O Triste fim de Alice
Seu nome era Alice, alta, magra e bonita, os olhos castanhos escuros realçavam sua pele branca como a neve, e seus longos cabelos cor de chocolate eram compridos e bem cuidados. Ela sonhava em ser artista plástica, adorava desenhos e pinturas. Estudava pintura em óleo sobre a tela á tarde na escola de artes perto da sua casa. Tinha 19 anos e muitos sonhos. Ela não pensava em namorar, não queria perder seu tempo com os garotos babacas de hoje, assim ela julgava os homens. Todos babacas que não resistiam a uma Loira gostosa, para que iria namorar um deles? pensava consigo mesma. Ela não era apenas um pedaço de carne. Era uma mulher dotada de sentimentos e qualidades por trás da aparência há um ser humano. Os homens pensam " Há uma gostosa por trás daquela imagem" e de tanto pensar assim, não sentia falta de namorar alguém.
Os dias transcorriam para Alice, estudava, saia com as amigas, gostava de fazer academia, cuidar de seus gatinhos. Amava a vida e as pessoas que faziam parte dela. Sentia-se feliz, mas quando estava só, faltava algo para completá-la..e pensava com seus botões: Será que queria namorar um babaca? aff..não pode ser!!! logo, corrigia esse pensamento e pensava em outras coisas.
Andando distraídamente pelas ruas estreitas de São Paulo, cheia de cadernos e com seu material de pintura, esbarrou em algo e quase caiu. Mas quando iria dar com o rosto no chão uma mão a segurou pelo braço, impedindo de se machucar. Ela olhou para trás e viu um rapaz, bonito, alto, cabelos castanhos claros e olhos azuis da cor do mar. Nossa, que visão teve Alice. Pensou imediatamente: Esse pelo menos parece ser um babaca legal, bonito ele é. Ele se apresentou, chamava-se Rodrigo e era estudante de Medicina, residente no sexto ano. Ela achou interessante, um babaca médico, bonito e educado. Estava com sorte. Mas era sorte encontrar um babaca ao acaso?
Eles conversaram, descobriram muitas coisas em comum. Saíram uma vez depois do esbarrão no centro, depois os encontros passaram a ser frequentes e engataram um namoro. Alice, a feminista, namorando um babaca médico, assim ela pensava. Pelo menos não era burra. Logo de cara, já tinha tirado a sorte grande. Rodrigo era mais que um bom partido. Era o homem perfeito. Suas amigas morriam de inveja, pois ela fazia questão de desfilar com aquele homem bonito. Era um casal que chamava atenção.
Alice e Rodrigo já tinham completado um ano de namoro. E Alice mudou sua maneira de enxergar os homens. Agora, achava todos babacas, com exceção de Rodrigo. Mas logo as dúvidas começaram a assaltá-la, sentia medo de seu namorado deixá-la. Sofria com essa hipótese. Pensava nele, com aquele Jaleco branco, com o seu sorrisso encantador e não sabia se ria ou chorava. E se alguma mulher roubasse seu Rodrigo? tinha que confiar nela e nele, mas do jeito que o mundo vai, sentia a desconfiança sufocar seu coração. Com medo de sofrer, Alice mudou com Rodrigo, já não era mais carinhosa, só cobrava tempo, ficou ciumenta e ela não precisava daquilo era bonita. Seu namoro entrou em crise. Já não pensava mais em si mesma, só em Rodrigo e chorava porque sabia que estava errada, só estava apressando o término.
Um dia, Alice saiu para assistir suas ultimas aulas na escola de arte. Estava andando olhando as pessoas, os carros, a desgraça alheia, o céu, quando uma tontura a fez cair no chão. Pensou: Deus o que será que aconteceu? estava tão preocupada com Rodrigo que chegou a desmaiar. Foi socorrida pelos pedestres. Foi ao médico em seguida. Ele perguntou a ela se estava alimentando-se bem e se estava sobre stress. E ela respondeu: Doutor, não consigo comer. Só tenho enjôos, tontura e vontade de dormir. O Médico riu, e disse: acho que sei o que você tem, mas pedirei o exame para ter certeza. Ele olhou para ela : Acho que você está grávida.
___Grávida, Doutor? como?
___Ora, seus sintomas são de gravidez, mas o exame confirmará minhas suspeitas. Volte daqui a uma semana.
___Sim, farei o exame, mas acho que só estou nervosa. Não posso ser mãe agora. Sou nova demais.
___Eu entendo, mas semana que vem nos falamos.
___Boa sorte, Alice.
___Obriagada, Doutor.
A hora que saiu do consultório, só queria chorar, 20 anos e com um bebê na barriga. Não cuidava nem dos seus gatos. Tinha apenas dois, mas pareciam vinte. Era preguiçosa, só se interessava em pintar. Não queria trabalhar para sustentar um bebê e Rodrigo o que acharia daquilo? será que ficaria feliz? ele já estava com 25 anos, talvez fosse uma boa hora para ter uma família. Pensou e achava que ele ficaria contente.
