A CHUVA

Tinha em seu colo uma gota da chuva, e outra em sua têmpora

mais uma e outra sucederam em desacato a gravidade

Chovia. O céu chorava e ela sorria, gargalhava agora

perdeu o tino, o coração já perderá há muito,

muito tempo de agonia. Muita água, em seu rosto, batia

não se lembrava mais da sensação, do beijo, do gosto

do rosto no rosto, da música vadia

não percebia agora, se era noite ou dia

só sabia que chovia

Velha senhora do tempo,

rugas enrugadas em entropia

pela vida que se foi, pela chuva que caia

pelo homem que se fez presente em uma noite qualquer,

distante no raiar do dia

deixou uma marca indelével, incólume

no colo, mais precisamente no seio

chorou como a chuva, mas hoje gargalha vadia

percebeu que renascera de um mausoléu

seu sarcófago abrira. Estava ainda jovem e cheia de vida

estava lá, e ninguém percebia

ela não percebia.

Percebeu

Esperou de mais pela nova noite de orgia particular

Não veio. Chorou como a chuva

Agora ria

Talvez tarde demais, ou não, ou ...

Dane-se

Estava viva,

E chovia

Dizem mestres antigos

A água lava tudo, tudo leva, pedra, galho

Covardia.

Levou e trouxe coragem e, arredia,

Olhou pro céu, bradou em blasfêmia:

"Não me matou

Estou viva."

Gargalha

E a chuva cai

Ainda.

Ita poeta
Enviado por Ita poeta em 04/07/2009
Reeditado em 04/07/2009
Código do texto: T1681448
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