Do Amor - da tarde, da vida
É, talvez seja mesmo do afeto em um abraço se entregar. Os braços parecem enrijecer. E o tempo parece não se mover. Parece, pois se arrasta lentamente, sem pressa frente aquelas vidraças – de lojas que nunca entraram, de manequins que nunca provarão.
Era uma tarde, eram duas vidas – uma única razão. Abraçados, de mãos dadas, acompanhados apenas por suas risadas, passos demorados sabiam do valor daquele dia: há muito tempo sorrir assim já não sabiam. Talvez separados nunca saibam.
E lhes entenderão apenas aqueles que um dia se depararem com um sentimento como o deles. Talvez sim, se souberem reconhecer o valor e a raridade de uma estrela tão magna, de cadência sem fim; talvez não, se desperdiçarem a melhor chance que poderiam abraçar de sorrir sem razão, unicamente pelo fato de estarem juntos, amados assim.
É preciso dar chance à poesia. Às vezes somente mesmo a apatia é quem domina a nossa paz interna, talvez mesmo a nossa singela harmonia. E alguém precisa mostrar que talvez não precise ser assim, que é desejável mudar e reinventar conceitos velhos, vocábulos perdidos, encontrar novos significados.
É preciso algo maior pra dar sabor aos nossos dias. Valor, calor, afeto. É preciso alguém que dê razão ao novo dia, que está por vir e talvez mesmo não venha, mas quantas não são as incertezas que nos rodeiam? É preciso ter sorte para poder baixar as cartas à mesa e arriscar? É preciso ter fé – em si mesmo, talvez.
Se doar, se entregar não é mais uma opção. Quem mesmo na vida quer passar por outrem em vão? Eles não, definitivamente. E lá estavam a andar juntinhos, tanto tempo que não se viam, tanta saudade que mal no peito cabia, tanta coisa pra falar que o peito então comprimia!
Saudade, afeto, carinho, oração. Saberão os outros que aquele era um momento decisivo para aqueles sorrisos, pois, ao som de uma banda qualquer, sabiam desde o início – inclusive quando não havia quase nada – que a vida não é um teste, mas uma lição: verdadeira, imprevisível e intensa.
E o tempo lhes mostrou isto naquela tarde – e durante todo aquele ano –, mostrou o que as fotografias, as imagens, as memórias e os sorrisos não deixavam de explicar: aquele era o tempo, era o tempo de suas vidas.
Talvez não haja futuro sem aquele sorriso, passado verdadeiramente não há – pois os dias antecedentes foram somente longos dias, de apatia e de solidão, bem como os outros eram só os outros, eram apenas uma feliz desilusão.
Talvez naquele olhar eles sempre encontrem paz. Aquela tarde foram sorrisos, carinhos e beijos que não se esquecerão, certamente: foi de poesia e harmonia, foi intenso, foi de alegria a vida que escolheram para os dois.
E é só o começo.
Esta história, caro leitor, é diferente – ela não tem fim. Pois não precisa ter fim.
Um ano se passou desde que prometeram ser primeira do plural, talvez ali possa ser tido como um marco inicial realmente: ali, entre coqueiros, ondas e luar, naquela praia teve início, de fato concreto o abstrato daquele sentimento que só ouviam falar - em livros, filmes e músicas.
Mas entre as risadas e sorrisos em uma lanchonete qualquer, eles descobriram que ali era apenas mais um começo.
E para eles talvez não exista mesmo o fim, pois se amam e todo encontro é um novo recomeço, uma nova razão para se entregar à sensação.
É do amor se entregar.