Dali, a uma semana teve a confirmação. Estava grávida de dois meses. Iria se encontrar com Rodrigo. No começo não queria aquela gravidez, mas achou que aquele bebê enlaçaria Rodrigo para sempre. Ela não desejou a gravidez, mas aconteceu. Chegou ao local, onde tinha marcado com Rodrigo. Era uma praça. Estava feliz. Rodrigo antes de se dirigir a praça pensou muito em Alice e achava que já era hora de por fim naquele relacionamento sufocante e além disso a enfermeira Natália já jogava um charme para ele. Ela era bonitona e encorpada. Sentia-se atraído por ela e resolveu que naquele mesmo dia, terminaria com Alice. Não queria trair a namorada, por isso antes de cair nos braços da Loura, iria fazer as coisas certas.
Quando chegou, Alice parecia agoniada e feliz. A beijou e disse a ela que tinha algo importante a dizer, Alice o interrompeu e quis falar primeiro, ele concordou.
___Amor, eu estou grávida. Tive a certeza hoje. Trouxe o exame para não restar dúvidas. Talvez não fosse o momento, mas aconteceu. Rodrigo, ficou amarelo, verde, roxo, não sabia nem ao certo o que falar. Estava chocado. Era muito novo para ser pai e como ficaria a enfermeria que queria namorar? respirou profundamente e disse á Alice: __Você é uma ordinária. Sabia que o namoro não estava legal e para me prender usa essa barriga para me chantagear? você não tem vergonha? acho que vou me casar com uma louca ciumenta e possessiva e também você nem é tão bonita. Não se cuida. No começo do namoro, você era uma princesa e agora parece uma bruxa. Imagina quando estiver grávida? irá parecer uma baleia que fugiu do mar. Falava as palavras rapidamente, sem pensar. Estava revoltado.
Alice, ficou profundamente triste e disse que ele era injusto e havia se enganado, o seu Rodrigo também era um babaca. Ela chorou. Só conseguia chorar compulsivamente, chorava tanto que não conseguia respirar. Rodrigo a olhou e disse: __Quero terminar. Se você quiser ter o bebê será por sua conta. Mas eu conheço um lugar onde podemos resolver esse problema. É o ideal. Não quero ser pai. Alice imediatamente se revoltou. __Eu terei o bebê, não preciso da sua ajuda. Me esqueça.
Alice, saiu da praça desconsolada. Como ia fazer agora? seus sonhos estavam ameaçados por um bebê. Sabia, que tinha errado com Rodrigo, mas só queria se proteger. O que faria? e além de tudo amava Rodrigo, ele era seu primeiro amor. Teria que contar aos seus pais. Teria que trabalhar. Enfim, agora seria mãe. Tinha que ter responsabilidades. Como iria se sair? não sabia. Mas concerteza passaria a cuidar das suas duas gatas, Nana e Nina que não dava mais atenção a elas.
Alice, depois de duas semanas contou a seus pais que ficaram desconsolados. Porém, resolveram apoiá-la. Carlota, sua mãe saía com Alice para comprar as coisas para o bebê. Apoiava a filha e dizia a ela para não se preocupar. Encontraria um homem de verdade, pois Rodrigo era um babaca. Alice riu tristemente. Sua mãe é que lhe dizia que todos os homens eram babacas. Mas Alice, foi que se sentiu uma babaca, confiou no primeiro homem que apareceu com juras de amor e havia sido abandonada. Aquilo corroía sua alma, a fazia sufocar e depois se entregava a tristeza.
Rodrigo estava namorando Natália, a enfermeira bonitona. Ela era muito atraente. Rodrigo sentia-se um Rei na presença daquela mulher. Achava que era um homem sortudo. Tinha esquecido Alice. Ela também nunca mais ligou. Simplesmente desapareceu. Não sabia se ela tinha feito o aborto, mas isso era um problema dela. A culpa era dela. Apesar que um bebê só é gerado por duas pessoas, mas é a Mulher que sempre quer ou não engravidar. Pensava assim, como se o espermatózoide fosse inocente nisso tudo.
Alice já estava com cinco meses de gravidez, tinha amadurecido. Cuidava das suas gatas Nana e Nina. Elas eram companhias maravilhosas. Sentia-se feliz na presença delas. Fazia artesanato, crochê para o bebê, mas não saía mais de casa, a não ser para as consultas médicas. Já não tinha mais vontade de conhecer pessoas ou lugares. Depois não sentia mais fome apesar de estar grávida. Só sentia tristeza e ódio. Era um ódio profundo que vinha das suas entranhas. Achava a vida injusta. Pensava em Rodrigo, ele estaria se divertindo, mas jamais iria procurá-lo. Ele a tinha humilhado demais e não quis mais saber dela e do seu bebê, que era um menininha. Lamentava por ser menina, muher só nascia para sofrer. Queria um homem para humilhar Rodrigo.
