A viagem

Júlia entrou e lá estava ele...

- Será que eu já o teria visto? Será que todos o viam?

Ele viu que ela também o viu, pois ele a todo tempo fitava o olhar à sua volta. Júlia faltou pensar alto de tanto pensar.

- Será que olhava para o nada, para o além de mim, ou realmente acompanhava meus passos?

Quanto encantamento! Ela chegou a duvidar do que podia ser aquilo... - mal sei se há algo! - pensou Júlia podando seus próprios pensamentos.

Júlia não sabia se adormecera ou se despertara, sabia apenas que estava sendo olhada. Caminho longo, conversas, balanços e ela, completamente, balançada.

Paixão, tesão, encanto, curiosidade!?

- Não me encontro, não te encontro. - Júlia já confabulava todo futuro que a esperava, na viagem do dia seguinte não havia encontrado o par de olhos que a fitava. - Seus olhos se perdem nos meus ou será que não o buscam mais?

Mais um dia e nada! O desencontro era alvo naquele momento, Júlia não o vira durante alguns dias.

Um dia então:

- Te encontro, me perco! Te vejo, e não sinto, não penso nem ajo. Não sou... estou... você está? - os pensamentos de Júlia viajavam ao lado daquele rapaz e seu corpo há metros de distância.

Acaba a viagem, mas amanhã terá que chegar outra vez e haverá de mirar novamente seus olhos nos dele.

Não se sabe se ainda olhará para ela com tamanho desejo. E não olhou! Pois não o viu naquele dia. Não, esperem, ela viu!

- Vi! E fui vista! - Júlia estava deveras emocionada com o olhar do rapaz. Ele, mais corajoso, digamos assim, fez sinal pedindo para que a acompanhasse ao descer. E desceu, desceram! Mas de onde afinal?

Júlia estava nos céus, sorria feito uma criança que vê o arco íris pela primeira vez. Ele a abraçou tão docemente, e ela, perdida, se encontrou em seus braços. Quantas abraços se deram naquela manhã.

A viagem acabou outra vez, hoje Júlia não está sozinha, os tais olhos foram com ela.

- O fim desta viagem é mais feliz ou mais triste? Ora Júlia, isso relamente importa agora? Olhe esses olhos em sua frente, meu Deus que olhos! - Júlia nunca tinha visto tamanha verdade e desejo em um único olhar.

- Nos acompanhamos... em vão (?) Mas será possível! Júlia tenha paciência, respire, mantenha a calma, no final tudo vai dar certo. - pensava Júlia com os olhos arregalados para si mesma. Puxa, como era pessimista!

Na viagem seguinte aqueles olhos estiveram mais perto, cada vez mais próximos, a respiração parecia uma só. Tudo estava ao lado, não só em pensamentos, os corpos próximos, mas não como anteriormente. A viagem se tornara mais curta, e daquele momento em diante tudo era curto menos o momento em que tinha a ausência de seus olhos.

Júlia, envolvida em tamanha insegurança, deixou escapar de si aqueles olhos que lhe traziam verdade, ela o deixou ir.

Da maneira que foi vista e quista foi também esquecida. O balanço da viagem é o único balanço que há, nada mais há de balançá-la como aquele olhar.

A viagem tornou-se ainda mais longa, as pessoas até mais tristes e seu querer já nem existia mais. As folhas das árvores caíram, as flores do jardim murcharam, tudo secou em seu ser.

Cor, Júlia havia encontrado naqueles olhos, mas os tinha perdido, os deixara se perder. A próxima viagem já vai chegar, ela tem que se preparar e ir, afinal ele ainda pode estar lá.

AnaNunes
Enviado por AnaNunes em 12/06/2009
Código do texto: T1645479
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