria conversando até o ponto de ônibus.Marcela iria para casa,ele para o serviço,despediram-se,trocaram os telefones.Cada um seguiu ao seu rumo.

A manhã amanheceu chuvosa,cinzenta e barulhenta.O trânsito estava atravancado na avenida por onde o ônibus de Marcela passava.No veículo cheio, as pessoas se acotovelavam resmungando sobre o dia.Marcela observava a rua,a ida e vinda dos pedestres na chuva forte.Olhou o relógio,chegaria atrasada novamente.Imaginou a cara de seu chefe e o que ele iria dizer quando ela estivesse entrando pela porta do escritório.Prometera não se atrasar mais,mas perdera o sono na madrugada lendo o final do livro.Aquela história tinha lhe atraído muito.

Ao descer do ônibus notou que caíra algo do bolso de sua jaqueta.Era um pedaço de papel,abriu-o ,um número de celular estava nele e um nome,Fabrício.”Claro!” “ O rapaz do café!”sorriu,colocando o papel sobre os lábios,afinal era um bonito rapaz,olhos azuis,simpático e bem falante,porque não?!

Subiu as escadas correndo,não quis subir pelo elevador e encontrar algum colega,pretendia entrar sem ser percebida pelos fundos.Ao abrir a porta lateral do escritório não encontrou ninguém.Deveriam estar na sala do chefe para uma reunião.Aproveitou e sentou-se em sua mesa ,ligando o computador e olhando a agenda._Onde você estava?Estávamos te esperando para terminar a reunião.Perguntou uma colega ,gesticulando os braços e fazendo sinal para se apressarem.Correram para a sala dos fundo,que ficava ao lado da pequena cozinha.Lá dentro havia uma mesa redonda com cadeiras estofadas ao seu redor.Sentado numa delas estava um homem de terno preto,moreno,gordo,com um bigode e um olhar feroz em direção a Marcela._Seu Osvaldo,desculpe ,mas o trânsito hoje estava um inferno!Disse ela sentando logo na primeira cadeira vaga sem olhar para os outros.Ouviu-se um resmungo do lugar onde estava o chefe e logo a seguir começaram a reunião.

A chuva caia forte,na janela escorriam pingos que eram observados pelos azuis olhos de Fabrício.Havia acordado algum tempo,ainda estava na cama,fumava um cigarro ,pensativo lembrava que havia algumas coisas a serem feitas naquela manhã.Levantou-se,olhou-se no espelho,precisava fazer a barba,talvez cortar o cabelo,comprar uma camisa nova.F oi para o chuveiro,deixou a água quente deslizar pelas costas.Sentiu-se melhor.Vestiu-se,pegou o relógio e saiu do apartamento em direção a lanchonete da esquina.Tomaria um café e seguiria ao centro da cidade.No meio do caminho lembrou-se da moça que havia conhecido naquela cafeteria.Ligaria mais tarde.Pensou em passar numa livraria e levar-lhe um romance.O que ela estava lendo mesmo..decidiria depois.

No escritório a reunião acabara,Marcela estava digitando uns ofícios,sua colega de mesa revisava alguns textos.-Beatriz conheci um rapaz ontem no café.Mencionou a moça com cautela._Hum!E aí?Resmungou a colega._Bem trocamos os telefones.Vou ligar mais tarde.O que achas?Beatriz não respondeu,apenas sacudiu os ombros e pegou um lápis circulando trechos nas folhas.Há muito desistira de opinar sobre os relacionamentos de Marcela.Aprendera apenas escutar ,pois sabia muito bem que não adiantava muito dar conselhos a moça.Marcela era do tipo que por mais que se tentasse atrair sua atenção para qualquer coisa ela se perdia no meio de seus devaneios.-Se você gostou ligue.Acabou respondendo e saiu da salinha.

Marcela foi até a cozinha,preparou seu almoço no microondas e do celular discou o número.Ninguém atendeu.Guardou o celular no bolso da calça e foi almoçar.A chuva continuava forte.

Há umas quadras dali,numa loja estava Fabrício examinando algumas camisas,ao experimentar uma percebeu o celular caído no chão, notou uma chamada perdida.Discou,do outro lado o toque,tocou mais umas três vezes,ia desistir quando ouviu uma voz,delicada responder.Era Marcela.Conversaram por alguns minutos.Marcaram de se encontrar a tardinha no mesmo café.Fabrício saiu da loja com duas caixas de camisas e um sorriso nos lábios.Seguiu em direção a uma livraria que ficava logo a baixo na rua.

Eram 6 horas da tarde.Marcela estava indo em direção ao café,caminhava tranqüila,olhava as vitrines,as vezes observava seu reflexo nos vidros das lojas,arrumava o cabelo,ajeitava a jaqueta.Sorrindo ia distraída pela calçada.O café ficava algumas quadras mais abaixo.

Fabrício saiu da livraria,com um pequeno pacotinho,era um livro de bolso,um romance clássico.Escolhera este pois achou que ela iria gostar de lê-lo.andava apressado,estava ansioso.Gostara do jeito da moça,queria conversar mais com ela,tinha muito o que conhecer dela.O trânsito estava intenso,era final de expediente,muitos carros transitavam no meio da rua.Buzinas soavam vez por outra.

O café estava repleto de pessoas cobertas por capas molhadas.As mesinhas redondas ,a maioria ocupadas,garçons e garçonetes deslizavam sobre o local com suas bandejas .Ouvia-se uma música distante,alguém colocara um cd .Fabrício entrou no café procurando uma mesa vaga.encontrou uma ao fundo,perto de um arranjo de flores.Sentou-se e ficou a observar a entrada do café.Passaram-se vinte minutos,algumas pessoas levantaram-se ,outras sentaram-se. Alguém trocou o cd.Fabrício olhou o relógio,conferiu com o que estava na parede ao centro do café.”Ela deve estar vindo”A garçonete trouxe-lhe o cardápio.Escolheu um capuccino.enquanto sorvia o café pegava o pacote e tentava imaginar que tipo de história eles teriam.Será que seriam felizes?Daria um belo livro?

Notara que algumas mesas estavam vazias.O movimento estava a diminuir dentro do café.Pegou o celular e ligou.Ninguém atendeu,apenas o som da chamada ao fundo.

A noite havia chegado.A chuva passara e um ar úmido penetrava na noite.Dentro do quarto uma luz de abajur iluminava as páginas de uma folha amarelada.Palavras eram repassadas aos poucos sob um olhar atônito.Páginas eram viradas ,cada frase degustada com intensidade.A sombra do livro refletida na parede do quarto,nenhum som se ouvia,a não ser o zumbido da lâmpada do pequeno abajur ao lado da cama.Nesta sobre um travesseiro uma cabeleira loira,e dos lençóis saiam dois pés delicados . Uma jaqueta jogada numa velha poltrona,no chão ,uma blusa e uma calça de brim.Na mesinha de canto dois celulares,ao lado deles ,dois pedacinhos de papeis contendo cada um número de celular.

E láfora, a Lua crescendo entre o céu estrelado,o ar úmido entrando pelas janelas,a rua vazia com suas calçadas lavadas pela chuva de outrora.

Violetta

Violetta
Enviado por Violetta em 19/07/2009
Código do texto: T1707173
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