Aos poucos, Alice parecia uma zumbi. Estava no oitavo mês e a sua gravidez a aborrecia. Sentia-se infeliz. Agora não saia mais do quarto, nem para comer e nem tomar banho. Deixou as duas gatas para lá. Nada mais a incomodava. E aquele profundo estado de Depressão por incrível que pareça trazia uma paz imensa para a sua alma. Tinha deixado de fazer o pré natal. Sua mãe ao vê-la naquele estado ficou desesperada. Alice, cada dia piorava mais. Pegou um resfriado e passava o dia todo na cama. A tristeza profunda da sua alma tinha baixado sua imunidade. Alice, gostava de ficar só. No começo quando descobriu-se grávida achou que seguiria forte pelo bebê, mas com o tempo a dor do abandono e o ódio profundo começaram a minar suas forças dilacerando sua alma. Sentia falta de Rodrigo e ao imaginá-lo com outra chorava muito, destruía seus artesanatos. Entrava em choque e depois ria da sua idiotice. Como pôde ser tão estúpida? e as crises de choro e raiva estavam a sugando provocando desespero, a dor só passava quando dormia. Não era uma mulher forte como imaginava. Alice, tinha 21 anos, mas a dor transformou sua fsionomia, estava acabada.
Rodrigo agora era obstetra e fazia partos. Estava em uma fase ótima. Ia juntar dinheiro para o casamento com Natália. Ela era diferente de Alice, era vaidosa, se vestia para provocar, se valorizava. Estava sempre o surpreendendo. E além do mais era bonita, linda, sedutora. Enquanto Alice parecia uma garota mimada e sem vaidade. Muitas vezes achava Natália fútil demais, ela só queria comprar roupas, jóias, sapatos, queria sempre conhecer um lugar novo. Rodrigo sempre bancava seus caprichos. Achava que esse era o preço por ter uma mulher deslumbrante. Gostava de Natália, mas com Alice tinha mais afinidades e ela também era mais inteligente. Não sabia mais nada sobre Alice e resolveu seguir com os preparativos do casamento.
Depois de horas desgastantes no Hospital, Rodrigo combinou de encontrar Natália em um shopping, mas como estava cansado, resolveu adiar e ficar no Hospital ajudando outros médicos a atender aos pacientes. Natália, não achou ruim. O Doutor Tiago apareceu na sala de Rodrigo e falou: __Amigo, vai para casa. Hoje foi um dia desgastante. Você não vai casar? vá para casa curtir sua mulher. Eu ficarei aqui. Você está trabalhando demais. Rodrigo concordou e agradeceu. Pensou em passar em uma floricultura e escolheu um arranjo de rosas vermelhas para Natália. Ia chegar de surpresa para fazer a alegria dela. Dirigiu-se até o carro, chegou no prédio, estacionou, subiu o elevador, abriu a porta devagar, mas Natália não estava lá. Aonde estava Natália? ficou confuso, tudo estava silencioso, mas aproximando do quarto de casal ouviu uns barulhos e abriu a porta, imediatamente o buquê caiu de suas mãos. Natália estava o traindo com o seu colega do Hospital. Foi um choque. Ela tentou se explicar colocando as roupas, mas ele não quis e disparou:
___Você é uma vagabunda, uma prostituta, safada, sem vergonha. Nunca mais quero olhar para você. Você não presta, tenho nojo de você. Você é vulgar e imunda.
___Rodrigo, por favor, foi só uma atração mas eu amo você. Por favor, amor me perdoe.
Rodrigo a olhou com repugnância e começou a chorar. Resolveu trabalhar. Iria ser difícil esquecer aquela cena. Assim que chegou viu uma garota abatida na maca grávida. Naquele momento foi absorvido pela responsabilidade médica e preparou a sala para fazer o parto. Pediu a ficha da garota, mas quando a viu, ficou estagnado. Era Alice. Estava abatida e sentiu uma culpa, remorso, dor, tinha sido um tolo. Iria fazer o parto de seu filho. Examinando Alice percebeu que estava doente e optou por uma cesária. O parto estava difícil. Alice, começou a ter uma hemorragia e ele não pode salvá-la. O bebê nasceu com oito meses e era prematuro, estava muito debilitado. Foi mandando á U.T.I. Depois de uma hora, Alice morreu para o desespero de Rodrigo. Na manhã seguinte, a outra notícia, sua filha também havia morrido, nasceu fraca e muito doente, não resistiu. Rodrigo se acabou de tanto chorar. Tinha matado as duas mulheres que amaram ele na vida. Agora, sabia que amava Alice. Ela não tinha pedido nada, nunca o perturbou, aceitou suas escolhas, só era ciumenta e ele por uma ordinária se deixou envolver. Não valorizou o amor de Alice.
Não teve coragem de ir ao enterro e de encarar a mãe dela. Agora, estava arrassado, a culpa era grande demais e começou a beber para suportar o rombo no seu coração. Odiava Natália. Sentia um nojo daquela mulher. E ela estava com outro, não sentia nada por Rodrigo, só queria status ao lado dele.
Rodrigo, depois de uma semana chegou ao cemitério onde estava enterrada Alice e ao seu lado sua filha que a avó da menina deu o nome de Angélica. Levou flores, depositou no túmulo das duas e caiu sobre a lápide de Alice e começou a chorar desesperadamente pedindo perdão, sufocando pelo remorso. Já era tarde para perceber que o amor verdadeiro era valioso e agora não tinha mais nada, nem a si mesmo.