Elisa

Seu nome era Elisa, mas todos a conheciam por Gigi.

Durante algum tempo, pude admirar o grande amor que essa mulher tinha pela vida, quando passava pelo corredor da vila onde morava com seus dois filhinhos. Elisa era uma mulher esforçada como toda aquela que não tem marido, uma verdadeira artista, que faz das tripas o coração para ver seu lar provido dos essenciais básicos. Possuía uma bela aparência, nem muito alta, nem muito baixa, porém seu rosto já dava sinais de uma vida não muito fácil. Seus vizinhos olhavam-na com reticências, pois não admitiam o horário que ela voltava do trabalho, deixando os garotos o dia todo com uma conhecida e velha babá. Pobres fariseus, não enxergavam um palmo à frente do nariz!

Passaram-se algumas semanas, e Gigi com seus dois filhinhos sumiram da vila.

Onde poderiam estar?

Será que Gigi melhorou de vida?

A curiosidade me fez indagar a alguns amigos da rua, mas ninguém sabia do seu paradeiro, até que encontrei o velho Antonio, um varredor antigo que sabia tudo sobre todos daquele lugarejo.

Perguntei -lhe:

_ Seu Antonio vc tem visto a Gigi?

_ Gigi viajô pras Seuropas, seu Roberto.

_ Mas, como? Ela era pobre, com que dinheiro?

_ Um tal de Frederico bancou ela, com passaporte e tudo...

_ E os filhos?

_ Não sei não Seu Roberto, acho que eles ficaram por aí, pois continuam no colégio...

Fiquei intrigado com aquela história, mas achei melhor ficar calado, pois o que eu poderia fazer, nem mesmo parente eu era. Pensei comigo mesmo, cada um tem sua própria vida, e nessa história ainda não fui solicitado, melhor cuidar do meu blog...

A vida continuava a mesma na vila, os fariseus dando palpites em tudo. Aliás coisa terrível é comunidade quando se junta para falar mal de alguém, um probleminha torna-se um problemão, ninguém alivia, quem mais inventa mais se notoriza. Eu achava graça, pois embora não participasse daquele bate-boca, queria resposta sobre algumas curiosidades, e pra isso ninguém melhor que o Seu Antônio.

Certa manhã acordei, olhei pela janela do quarto e vi uma rodinha em frente a banca de jornal. O que estaria acontecendo para deixar aquele povo tão excitado, aquela hora da manhã? Tomei meu café, e resolvi ceder ao espírito investigativo. Fui até a banca de jornal, e o que vi!

Lá estava em primeira página o retrato de Gigi!

O que aconteceu?

Por que isso?

Comprei pelo menos dois jornais, para conferir a notícia. Ao ler a matéria, fiquei sabendo do que se tratava:Tráfego de mulheres. Gigi havia sido levada a Europa para prostituição!

Uma dor cortou meu peito. O que ela estaria passando, longe dos filhos, talvez com dificuldades para voltar! Lendo melhor a notícia, descobri que ela tinha se tornado uma grande heroína, pois tinha ajudado a polícia da França em desmantelar a maior quadrilha de agentes de tráfego de mulheres na Europa.

A notícia dizia também que Elisa havia arriscado a própria pele, para retornar ao seu país e ver novamente seus filhos! E terminava assim: o detetive francês que investigava o caso do tráfego, acabou se apaixonando por Elisa.

Fechei o jornal e suspirei.

O que faz o amor!

Estanqueiro
Enviado por Estanqueiro em 15/07/2009
Reeditado em 29/01/2021
Código do texto: T1700291
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