Ausência - Dor do fim

Numa manhã de fevereiro, do nada e por nada, tudo terminou. Dois anos de muito amor e companheirismo.

Ana estava lá, perdida no meio de tantas palavras duras, de verdades escondidas e uma dor imensa.

A ausência que Ana sentia era imensa. Nada restara de tudo que viveram, nada ficara de tudo que construíram. Nada, nenhum sentimento da parte contrária.

Quanta dor, esperança, quanta vontade de tudo não passar de um grande pesadelo. Ana estava lá, sozinha, no silêncio do seu canto que perdeu todo encanto.

Os poucos amigos, porém verdadeiros, se chegaram de mansinho para acalmar o coração de Ana. Silêncio, era o único som que se ouvia dela.

Eles, os amigos, diziam que o tempo era o melhor remédio, que curava a dor do amor. Os curiosos, vampiros do sofrimento alheio, chegavam e falavam que arrumasse outro amor, assim curaria o antigo.

Mas como? Como esquecer Antônia?

Antônia era uma mulher forte, decidida, bonita, não linda, mas encantadora e envolvente. Ana a amava, queria acordar desse pesadelo, despertar nos braços do seu amor.

Amor bandido, não visto por Ana, não naquele momento. Sentia um vazio tamanho, parava para olhar as fotografias... Como doía.

O tempo passou e Ana continuava sonhando acordada com algo que nunca iria acontecer, não adiantava ninguém falar nada.

Por mais que a colocasse diante de todas as verdade, nada fazia com que ela enxergasse o que realmente aconteceu.

Houve, sim, traição. Virtual que seja, mas foi traição consumada no dia seguinte do fim.

Ana, pobre Ana.

Mais tempo se passou.

Ana acordou naquela manhã sentindo um vazio, um vazio diferente do que costumava sentir as noites sem o beijo e as manhãs sem seu sorriso gostoso, quando lembrava de Antônia. Lembrava do toque de suas mãos no seu corpo, de seus lábios macios e ardentes, do seu sexo quente a fazendo explodir de amor e paixão.

Por um instante, um segundo que pareceu uma eternidade, Ana se viu no espelho. Susto!

Foi o que levou Ana. Ela se viu e não reconheceu quem era aquela figura amargurada, desfigurada pela dor, pela falta de amor próprio, branca por não ver o sol.

Mais uma vez Ana se olhou. Procurou a Ana que costumava a ser, com sorriso nos lábios, vontade de viver a vida como secada dia fosse o último.

Ana parou. Pensou. Finalmente pôde perceber que esse vazio que estava sentindo era a ausência. Não a ausência de Antônia, mas a ausência de si mesma.

Ana viveu tão intensamente por Antônia que esqueceu que tinha vida própria, que precisava ser ela mesma por ela.

Ana se deu um não. Não mais ficaria esperando por alguém que não a merecia, que nunca mais se daria por inteira, que não mais deixaria a ausência de si tomar conta do seu ser.

Ana viveu e foi feliz, pelo menos achava que estava sendo.

O que viveu, valeu. Mas não vale se ausentar de si mesma por ninguém.

Antônia, hoje, não está mais feliz do que Ana. Ana não é mais infeliz por Antônia.

Zanellinha
Enviado por Zanellinha em 15/07/2009
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